O aumento no custo do milho e do farelo de soja nos últimos meses tem afetado os gastos com a alimentação das aves que já alcançou a pior relação de troca dos últimos doze meses. O cenário favorável para as exportações fez o Brasil exportar volumes recordes de milho em 2015, elevando a cotação no mercado interno e restringindo o abastecimento em algumas regiões produtoras.
Além disso, a demanda interna enfraquecida que ocorre tradicionalmente no primeiro trimestre do ano, tem causando pressão sobre as cotações das aves em todo o país. Em São Paulo, por exemplo, a queda de preço do frango vivo chegou a quase 15%, saindo de R$ 3,00 para R$ 2,65/kg em janeiro.
Com a queda nas cotações e o aumento dos custos, muitos avicultores já trabalham no vermelho em 2016. De acordo com levantamento da Scot Consultoria a relação de troca para o avicultor paulista é a pior dos últimos doze meses.
Atualmente, em Campinas (SP), o produtor compra 3,88 quilos de milho com um quilo de frango, queda de 26,3% em um ano. Na comparação com igual período do ano passado, porém, o preço do animal vivo subiu 19,1%. Mesmo assim, o avicultor não tem um cenário favorável, pois neste período a cotação do milho subiu 61,6%.
Segundo o presidente da APA (Associação Paulista dos Avicultores), Érico Pozzer, no estado há relato de produtores com dificuldade de adquirir a matéria prima, muito em função da retenção dos agricultores no mercado com expectativa de novas altas nos preços do cereal.
“Em função de uma safra de verão um pouco menor o mercado fica especulado, e com uma grande contribuição das exportações que estão pagando um preço bastante elevado”, explica Pozzer.
Desde dezembro os avicultores de São Paulo já trabalham com custos em torno de R$ 2,60 a R$ 2,70 por quilo e preços do milho entre R$ 32,00 a R$ 34,00 a saca. Depois da puxada de preço do cereal em janeiro, o custo com a reposição do frango vivo passou para R$ 2,80 a 2,90/kg, ou seja, um aumento de 15%.
No Paraná, maior estado produtor do país, a alta dos custos também preocupa, mas o setor já se prepara para uma redução na oferta se necessário. O presidente da Sindiavipar, Domingos Martins, afirma que os anúncios feitos pelo governo referente às operações de venda de estoque de milho já devem trazer tranquilidade ao mercado nos próximos dias.
“O leilão pode frear os preços no cereal, não acreditamos que vai fazer cair, mas será um alivio para o setor. E caso os preços não cedam a indústria irá tirar o pé, então a cotação do cereal também terá que baixar, pois a avicultura é o maior consumidor interno”, ressalta Martins.
Na última semana, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) anunciou a venda de até 500 mil toneladas de milho dos estoques públicos, com Preço de Liberação dos Estoques (PLE) no valor de referência de R$ 17,50 por saca de 60 kg. A informação consta de resolução publicada na segunda-feira (25) no Diário Oficial da União (DOU).
Desse total, 150 mil toneladas de milho dos estoques públicos serão disponibilizadas para venda por meio de leilão eletrônico, no dia 1º de fevereiro. O produto será destinado a criadores de aves, suínos e bovinos, além de cooperativas e indústrias de insumo para ração animal e indústrias de alimentação humana à base de milho.
De acordo com o presidente da Sindirações, Ariovaldo Zani “a indústria de ração animal irá consumir 11 milhões de toneladas no primeiro semestre, e os estoques são suficiente para atender a demanda, o problema é que não existe incentivo para a vendas internas”, explica.
Para o sindicato, caso o cenário não se altere nos próximos meses o aumento no custo será repassado para o consumidor final, e as indústrias terão que reduzir a oferta para ajustar o mercado.
O presidente da APA, Érico Pozzer, afirma que o aumento nos custos com o milho poderá provocar um reajuste no preço da carne na ordem de 20% nos próximos meses. Segundo ele isso só não foi possível até o momento porque no primeiro trimestre do ano as vendas no mercado interno são tipicamente mais baixas.
Apesar do bom desempenho da avicultura brasileira em 2015 – ano em que cresceu 5% as exportações e manteve a liderança mundial, respondendo por 37% do mercado internacional dessa carne – as projeções de crescimento para 2016 esbarram na crise do milho.
“Quem estava com planos de crescer muito esse ano, pode ser que reavalie e não cresça. Com um impacto desse é impossível que o setor se mantenha alheio a isso”, destaca Pozzer.