O ex-senador Vicentinho Alves e o filho, deputado federal Vicentinho Júnior (PL-TO) serão investigados pela Polícia Federal sob a suspeita de envolvimento em um possível esquema de desvio de verbas públicas. A investigação foi iniciada pela Polícia Civil do Tocantins, através da Divisão Especial de Repressão à Corrupção (Decor), mas foi enviada neste mês à PF por envolver verbas federais. Os documentos apontam "supostas irregularidades na liberação de emendas parlamentares". A documentação também foi remetida ainda ao Ministério Público do Tocantins e à Controladoria Geral da União (CGU), em Brasília.
Reportagem do UOL de ontem, assinada pelo jornalista Eduardo Militão afirma que a apuração teria começado com uma carta anônima cujo teor ocupa quatro páginas e onze itens mencionando supostos vínculos entre o ex-senador Vicentinho Alves e a CPI criada em 2012 para investigar o empresário Carlinhos Cachoeira, envolvido em esquema de jogos ilegais.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Tocantins, a carta tem trechos verossímeis.
O documento também liga Vicentinho Alves à Operação Trem Pagador, que investigou cartel e propina na construção do trecho goiano da Ferrovia Norte-Sul. E acusa assessores de Vicentinho Júnior de serem donos de empresas de construção beneficiadas por decisões do deputado.
A carta também afirma que uma das assessoras de Júnior não mora em Brasília, mas em Belém - o deputado afirma que ela faz comunicação das ações do mandato em regime de teletrabalho.
A denúncia afirma que a empresa Connor Construções conseguiu contratos sem licitação em diversos municípios do Tocantins com aliados políticos do ex-senador Vicentinho Alves. A mesma construtora aparece como beneficiária de dinheiro de outras empresas investigadas na CPI do Cachoeira.
PROPINA
Na reportagem da UOL, a carta menciona um engenheiro sobrinho de Vicentinho que atuava na Ferrovia Norte-Sul e foi demitido pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011. Os pagamentos autorizados por ele chegariam a um empresário que foi sócio de Vicentinho, do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PLSP) e do ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha.
Em delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez, como Clóvis Primo, disseram ao Ministério Público que pagaram propina a Vicentinho em 2010, a mando de Valdemar Costa Neto. Um investigador do caso disse que o motivo dos pagamentos era manter o cartel de empreiteiras que dominava a construção da ferrovia da Valec. Um procedimento que trata desse caso chegou a ser aberto pelo Supremo Tribunal Federal.
OUTRO LADO
O ex-senador Vicentinho Alves disse que já prestou todos os esclarecimentos e voltou a negar que tenha recebido propina. "É coisa requentada e inventada. A gente é oposição ao governador Carlesse", disse o ex-senador. Ao UOL, tanto o ex-senador Vicentinho Alves, como seu filho Vicentinho Júnior negaram as acusações e afirmaram ser vítimas de um "dossiê" anunciado no início de março em um bate-boca na Câmara. O deputado federal, Vincentinho Jr, chegou a fazer uma live para apontar as possíveis provas do dossiê. Eles acusaram o governador do Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), o secretário de Segurança, Cristiano Barbosa, e o deputado Carlos Gaguim (DEM-TO) de persegui-los.
Vicentinho Júnior disse que sofre retaliação por fazer oposição a Carlesse e denunciar compras supostamente superfaturadas, como marmitas em presídios, cestas básicas e equipamentos de saúde contra o coronavírus.
Registros da Câmara dos Deputados mostram que, em 12 de março, Junior relatou que seria alvo de um dossiê que, segundo ele, foi inadvertidamente revelado por Gaguim.
Em 13 de março, Vicentinho Júnior foi à PF em Palmas, mas, àquela altura, nada havia na corporação. A documentação só chegou aos federais em Brasília este mês e está sendo remetida a Palmas.
GOVERNADOR DIZ QUE NÃO EXERCE INTERFERÊNCIA
Em nota, o governador Mauro Carlesse (DEM) negou interferência nas investigações. "A Secretaria da Comunicação informa que o governador do Estado não tem qualquer conhecimento sobre referida investigação relacionada aos parlamentares citados, uma vez que este é um trabalho que compete de órgãos de investigação, como a polícia", disse em nota.
"O governador do Estado ocupa-se em executar ações de defesa dos interesses da população do Tocantins."
A Secretaria de Segurança disse que o inquérito da Polícia Civil não foi instaurado porque haveria envolvimento de dinheiro público de verbas federais, e não estaduais. O órgão disse que, a pedido de Vicentinho Júnior, repassou uma cópia da denúncia anônima a ele - que nega ter recebido o documento.
"Todos os atos praticados pela Polícia Civil do Tocantins obedecem os procedimentos previstos em lei e estão sujeitos ao controle externo da atividade policial pelo Ministério Público", finalizou a SSP. (Com informações do Site UOL)
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