Por Vaner Marinho
É mês de maio e tom das caixas do Divino já soa em alguns pontos da cidade. O céu azul infinito, o vento soprando nas palmeiras enquanto as águas grossas do Rio Tocantins começam a clarear e mostrar no seu leito, o efeito da brisa fazendo pequenos banzeiros. E no céu claríssimo, urubus voando alto. É o mês da "cruviana" soprar solta nos vaquejador do sertão". É mês de Maria, das noivas, das flores e de soltar papagaio. Daqui a pouco, começam aparecer os pedrais do Canal Grande e do Canalzinho. O sertanejo, conhecedor infalível das coisas da natureza, profetiza: "Bateu caixa de Divino, no sertão não chove mais". As Cantoras do Bem do Divino Espírito Santo estão atarefadas nos preparativos das roupas, na afinação das caixas, na pintura do mastro na decoração dos estandartes e nos ensaios dos cânticos. São muitas as casas a serem visitadas. Pelo centro velho, bairros mais próximos e Entroncamento as donas de casa se preparam para receber o cortejo.
Os devotos do Divino
Vão abrir sua morada
Pra bandeira do Menino
Ser bem vinda, ser louvada
A fé que move os devotos contagia a todos que se aproximam do grupo. A cantoria bem entoada rebervera-se pelos quatro cantos da cidade.
No pedido da esmola sob o batuque das caixeiras, a humildade se apresenta cristalina: " O Divino Espírito Santo, dono do sol que nos cobre, por ser dono do tesouro, pede esmola que nem pobre. Quem dá esmola a esse Santo, não se põe a imaginar, pois Ele é pobre no pedir, e rico para nos dá"
Deus nos salve esses devotos
Pela esmola em vosso nome
Dando água a quem tem sede
Dando pão a quem tem fome
As Cantoras do Divino Espírito Santo e seu cortejo acreditam piamente em melhores dias. Pedem ao Divino, proteção para todos. Evocam o perdão para os pecadores. Acreditam que a fartura da semente possa trazer, sem duvidas, uma mesa repleta em todos os lares. Têm certeza na liberdade do homem, que a justiça sobreviva e que a fé seja infinita.
E a bandeira segue em frente e no entoar das Cantoras, atrás de melhores dias para o seu povo mais humilde. O estandarte tremulando ao vento preconiza que ele voltará de novo, mais bonito e mais carismático.
No estandarte vai escrito
Que ele voltará de novo
E o Rei será bendito
Ele nascerá do povo, ai, ai
Na beira rio, o grupo entoa o cântico das águas para seguirem em procissão até a quadra da Igreja Matriz onde haverá o levantamento ritualístico do mastro e estandarte, que ficará tremulando ao vento até o dia da festa.
Um canto de luz se fez verdade, pela voz das CANTORAS DO BEM DO DIVINO ESPIRITO SANTO. Um canto afiado feito faca, cortando a incredulidade dos incrédulos mais resistentes aos dons do Divino. O vento geral testemunhou em plena luminosidade de maio, a vibração contida no coração de cada devoto, ao receber com fervor, o Santo em sua morada. Foram DEZ, foram CEM, foram MIL, a dizerem amém ao termino de cada refrão entoado.
Que assim seja, hoje e sempre. Que a bandeira siga em frente, atrás de melhores dias e que, por muitos anos ainda possamos viver par sentir a brisa fazendo o estandarte tremular e nosso coração bater mais forte como o rufar do som das caixeiras.
"Aqui chegou o Divino
Nas águas do Tocantins
Foi uma festa tão grande
Que alegrou os passarim"
Na visita ao cruzeiro do cemitério, As Cantoras do Divino Espírito Santo pedem licença pra entrar:
"Avoa pombinha avoa
Assenta no braço da cruz
Pra cantar no cemitério
Pediu licença a Jesus"
"Se a morte fosse moça
Eu ia fazer um pedido
Pra não deixar filho sem pai
E nem mulher sem marido"
"Se a morte fosse moça
Eu ia casar com ela
E no passar da porteira
Tomava o machado dela"
Ao final da cantoria da ultima casa, as Cantoras avisa
" Ó pombinha sacode as asas
Avoa e vamos embora
É nosso Deus que ta chamando
Filho de Nossa Senhora
E adeus sala, adeus varanda
Até o ano que vem
E no reino do Céu se veja
Os Anjos dizendo amém"
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