São Luís - A comerciante Ana Maria Araújo Leite, de 56 anos, descobriu, em maio passado, ser portadora de três tipos de câncer: no intestino, no fígado e no pulmão. Moradora do município de Santa Inês, ela viu sua vida mudar. Por determinação da família, passou a se dedicar apenas ao tratamento. Cinco meses depois da primeira sessão de quimioterapia, Ana Maria vive um novo momento, principalmente depois que ganhou a oportunidade de receber toda a medicação para o tratamento no conforto de sua casa, ao lado das pessoas que ama.
É justamente o apoio da família que pode explicar a vitalidade que a jovem senhora aparenta, mesmo depois de tantas idas e vindas ao Hospital de Alta Complexidade Tarquínio Lopes Filho (Geral), onde recebe assistência especializada. O hospital, que foi recentemente credenciado pelo Ministério da Saúde como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), acompanha a paciente desde a confirmação do diagnóstico. Segundo o chefe da equipe de oncologistas do hospital, o médico Klayton Ribeiro, a proximidade e o envolvimento dos parentes na rotina de exames e consultas do doente de câncer são como um poderoso estímulo ao sucesso do tratamento.
Foi com essa convicção que o médico apresentou à direção do Tarquínio Lopes Filho a proposta de implantar o serviço de quimioterapia domiciliar, utilizando também o argumento de que o hospital não tem como expandir o seu espaço físico. “Funcionamos em um prédio que não permite mais ampliações. Para não prejudicar as pessoas que nos procuram, oportunizar a realização da quimioterapia em casa foi o melhor caminho que encontramos”, destacou Klayton Ribeiro, que é especialista em oncologia clínica com residência médica no Hospital do Câncer de Barretos (SP).
O diretor geral do Tarquínio Lopes Filho, Luís Alfredo Guterres Netto, lembrou que o serviço é inédito em grande parte dos hospitais da rede pública do Brasil. “Sensível à questão, o secretário Ricardo Murad nos atendeu prontamente”, assinalou. Ele informou que atualmente 20 pessoas são beneficiadas, o que gera 40 aplicações de quimio por mês, utilizando o infusor portátil. Este equipamento representa um grande avanço na qualidade de vida do paciente oncológico. É utilizado para infusão contínua de quimioterápicos, principalmente nos protocolos para tratamento de cólon e reto.
“O câncer é uma doença que não dá uma segunda chance. Isso significa dizer que quando o paciente está apto a realizar a quimio, não podemos atrasar o tratamento”, disse o médico oncologista Klayton Ribeiro, informando que a quimioterapia domiciliar evita 42 internações por mês, sendo que cada uma duraria, em média, três dias. “Mas o maior benefício é para o paciente, que recebe a medicação com toda a comodidade em casa”, acrescentou.
O infusor portátil é descartável, discreto, leve e pode ser acomodado na cintura através de uma pochete. Ana Maria foi a primeira a ser beneficiada com o serviço de quimioterapia domiciliar. Para esta modalidade de tratamento, é necessário o implante de um cateter, também conhecido por Port-a-Cath. “Estou me sentindo muito bem. O incômodo é muito pouco. O melhor é que eu não preciso ficar internada aqui por dois a três dias”, disse ela, que é mãe de cinco filhos.
Klayton Ribeiro contou ainda que o infusor portátil permite que a pessoa exerça atividades profissionais, normalmente. “Por exigência da família de dona Ana, ela não trabalha mais. Mas conciliar o tratamento com o trabalho é perfeitamente possível”, destacou o médico.
Ribeiro chamou a atenção para a sensibilidade demonstrada pelos gestores da Secretaria de Saúde, que viram na implantação da quimioterapia domiciliar a possibilidade de salvar vidas. “Estamos falando de uma doença que é a segunda causa de mortalidade no mundo, por isso todo nosso esforço em oferecer um serviço com qualidade cada vez maior”, concluiu.
Referência no tratamento de
pacientes oncológicos
Depois de receber investimentos do governo estadual, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), a Unacon do Hospital Tarquínio Lopes Filho (Geral) consolida-se como referência para o tratamento contra o câncer na capital e interior do estado.
Segundo dados estatísticos, nos últimos nove meses foram realizados no hospital quase nove mil consultas, mais de 280 internações e cerca de 4.500 aplicações de quimioterapia, no Serviço de Oncologia do hospital. Com o credenciamento, ocorrido no mês passado, o Governo Federal repassa para a SES o valor de aproximadamente R$ 614 mil – R$ 7 milhões anuais - para custeio da unidade oncológica. O serviço vinha sendo mantido apenas com recursos estaduais.
Segundo o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Murad, os investimentos feitos nos últimos dois anos, em infraestrutura e qualificação profissional, foram decisivos para adequar o serviço de oncologia às exigências do Ministério da Saúde. Para se ter uma ideia, antes da reforma do prédio que abriga o Tarquínio Lopes Filho, a Unidade de Oncologia mantinha apenas 11 leitos de internação. Hoje, são 14 em clínica oncológica e outros 10 em oncologia cirúrgica.
Diante disso, o diretor-geral do Hospital Tarquínio Lopes Filho, Luís Alfredo Guterres Netto, explicou que a SES vai pleitear do governo federal financiamento maior para continuar prestando um serviço de qualidade às centenas de pessoas que buscam tratamento naquela Unacon.
“Estamos produzindo um relatório com a nossa produtividade, baseado numa série histórica, para mostrar ao Ministério que os nossos custos são bastante elevados e que o recurso enviado pelo Governo Federal é insuficiente”, ponderou o médico, acrescentando que o custeio mensal do Unacon fica na casa dos R$ 800 mil.
Para realizar o trabalho, a Unacon conta com quatro oncologistas clínicos, dois hematologistas, dois mastologistas, quatro cirurgiões oncologistas, dois clínicos especialistas em dor, bem como uma equipe interdisciplinar especializada e que atua exclusivamente na oncologia, formada por fisioterapeuta, farmacêutico, enfermeiro, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, psicólogo e nutricionista.
O Serviço de Pronto Atendimento (SPA) do Geral reúne ainda mais 14 médicos, que trabalham em regime de plantão 24 horas. Nos oito primeiros meses do ano, foram realizados aproximadamente 11.000 procedimentos no local. Manter a emergência em pleno funcionamento foi uma das condições para o credenciamento do Hospital como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia.
“Também mantemos serviço de apoio ao diagnóstico e tratamento, com a realização de exames, e também fornecemos os medicamentos que são prescritos pelos médicos especialistas em dor”, acrescentou o oncologista Klayton Ribeiro. (Secom)
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