PALMAS - Num ano em que os povos indígenas estão sendo exaltados e o Tocantins terá os holofotes internacionais com os jogos mundiais, que reunirá em Palmas mais de 30 etnias do Brasil e do exterior, uma tragédia no final de semana expôs a fragilidade das políticas públicas e fez vítima um jovem xerente. O indígena, de apenas 18 anos e dependente químico, foi encontrado morto, com sete tiros, na manhã dessa segunda-feira, 22, em Porto Nacional. Weré Sumekwa Karajá Xerente poderia estar são e salvo se Estado e Município de Palmas tivessem cumprido a determinação judicial de internação compulsória do rapaz para tratamento.
Conforme pessoas próximas à família, o jovem teria sido detido na noite de domingo, 21, quando tentava fazer um furto para adquirir drogas. De acordo com essas pessoas, o garoto foi solto pouco depois, mas, ainda na mesma noite, teria sido morto com quatro tiros no rosto e três no corpo.
O rapaz foi encontrado sem vida por familiares na manhã dessa segunda-feira, com o rosto totalmente desfigurado, caído próximo a uma casa abandonada na periferia de Porto Nacional, apesar de a família e o jovem residirem no Aureny III, em Palmas.
Familiares estranharam o fato de não ter sido feito nenhum Boletim de Ocorrência (BO) da detenção do indígena. Ainda de acordo com pessoas próximas à família. O corpo do jovem indígena foi para Tocantínia nesta madrugada, e o enterro será na Aldeia Santa Fé, a 40 quilômetros daquele município.
Ainda segundo conhecidos do indígena, Weré Sumekwa Karajá Xerente era atleta e ganhou vários prêmios na natação. Sua mãe, Ester Xerente, agente de saúde da Prefeitura de Palmas, comprava materiais esportivos como podia, mas ele não tinha incentivo de patrocinadores para se inscrever e custear as despesas das competições.
INEFICIÊNCIA DO ESTADO
Quem ficou indignado com a morte de Weré foi o defensor público Arthur Luiz Pádua Marques. “Esse episódio mostrou a ineficiência do Estado, que vai matando o povo sem parar”, reagiu o defensor. Ele contou ter atendido a mãe do indígena, Ester, em dezembro e, no mesmo mês, ingressou com a ação para a internação compulsória do rapaz. Contudo, o juiz preferiu pedir uma perícia, o que só saiu em abril deste ano.
No dia 24 de abril, o defensor pediu a liminar para a internação de Weré, deferida no dia 13 de maio. Segundo Pádua Marques, em 15 de maio, os secretários de Palmas, Luiz Teixeira, e do Estado, Samuel Bonilha, foram intimados a cumprir a decisão judicial, mas isso não ocorreu. “Para os secretários de Saúde, decisão liminar e nada são a mesma coisa”, criticou o defensor.
A mãe comunicou a Defensoria sobre o descumprimento da liminar, e Pádua Marques fez uma petição ao juiz, buscando o bloqueio das contas do Estado e do município. O defensor explicou que ingressou com a ação contra as duas instâncias, porque a prefeitura não fez o acolhimento inicial do indígena, a chamada busca ativa do dependente, e o Estado porque era o responsável por custear a internação.
NÃO FEZ NADA
Segundo Pádua Marques, o prefeito Carlos Amastha (PP) chegou a aderir ao programa “O crack é possível vencer”, do governo federal, “mas não fez nada”. “Só aderiu, mas não fez absolutamente nada, não implantou a unidade de acolhimento, nem a consultório de rua, nada! E há recursos para isso”, afirmou.
O defensor disse ainda que se as Secretarias de Saúde de Palmas e do Estado tivessem cumprido a decisão judicial, Weré “talvez estaria vivo”. “Os secretários mataram esse rapaz”, disparou. “Não existe política antidrogas no Estado.”
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
Ele disse que, se procurado pela família, vai ingressar com uma ação de indenização contra município e Estado. Segundo o Defensor, o Ministério Público Estadual (MPE) ainda pode apurar as responsabilidades dos secretários de Saúde que não cumpriram a decisão judicial.
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