PALMAS - Através de ofício enviado ao coordenador técnico do Comitê Intertribal Ciência e Memória Indígena (ITC), Carlos Terena, os caciques da comunidade Krahô anunciaram que a etnia não irá participar dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI), por entenderem que a organização do evento não está respeitando a tribo. O documento traz críticas à estrutura das instalações e condena a falta de informações sobre a programação.
Os índios Krahôs afirmam que os organizadores buscam utilizar o nome da comunidade para promover os gestores como apoiadores da causa indígena. “O que não é verdade”, disparam. Os caciques exaltam a realização de evento próprio para difundir os esportes tradicionais, realizado anualmente pela tribo. “Sem apoio nenhum dos órgãos governamentais que estão financiando esses Jogos Mundiais”, criticam.
Sobre os Jogos Mundiais Indígenas, os Krahôs alegam que a organização está construindo “instalações vulneráveis a chuva” e que o evento não apresenta informações detalhadas sobre a etnia. Também é criticada a ausência de orientação à etnia sobre a programação.
O documento ainda responsabiliza o governo federal por “promover” o “genocídio” da comunidade Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Os caciques Krahô também se negam a participar de evento que recebe o apoio da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, por considerá-la “uma das principais responsáveis pelo avanço do movimento anti-indígena” no Brasil.
“Não podemos permitir que nosso povo e nossas tradições sirvam de vitrine para esse governo mostrar à sociedade uma parceira que na verdade não existe na prática”, afirma o ofício, que acrescenta: “Nós não pintamos nossos corpos para sairmos bonitos na foto, pintamos para representar nossa história, conquistas e tradições. Portanto, quem quiser fazer fotos dos Krahô, venham participar de nossos jogos tradicionais. Desta forma, qualquer cidadão do mundo poderá conhecer nossa cultura”.
Por fim, os caciques da etnia Krahô pedem que imagens e o nome da tribo não sejam utilizados em materiais que sirvam para promoção dos Jogos Mundiais Indígenas.
Palmas
O secretário extraordinário dos Jogos Indígenas, Hector Valente Franco, disse ao CT que a Prefeitura de Palmas irá respeitar a decisão da comunidade Krahô e avisou que, assim que a administração for notificada, o pedido para que imagens da etnia não sejam utilizadas na promoção do evento será acatada. O gestor também negou que as instalações estejam vulneráveis à chuva.
Hector Valente Franco destacou que a função do município como sede do evento é apenas “preparar a infraestrutura básica”. “Em momento algum a Prefeitura de Palmas interferiu, interfere ou vai interferir na política indigenista. Nosso objetivo é promover a cidade”, afirmou o secretário, que completou. “A gente até gostaria de contar com a representatividade [dos Krahô], mas é um tema que não nos diz respeito”.
O secretário ainda garantiu que os projetos e cronogramas estão dentro do prazo e exaltou o evento. “Nós vamos receber todos atletas com todo carinho, respeitando a identidade cultural, e oferecendo uma estadia prazerosa. Nós queremos que todos fiquem felizes com os Jogos”, concluiu.
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