Júnior, Brito Miranda e Marcelo Miranda

Policiais federais prenderam ontem (26), em caráter preventivo, o ex-governador de Tocantins, Marcelo Miranda (MDB). Miranda foi detido esta manhã, em Brasília, no apartamento funcional ocupado pela esposa (que não é investigada), a deputada federal Dulce Miranda (MDB), e transferido para Palmas em um avião da Polícia Federal (PF).
Também foram detidos preventivamente o pai do ex-governador, José Edmar Brito Miranda, e o irmão de Marcelo Miranda, Brito Miranda Júnior. Segundo a PF, os três são suspeitos de integrar uma organização criminosa supostamente envolvida com corrupção, peculato, fraudes em licitações, desvio de recursos públicos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. 
Além dos três mandados de prisão preventivo, 11 mandados de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Federal de Palmas (TO) estão sendo cumpridos em endereços residenciais e comerciais ligados aos investigados. As ações acontecem, simultaneamente, em quatro cidades de Tocantins (Palmas, Tocantínia, Tupirama e Araguaína), três municípios paraenses (Santana do Araguaia, Sapucaia e São Félix do Xingu), além de Goiânia.
Batizada de Operação 12º Trabalho, a ação deflagrada esta manhã é um desdobramento de outras investigações que, de acordo com a PF, indicaram que os integrantes da família Miranda usaram sua influência política para "aparelhar o estado, mediante a ocupação de cargos comissionados estratégicos para a atuação da organização criminosa". Ontem (25), o ex-secretário extraordinário de Integração Governamental do Tocantins, Elmar Batista Borges, e a esposa dele, Tatiane Félix Arcanjo, foram presos na Operação Carotenoides. De acordo com a PF, Borges é suspeito de negociar a compra e venda de carros para regularizar dinheiro de propina recebido por Marcelo Miranda.
A ação desta manhã visa à obtenção de novas provas e a interrupção da prática continuada dos crimes de lavagem de dinheiro, empregando "laranjas" para dissimular a origem ilícita de bens móveis e imóveis, adquiridos, segundo a PF, com o dinheiro recebido a título de propina em troca de favores a empresários que mantinham contratos com o poder público.
Resultado de um trabalho conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e com a Receita Federal, a investigação aponta que a organização criminosa causou um prejuízo da ordem de mais de R$ 300 milhões aos cofres públicos.
Ainda de acordo com a PF, mesmo depois que as investigações vieram a público, o grupo prosseguiu realizando operações simuladas envolvendo o comércio de gado de corte e empresas de fachada, construção e venda de imóveis, tudo para ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, movimentação ou propriedade de bens, direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, das infrações penais.
Com o avanço das investigações, foi possível identificar que os ilícitos praticados pela organização criminosa estão agrupados ao redor de sete grandes eixos econômicos, que envolvem administração de fazendas e de atividades agropecuárias, compra de aeronaves, gestão de empresas de engenharia e construção civil, entre outros.
O nome da operação faz referência ao 12º Trabalho de Hércules, seu último e mais complexo desafio, que consistia em capturar Cérbero. (Com informações da Polícia Federal e Agência Brasil) 

Três vezes eleito, duas vezes cassado

Governador eleito do Estado, por três vezes, Marcelo Miranda foi cassado em duas. Governou o Estado de 2003 e 2009 e entre 2015 e 2018. A última cassação aconteceu por conta de material de campanha e 500 mil reais apreendidos em dinheiro no interior de Goiás. Ação ligada à campanha de 2018. Também eleito senador, Marcelo Miranda não assumiu por ser considerado inelegível. Em 2019 o ex-governador foi indiciado também pela Polícia Civil do Estado em inquérito que apura a existência de servidores fantasmas no Governo do Tocantins.       

Investigações conduzidas pela Polícia Federal contra Marcelo Miranda

REIS DO GADO (2016) - Investigou um esquema de desvio de dinheiro e fraudes em licitações públicas. Marcelo Miranda chegou a ser conduzido coercitivamente para prestar depoimento no caso. Parentes dele foram indiciados, inclusive, o pai, Brito Miranda. 

MARCAPASSO (2017) - Apurou fraudes nas licitações, cobranças por cirurgias na rede pública e até a realização de procedimentos desnecessários em pacientes para desviar recursos. O ex-secretario estadual de Saúde Henrique Barsanulfo Furtado um dos indiciados.

CONVERGÊNCIA (2017) - Marcelo Miranda foi indiciado em ação sobre fraude em contrato para construção de rodovias.

PONTES DE PAPEL (2018) - Investigou desvios destinados à execução de construção de pontes e estradas no Estado. 

LAVA JATO - Um delator da Odebrecht disse que o ex-governador recebeu da empresa, R$ 1 milhão para a camapnha de 2014.

Defesa nega acusações 

O advogado Jair Alves Pereira que defende o ex-governador Marcelo Miranda (MDB), o pai, Brito Miranda e o irmão, José Edmar Júnior questionou ontem durante conversa coma imprensa, a argumentação do Ministério Público Federal (MPF). "Estamos trabalhando para resolver. Os fatos são antigos, requentados, que não justificam uma ordem de prisão", defendeu. A defesa afirmou que vai pedir a liberação dos acusados na audiência de custódia, e caso,  não atendida, impetrar habeas corpus será ajuizado no Tribunal Federal Regional da 1ª Região.