Os Apinajés decidiram acompanhar a decisão do povo Krahô e também anunciaram que não vão participar dos Jogos Mundiais Indígenas (JMI), que acontecem na capital, em outubro. Em nota pública, disponibilizada ao CT pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a etnia questiona o investimento de R$ 160 milhões no evento esportivo, enquanto os nativos passam por “dificuldades e violências”.
A decisão foi tomada durante a 7ª Assembleia Ordinária da Associação União das Aldeias Apinajé–Pempxà, realizada entre o dia 17 e 21 deste mês. A nota destaca que a posição foi endossada por 70 caciques da etnia. “Não podemos aceitar e participar de um evento de caráter midiático e sensacionalista que tem por finalidade usar imagem dos povos indígenas para distorcer os fatos e mentir no exterior; ocultando a verdadeira realidade e o sofrimento dos povos indígenas do Brasil”, discorre a nota, que ainda convida as demais etnias para acompanharem a definição.

Crise e falta de políticas indigenistas
Os Apinajés questionam o investimento em meio à crise econômica, a instabilidade política e ainda a falta de políticas indigenistas. “Citamos os casos de violências institucionalizadas praticadas pelo Estado. É inaceitável que nesse momento também esteja se repetindo assassinatos, despejos, espancamentos, prisões e a criminalização das lideranças indígenas com a participação e conivência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”, acrescentam.
A nota também critica as dificuldades dos povos Avá Canoeiro, Guarani-Kaiowá, Tupinambás, Pataxó e Canela em demarcar e regularizar suas terras, bem como o “abandono e o sucateamento” das estruturas de atendimento à saúde indígena. “Nesse momento difícil de incertezas e insegurança centenas de terras demarcadas e regularizadas também estão sendo invadidas e ameaçadas”, afirmam os Apinajés.

Governo federal
“É lamentável que mesmo diante dessa situação vergonhosa de violações de Direitos Indígenas até agora não vimos nenhuma atitude do governo e do Ministério da Justiça no sentido de cumprir a Constituição Federal vigente e ao menos dar condições para a Funai [Fundação Nacional do Índio] monitorar, fiscalizar e proteger as terras indígenas já demarcadas”, acrescentam.
Os Apinajés ainda questionam o apoio de outras etnias ao evento que tem apoio da titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Kátia Abreu (PMDB). “Uma inimiga declarada dos povos indígenas”, afirmam.
Assim como os Krahôs, os Apinajés solicitaram que não sejam utilizadas imagens da etnia em materiais relacionados ao JMI. A nota ainda critica o evento por não ter consultado ou convidado os povos do Tocantins para participarem da organização do evento.

Reflexão
Por fim, os Apinajés dizem respeitar a decisão de participar dos demais povos e chama os indígenas para o debate. “Nesse momento é importante fazermos uma profunda reflexão e uma analise crítica da história e dos fatos recentes que envolvem a questão e as lutas indígenas no Brasil”, concluem.