Índias de diversas etnias participam do cabo de força no segundo dia dos Jogos Indígenas
Arqueiros de diversas etnias participam das competições no segundo dia dos Jogos Indígenas
Grupo faz protesto contra a PEC 215, denuncia genocídio indígena e cobra demarcação de terras
Karajá Xambioá
População encerrou caminhada no cemitério do Setor Vila Nova

PALMAS - Um dia depois do previsto, os atletas indígenas começaram a disputar as primeiras baterias eliminatórias das modalidades de integração. As provas do arco e flecha, arremesso de lança e cabo de força – masculino e feminino – abriram os jogos competitivos e o programa esportivo dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI).
De acordo com os organizadores, o desabamento de parte do teto do refeitório dos indígenas adiou o início das sessões esportivas. Embora nenhum participante tenha se ferido, houve um pedido para que as provas começassem nesse domingo (25) em solidariedade aos trabalhadores que se machucaram no acidente.
Prática nobre entre os indígenas, o arco e flecha foi o primeiro esporte do dia. Cada flecheiro teve direito a três tiros, a 30 metros de distância. O alvo – um desenho de um peixe – conferia pontuações distintas, de acordo com o grau de dificuldade: a soma dos acertos indicaria a pontuação final de cada um. O olho do peixe é a região que confere mais pontos ao atleta.

Enquanto atletas puxavam a corda, membros de cada tribo incentivavam ao lado, motivando com gestos e gritos. Outro embate que levantou o público foi dos Kura Bakairi, campeões nacionais de cabo de força, contra os Maori, da Nova Zelândia.
Os neozelandeses assumiram a dianteira na disputa, puxando a corda com força, em movimentos coordenados. Parecia uma disputa resolvida, quando a tribo da Oceania perdeu gás e os Kura Bakairi mostraram porque são campeões nacionais. Recuperaram os metros perdidos e venceram o confronto. Muita festa dos índios brasileiros. Ao final, as duas tribos se abraçaram, mostrando espírito esportivo.
As mulheres também entraram na arena para a competição. Destaque para as índias Pataxó, que contaram com o grito das arquibancadas e dos membros da tribo, com seus manacás, no cabo de força contra as peruanas. Já as Bororo Boe não deram chance às panamenhas. Cinco mulheres que passaram mal durante os confrontos receberam o atendimento médico, que estava a postos nas areias da Arena Verde.

Vinte e três atletas, de 15 etnias brasileiras e oito países, foram inscritos na eliminatória. Até o fechamento desta matéria, a organização não havia divulgado a lista de classificados. Danny Romero, flecheiro da Nicarágua, contou que seu instrumento de competição foi barrado pela imigração do Panamá em seu deslocamento e precisou entrar na prova com um tipo de equipamento bem diferente do que estava acostumado: “Tivemos que comprar outro e treinamos por dois dias com ele”.
A primeira bateria de arremesso de lança contou com a participação de 12 indígenas. As lanças padronizadas – para evitar que alguém trouxesse uma lança mais leve que a outra – poderiam superar os 60 metros de distância, em até três arremessos. Itaguari Pataxó acabou superando a marca alcançada pelo representante norte-americano, vencendo a prova com a marca de 45,31 metros.
“Não esperava jogar a lança tão longe assim. Foram três meses de treinamento e a técnica é mais importante do que a força. Na hora, eu me concentrei bem, dei uma relaxada na mão e senti a energia e o carinho da torcida. Já mostramos a que viemos. Agora é só treinar mais um pouco”, vibrou Itaguari, que teve o nome de sua etnia gritado pela arquibancada durante sua série de arremessos.
As disputas de cabo de força levantaram o público na arena. A torcida foi intensa, com muitos gritos e aplausos. A animação era maior ainda em embates contra equipes estrangeiras. A disputa entre os índios Manoki e um combinado de atletas dos Estados Unidos e Filipinas fez o público gritar a cada centímetro avançado. A disputa parecia interminável e a bandeirinha mal se movimentava para um lado ou para outro. Os Manoki, por fim, cansaram e foram derrotados, mas não faltaram aplausos.

Manifestação

Um grupo de cinco indígenas das etnias pataxó, krikati e xacriabá entrou na arena de competições trazendo cartazes em inglês e português contra a PEC 215, denunciando o genocídio indígena e cobrando a demarcação de terras indígenas. Um deles chutou uma das bandeiras de marcação da área de lançamento da lança. O protesto foi pacífico. (EBC / Nathália Mendes)

Conheça as etnias que disputam os Jogos Mundiais Indígenas

PALMAS - Esportistas de diversas regiões do Brasil e do mundo estão em Palmas, onde participam da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Muitos não são atletas profissionais, mas terão a oportunidade de apresentar a própria cultura por meio do esporte. O evento reúne 23 etnias brasileiras, além de populações tradicionais de outros 22 países.
Um dos organizadores do evento, o Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, não segue a divisão regional brasileira, mas a geografia étnica, levando em conta os biomas nacionais: Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Pampas e Pantanal. Para participarem, os indígenas precisam ser originários de suas aldeias, falar a língua tradicional e conhecer a própria cultura. Dentro da etnia, o cacique e o chefe da delegação recrutam os atletas.
O Cerrado estará representado pelos povos Karajá, Bakairi, Paresi, Xavante, Bororo, Nhambikwara, Rikbatsa, Canela, Manoki, Tairapé, Xerente, Javaé, Kamaiurá e Kuikuro. O povo Xerente é o anfitrião da festa. Eles vivem no Tocantins e estão divididos em duas terras indígenas. Estudo realizado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em 2010, contabilizou 3 mil indígenas deste povo. Os Xerente já participaram de cinco edições dos jogos indígenas nacionais e a principal atividade deles no evento é a corrida com tora.
Os povos Asurini, Waiwai, Kayapó, Gavião Kykatejê, Gavião Parakatejê e Matis são os representantes da Amazônia. Os Matis, por exemplo, estão no Amazonas, na Terra Indígena do Vale do Javari. Estudos de 2010 apontavam 390 remanescentes da etnia. Os ornamentos desses povos são uma forma de identidade que define origem, gênero e idade. Mas, com o crescente contato com não indígenas, muitos adornos acabaram em desuso. Os Matis já participaram de oito edições dos jogos e a principal atração desse grupo é a zarabatana.
O povo Pataxó marca a participação da Mata Atlântica. Cerca de 11,8 mil índios Pataxó vivem entre o extremo sul da Bahia e o norte de Minas Gerais. Pelos registros históricos, os primeiros contatos com os Pataxó ocorreram no século 16 por colonos que os descreviam como povos amigos. Os Pataxó já participaram de dez edições dos jogos indígenas e a principal atividade desse povo é a corrida.
Das terras mais ao Sul do Brasil vem o povo Kaingang, representando os Pampas. Os Kaingang estão distribuídos em quatro estados: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, ocupando mais de 30 terras indígenas, que representam uma pequena parcela do território original. A população Kaingang é de cerca de 34 mil pessoas. Eles já participaram de oito edições dos jogos indígenas e se destacam no arremesso de lança.
Os representantes do Pantanal são os povos Terena e Guarani Kaiowá. Originalmente, os Terena habitavam o estado de Mato Grosso do Sul, mas hoje estão divididos em 16 terras indígenas e também podem ser encontrados nos estados de Mato Grosso e São Paulo. A luta pela demarcação é constante, pois ainda existem terras que não foram demarcadas. Atualmente são mais de 25 mil índios. Eles já participaram de 10 edições dos jogos e a principal participação é no arco e flecha.
Nesta edição dos Jogos Mundiais Indígenas, a Caatinga não terá representante. (Agência Brasil / Maíra Heinen)

População de Porto Nacional vai às ruas contra a violência no município

 

Porto Nacional (TO) - Mobilização pela paz ganhou as ruas de Porto Nacional, a 58 km de Palmas, na manhã desse domingo, 25. Centenas de pessoas, vestidas de branco e empunhando faixas, percorreram trecho entre a Praça do Centenário, no Centro da cidade, até o cemitério, no Setor Vila Nova.
O deputado estadual Ricardo Ayres (PSB), que mora no município, participou da iniciativa ao lado da esposa, Flávia Teixeira Halum Ayres. “A comunidade e as autoridades precisam se unir na luta contra esta onda crescente de violência que amedronta a nossa cidade, bem como o Estado”, disse Ayres, que na última semana apresentou requerimentos que pedem a criação de um grupo especial de segurança em Porto e de um Fundo Estadual de Segurança Pública.

Violência
A Caminhada pela Paz ocorre depois da morte do servidor de um dos cartórios do município, Dimas Araújo Rocha, 65, na segunda-feira, 19, após assalto no estabelecimento. A ocorrência colocou em evidência a violência crescente no município que, de acordo com os moradores, sofre com a ausência da polícia e da falta de seu aparelhamento.
Segundo moradores, o município contaria com apenas três viaturas. “Só ontem soubemos de três ocorrências na cidade, com tiros e uma pessoa teria morrido”, disse a professora universitária, Vera Lúcia Aires Gomes Silva, cunhada de Rocha. “Estamos conclamando as nossas autoridades para que reforcem o nosso policiamento, que nossos policiais tenham armamento e estrutura material para que possam ir atrás desses bandidos que continuam soltos. Estamos pedindo socorro”, reforçou a moradora.
A esposa da vítima, Tânia Maria Aires Gomes Rocha, demonstrou na ocasião a crescente sensação de insegurança vivida pela comunidade. “Já vivíamos uma grande sensação de insegurança que só fez aumentar com a perda do Dimas, uma pessoa simples, do bem, que tinha uma grande envergadura moral, agora queremos ao menos a justiça, não apenas por ele, mas também pela comunidade de Porto Nacional.”
O servidor público estadual, Nélio da Silva Brito, parente da vítima, ressalta que Rocha é mais um portuense que entrou para a estatística da violência no município. “Hoje é a nossa família que sofre, amanhã poderá ser outra família por conta desta violência que impera no município, por isso todos temos que dar as mãos, comunidade e autoridades, porque embora não seja um problema só local, precisamos começar a fazer a diferença ao menos através da nossa localidade”, reforçou. (Val Rodrigues)