Hemerson Pinto

O projeto Identidade e Diversidade Cultural é realizado pelo Centro Educacional Henrique de La Rocque, escola estadual no município de João Lisboa. Em 2015, alunos e professores realizam a segunda etapa da missão que começou no ano passado: discutir, alertar e reforçar a luta pelo fim da violência contra a mulher, a começar pelo não à violência contra a menina, “pois tudo começa por aí”, comenta a socióloga e professora Maria Natividade, idealizadora.
A professora é pesquisadora do tema em 2005 começou a tornar públicos números relacionados à violência praticada contra a mulher e meninas no município, informações que nem sempre eram levadas à sério pela população. “Mas agora a realidade começa a ser percebida”.
Ela lembra o caso da menina de seis anos que foi estuprada no dia 19 de novembro pelo primo de 16 anos. Caso que é investigado pela Polícia Civil e chocou a população de João Lisboa. O suspeito está foragido e a vítima precisou passar por cirurgia e agora se recupera em casa.
Na blitz realizada na manhã dessa quarta-feira no centro de João Lisboa, os participantes fizeram um momento de silêncio para relembrar o caso e pedir agilidade nas investigações. O caso é acompanhado pelo Ministério Público e Conselho Tutelar.
A ‘Blitz educativa pelo fim da violência contra mulheres e meninas’ é parte do processo. “Em 2014 levantamos perfil técnico e procuramos saber como cada um se define enquanto negro. Agora resolvemos trazer isso para fora, para as ruas, para a população e incentivar a comunidade a encarar essa luta contra a violência praticada contra mulheres e meninas. E as negras são as mais afetadas”, afirma a socióloga.
De acordo com a professora, números divulgados no início de novembro de 2015 revelam que em 10 anos o número de mulheres assassinadas no Brasil aumentou 54%. Segundo ela, os dados são da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais, resultados da pesquisa feita para o Brasil. As negras são as mais atingidas.
A pesquisa também aponta o Brasil com a maior população negra fora da África, segundo o censo de 2010, quando 52,67% da população brasileira se declarou branca. “Porém, em nossa sociedade arcada pelo colonialismo europeu, há um grande processo de desvalorização de tudo que possa ser relacionado à África”.
Sobre o mapa da violência onde as vítimas são meninas negras, segundo Maria Natividade, do total de vítimas de violência sexual no país, 89% são mulheres, com idades entre 14 e 17 anos somam 94%, sendo 81% menores de 13 anos. Os dados apontam que 51% das vítimas são de cor preta ou parda, e 24% dos agressores de crianças ou adolescentes são os pais ou padrastos. Os números são da pesquisa Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde (Ipea), março de 2014.