Campinas (SP) - A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) não se conteve em declarar: a Toro é o projeto mais ousado e a maior aposta da marca italiana nos últimos anos. A picape chega ao mercado num segmento inédito, maior que as compactas, menor que as médias, prometendo incomodar a todos. Um atraso na conclusão no projeto deu espaço para a Renault Duster Oroch chegar primeiro. No entanto, a picape da Fiat oferece mais espaço, opção de motor diesel e tração nas quatro rodas. A Fiat Toro tem preço inicial de R$ 76.500 na versão Freedom 1.8 Flex com câmbio automático de seis velocidades.
O preço da versão top de linha denota a importância do lançamento. A Toro Volcano 2.0 Turbodiesel 4x4 AT9 tem valor inicial de R$ 116.500. Isso mesmo. um modelo desenvolvido pela Fiat alcançando um patamar elevado. E não só no preço e powertrain: o design arrojado chama bastante atenção, com linhas bem diferentes do que é criado no Brasil.
A Fiat está bem animada com a Toro. A expectativa é vender 50 mil unidades no ano cheio (ou seja, para 2017!), além de exportar pelo menos 10 mil veículos. O mix de vendas planejado é de 60% para os motores diesel e 40% para a flex. Considerando as quatro versões, 30% para a Volcano, 40% para Freedom 1.8 Flex, 18% Freedom 2.0 diesel 4×2 e outros 12% para Freedom 2.0 diesel 4×4.
A Toro vai buscar essas 50 mil unidades anuais em várias frentes. O veículo foi desenvolvido para agradar homens e mulheres, jovens, adultos, idosos, diz a Fiat. Essa estratégia é elaborada com o visual contemporâneo, mesclado com o estilo rural da caçamba típica das picapes. Assim, a ideia é um veículo tanto para o uso urbano, como para o rural, evidenciado pela opção de tração 4x2 e 4x4 e motores diesel e flex. Vai dar certo? O mercado dirá.
Versões e motores
Para a Fiat, o veículo é um SUP, Sport Utility Pick-Up (Picape Utilitária Esportiva). Trocando em miúdos, um SUV com caçamba. A Toro foi desenvolvida a partir da plataforma do Jeep Renegade, assim reúne as características dos dois tipos de veículos: tem a dirigibilidade e robustez de SUV, com a caçamba e capacidade de carga das picapes. Porém, a Toro é maior, com 4,91 metros de comprimento, 1,84m de largura, 1,74m de altura e 2,99m de distância entre-eixos.
São quatro versões para a Toro. Além da entrada e top de linha que já citamos, há a Freedom 2.0 diesel com câmbio manual de 6 marchas 4x2 (R$ 93.900) e 4x4 (R$ 101.900). Também há uma serie especial de lançamento: Opening Edition 1.8 flex AT6 (R$84.400).
Além da plataforma, o Jeep Renegade empresta os motores para a Toro. Inclusive os dois modelos são fabricados na planta de Goiana (PE). A picape tem opção do 1.8 E-Torq flex, retrabalhado para render até 135cv (gasolina)/139cv (etanol) e torque de 18,8kgf.m (g)/19,3kgf.m. Os novos números correspondem a um ganho de 7cv e 1kg de torque. A versão flex é disponível apenas com câmbio automático de seis velocidades.
O motor 2.0 turbodiesel tem potência de 170 cv a 3.750 rpm e torque máximo de 35,7 kgfm, já com 1.750 rpm. Na Toro, há opção de câmbio manual de seis velocidades com motor diesel, algo inexistente no Renegade. A top Volcano tem câmbio ZF automático de nove marchas.
Entre os itens de série desde a versão de entrada, estão ar-condicionado, direção elétrica, rodas de liga leve 16 polegadas e quadro de instrumentos de 3,5 polegadas em TFT. Também são de série o controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas e isofix para cadeirinhas infantis.
Fizemos um rápido teste drive na Toro na região de Campinas (SP) e foi possível comprovar que ela tem uma ótima direção, mais para um carro de passeio que picape, principalmente na estabilidade. A suspensão também transmite poucas imperfeições aos passageiros.
Já em relação ao desempenho, os 7cv a mais na potência e 1kg no torque do motor 1.8 Flex não refletiram numa melhor experiência ao volante. O motor consegue movimentar o veículo, mas sem emoções. Isso é fruto do peso da picape. São 1.619kg na flex, 1.779kg na 2.0 diesel manual 4x2, 1.788kg na 2.0 diesel manual 4x4 e 1.871kg na Volcano. Inclusive, também a versão diesel fica comprometida no desempenho. Na opção com câmbio manual diesel, os engates são curtos e precisos, mas a embreagem da unidade estava mais dura. Outro inconveniente é acústica, que não abafa o ruídos dos dois tipos de motores. Quando o veículo for cedido para avaliação poderemos verificar melhor o desempenho e o consumo das diferentes versões da toro.
Uma solução interessante está na suspensão traseira. Ao invés de eixo de torção, a Toro vem com tipo Multlink adaptativo. A tecnologia garante uma maior estabilidade e conforto. (PS: a Oroch também tem Multilink na traseira). A engenharia da Fiat trabalhou para que o equipamento tivesse boa capacidade de carga: são 650 quilos na flex, enquanto a diesel pode levar até uma tonelada.
A caçamba tem capacidade para 820 litros de carga e é revestida de série em todas as versões. A tampa traseira tem uma solução diferente do adotado no mercado. Ela abre em dois estágios na vertical. A peça é leve e fácil de operar; a Fiat vai vender um opcional que permite ampliar o volume de carga para em mais 405 litros.
A estrutura do veículo é do tipo monobloco, ao invés de chassi e longarinas dos utilitários. Isso garante uma direção mais próxima de um carro de passeio, além de maior rigidez torcional. Aliado ao uso de aços nobres, a expectativa da marca é que a Toro ganhe boas notas nos testes de impacto, como o LatinNCAP.
Vida a bordo
Apesar de menor que as picapes-médias, a Fiat Toro dá um grande salto em espaço em relação às compactas. O modelo leva cinco pessoas com relativo conforto, mas o ideal mesmo são quatro. Há encosto de cabeça e cinto de segurança para todos e o carro oferece Isofix para cadeirinhas de criança. O espaço atrás é semelhante ao de carros de passeio, melhor até que algumas picapes médias.
O painel é bem semelhante ao do Renegade, em especial os controles do ar-condicionado, painel de portas e quadro de instrumentos. Sob o banco do passageiro da frente, há um interessante porta objetos, oculto no assento.
O acabamento é muito bom em todas as versões, mas incomoda o plástico duro na parte superior do painel. No Renegade, essa mesma peça tem textura mais sensível ao toque. Para um carro de R$ 116,5 mil, deveria seguir exemplo do jipe. A central multimídia U-Connect tem tela de apenas 5”, menor que celulares top de linha atualmente. A situação fica mais incômoda na versão Volcano, que tem um quadro de instrumentos de 7” polegadas de série, maior que a tela da central.
Conclusão
A Toro tem bons atributos e pode agradar o potencial cliente que deseja uma picape, mas que não vai utilizar o veículo para o trabalho, até mesmo na estrada de terra. Tem direção semelhante ao de um carro de passeio, que ajuda na vida urbana. O design é incomum para os veículos nacionais e promete incomodar desde quem pretende comprar uma compacta top de linha ou uma média de entrada. E até mesmo quem deseja um SUV, mas quer ter maior possibilidade de carga de uma picape.
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