(PALMAS-TO) - Com calendário específico voltado aos alunos do campo, as escolas estaduais no Tocantins na zona rural oferecem aulas sobre produção agrícola e ensinam, na prática, como funciona o sistema de cultivo. Ao todo, 11 unidades escolares ofertam disciplinas da educação no campo e atendem cerca de 1,6 mil alunos de diversas regiões do Tocantins. Destes estudantes, muitos estão participando da Agrotins 2014, que segue com programação até o próximo sábado, 10. Na Feira, eles aprendem com as palestras e também ensinam através da apresentação de experiências vivenciadas no cotidiano escolar.
"A modalidade de educação no campo cumpre o papel de aproximar o conteúdo estudado em sala de aula do dia a dia do aluno. Também oferece ao aluno uma série de informações e conhecimentos que poderá contribuir com a melhoria da produtividade na propriedade familiar, melhorando assim a qualidade de vida não apenas dos alunos, mas de toda a sua família", disse o técnico da Secretaria de Estado da Educação e Cultura (Seduc) na área educação no campo, Manoel Messias Antônio de Lima.
Uma destas unidades de ensino que ofertam disciplinas da educação no campo é a Escola Estadual Beira Rio, em Luzimangues, distrito de Porto Nacional. Nesta unidade escolar são atendidos 610 estudantes dos ensinos fundamental e médio. Desde 2011, a escola concilia a oferta do ensino regular com a educação do campo, possibilitando, assim, extensão de aprendizado voltado à cultura rural.
Aluna do 8º ano do ensino fundamental na unidade, Mayara Tavares Rodrigues mostra entusiasmo com as aulas diferenciadas e afirma estar aprendendo muito na escola. "É muito bom aprender a preparar o solo, adubar o solo, e depois a gente planta. Eu posso ganhar no futuro com isto, posso levar para o meu futuro, o meu currículo", destaca a estudante de 13 anos.

Como funciona
De acordo com a diretora da Escola Estadual Beira Rio, Luzeni Lourenço de Araújo Correia, além das disciplinas tradicionais os alunos têm, quatro vezes por semana, aulas de Produção Rural e Sistema de Cultivo. A estrutura curricular conta com aulas teóricas e práticas. "Os alunos vêm para as aulas teóricas, e nestes dias também estão inclusas as aulas práticas. Nós temos a horta escolar e toda a produção dela é destinada à complementação da alimentação dos alunos", ressaltou.
Professor das disciplinas da Educação no Campo, Enan de Abreu frisa que a modalidade de ensino também é uma grande aliada das famílias que vivem da produção rural. "Os alunos têm um conhecimento empírico; eles trabalham já com o uso da terra no seu dia a dia, na agricultura familiar propriamente dita. Estas duas disciplinas vêm somar a este conhecimento, tanto com a teoria quanto com a prática", afirma.

Reforço ao orçamento familiar
Além da produção de hortaliças para enriquecer a merenda escolar, o que os alunos aprendem na escola é aplicado também em casa. "Fico de olho nas professoras e lá eu ajudo a minha mãe a plantar cebola, tomate, maxixe, alface, rúcula; depois, quando está na hora de colher, a gente colhe e leva lá para vender. Aí, depois que acaba a colheita, a gente pega outras sementes de frutas e vegetais e a gente leva para plantar lá", disse Kaline Carlos Souza, aluna do 3º ano do ensino fundamental.
Aos 16 anos, o estudante Paulo Henrique Montalvão Silva também ajuda o pai na plantação da família. De acordo com ele, as aulas contribuem para entender melhor como funciona o processo de produção. "A gente aprende de tudo; plantio, adubação, como fazer as coisas direito, como mexer na terra. Antes, a gente só passava e já plantava; agora, temos um cuidado com a espera, e a gente vai levando assim. É um diferencial a mais, porque sei dos dois lados, da prática e da teoria; eu aprendo as duas", ressalta o aluno.
Para o pai de Paulo Henrique, o produtor rural Paulo Sérgio Silva, os ensinamentos que o filho leva para casa estão ajudando a melhorar a plantação. "Às vezes, tem pessoa nova que vai lá [na escola], e ele [o filho] fala, 'meu pai, vamos tentar fazer isto, eu vi no colégio e eu acho que pode dar certo; vamos tentar fazer que acho que dá certo'. Daí a gente junta a prática com a teoria para ver se a gente melhora a nossa produção. Eu tenho aprendido muita coisa com ele e fico muito feliz mesmo por saber que ele está comigo aqui; é um rapaz novo que tem me ajudado muito. Ele estuda, trabalha e ajuda muito na renda da família", destaca Paulo Sérgio, produtor rural há 25 anos.

Educação na Agrotins
"Todos os programas educacionais desenvolvidos nas nossas escolas rurais estão sendo apresentados na Agrotins, sobretudo os relacionados à agricultura familiar, uma atividade econômica que está diretamente relacionada ao dia a dia das escolas porque parte da merenda vem dessa produção. A compra dos produtos produzidos pelos nossos agricultores enriquece a qualidade da merenda e valoriza esses trabalhadores", disse a secretária de Estado da Educação e Cultura, Adriana Aguiar, sobre a participação da Secretaria na Agrotins.
Para ela, a participação dos estudantes na Feira é importante para mostrar o que tem sido feito na educação no campo, para que os estudantes da zona rural aprendam mais e o público da Feira conheça os investimentos do governo do Estado no ensino e nas escolas da zona rural.