Índios de várias partes do mundo participaram de cerimônia de Acendimento do Fogo Sagrado
Um Maori, indígena da Nova Zelândia, faz careta para mostrar força interior

Marcelo Brandão
Enviado especial da Agência Brasil

PALMAS - Poucas pessoas compreendiam o que se passou nessa quinta-feira, 22, na Praça dos Girassóis, no centro de Palmas, mas de uma coisa todas tinham certeza: aquele era um momento único, singular na história dos indígenas de vários países. Em que outra oportunidade as etnias Guna (Panamá), Txche (Nicarágua) e Manoki (Brasil) dividiriam o mesmo ritual? E quando pensaríamos ver os Maori, da Nova Zelândia e os Xavante, brasileiros, frente a frente?
A Cerimônia de Acendimento do Fogo Sagrado, que antecedeu a abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI), misturou indígenas brasileiros, argentinos, bolivianos, neozelandeses, panamenhos e muitos outros em uma miscelânea de cores, cantos e danças. Hoje, o povo de Palmas e de várias partes do mundo pode ver a dimensão desse evento.
Várias etnias chegaram à praça para a cerimônia do Fogo Sagrado por volta das 17h20 e, antes do ritual começar, vários indígenas abriam rodas, cantavam e dançavam em apresentações completamente espontâneas e simultâneas. Filmando e fotografando, centenas de pessoas tentavam entender o que se passava e acompanhar tudo que acontecia.
“Eu acho perfeito trazer esse evento para cá. É um marco histórico para a cidade”, disse o servidor público Alex Tosta, 36. O piso da praça, inclusive, traz vários desenhos de tribos do estado. Segundo a organização dos jogos, a praça foi escolhida pelos deuses indígenas para o acendimento do Fogo Sagrado e, por isso, o local só foi divulgado horas antes de sua realização.
Pouco antes das 18h, o articulador dos JMPI, Marcos Terena, reuniu as várias tribos para o início do ritual sagrado, enquanto a população local se aglomerava para entender o que se passava. O fogo estava sendo preparado. Então, os Maori iniciaram um ritual tradicional. Fazendo caretas e empunhando lanças e outros objetos, os Maori abriam caminho entre a multidão e dominaram as atenções. Homens brancos e índios assistiam fascinados à performance neozelandesa.
“Tentamos mostrar nossa força interior arregalando os olhos e pondo a língua para fora. É para apresentar quem somos, quão forte amamos as pessoas e o quanto queremos doar aos outros. Somos muito espirituais. Então, antes que tudo aconteça, o caminho espiritual precisa ser limpo. Depois disso, nós sorrimos e falamos com as pessoas”, explicou o sorridente maori Thomas Strickland.
Então, os índios Xavantes, em frente aos Maori, começaram seu canto e uma cena improvável acontecia. Maoris encarando e Xavantes cantando, frente a frente, olho no olho. Após esse momento, uma roda se abriu para o acendimento do Fogo Sagrado. Ao modo tradicional, provocando faíscas no atrito entre um graveto e uma pedra, o fogo foi aceso, já no início da noite.
Com isso, uma verdadeira festa teve início, com várias tribos dançando ao redor do fogo, celebrando o momento. “O fogo, para todos os povos do mundo, é extremamente importante. É um conhecimento milenar em todos os povos. E ele é vida, é energia, tem uma energia espiritual e em torno dele se unem todos os povos”, disse a indígena Joana Munduruku, integrante do Comitê Intertribal.
O Fogo Sagrado foi retirado da praça e levado à Arena Verde dos JMPI durante a abertura oficial do evento. Aos poucos, indígenas, moradores da cidade e turistas deixaram a praça, cientes de terem presenciado um acontecimento inédito e marcante em suas vidas.