A cidade de Caxias realizou, na noite de quarta feira (17), a tradicional Procissão do Fogaréu que reuniu cerca de 10 mil devotos que, emocionados, acompanharam as encenações da perseguição e prisão de Jesus Cristo.
O evento, que está na 16ª edição, é mantido pela Organização Caxiense de Artes e Tradições - OCAT, e tem parceria com a Paróquia Nossa Senhora das Graças (COHAB) e a Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, sede da Diocese de Caxias. Envolve direta e indiretamente, cerca de 300 atores e figurantes que participam da encenação e realização do espetáculo.
Considerado o segundo espetáculo nessa temática no Brasil, a encenação ocorreu em diversos pontos da cidade, reunindo um cortejo de devotos caxienses e visitantes que, debaixo de muita chuva, empunhando lamparinas e velas, saíram pelas ruas do Centro Histórico, acompanhando os atores que se passaram por farricocos - personagens vestidos de túnicas coloridas e encapuzados que representam os soldados romanos enviados por Caifás para prender Jesus.
Segundo o coordenador geral e presidente da OCAT, Leonardo Barata, a cada ano que passa, aumenta significativamente o número de fiéis que aproveitam o momento para agradecer pelas bênçãos recebidas, pedir saúde, fazer promessas e, principalmente, demostrar o seu amor e devoção a Jesus Cristo. "Essa procissão representa tudo na minha vida. Ela dá vida pra gente. Ela é a luz que nos ilumina. Nós vamos em busca de Jesus, não para prendê-lo, mas para trazê-lo para os nossos corações, para a nossa alma", acentuou Leonardo Barata.
"Acho muito bonito reviver tudo que Cristo passou. A procissão é um bom momento pra gente pensar e repensar o sofrimento de Jesus Cristo e, também, para refletir sobre o amor ao próximo e a gratidão. Sem dúvida, é muito emocionante participar do evento", afirmou a turismóloga e escritora Letícia Mesquita.
Emoção
Nem a chuva desanimou os fiéis. Eles seguiram a caminhada numa demonstração de fé e gratidão. Alcimar Sousa, caxiense, que faz parte da logística e confecção das roupas da procissão, disse que não consegue mais se vê fora daquele processo. "É muito gratificante participar de todo esse processo. Quando a gente vê a emoção das pessoas, usando as vestimentas que produzimos, é muito bacana. A história de Jesus Cristo é linda demais, por isso, não tem como não ficar emocionada durante toda a procissão".
As carpideiras são figuras que não podem faltar nos cortejos. Por isso, a Procissão do Fogaréu possui um grande número dessas mulheres, cuja missão (Cânticos de lamentações), é chorar. "Ser carpideira é fazer a missão com fé e com coragem", disse a carpideira Deuma Sousa Costa. "A gente canta lamentando a morte de Jesus. Ser carpideira é mostrar essa emoção", afirmou Francisca Leite.
"Nós fazemos isso com muito carinho e amor. É uma emoção muito grande participar da procissão", acentuou Antônia Gomes.
Roteiro
A concentração da Procissão do Fogaréu aconteceu às 22h, na Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, local onde aconteceu um teatro, com a duração de 45 minutos. Lá foram encenados cinco atos clássicos, como o Horto das Oliveiras; a Última Ceia de Jesus; Jesus e o Bom Pastor; Jesus e as Crianças e a Negociação de Judas. Essa é a última cena antes da saída da procissão, que é liderada por Judas Iscariontes, interpretado por Wandell Sousa, que vai à procura de Jesus, que é interpretado por Antônio Marcos Chavier.
Em seguida, iniciou a procissão chegando ao palácio do antigo fórum da cidade, que se transformou no palácio do Caifaz. No local, foi realizado uma dramaturgia para a entrega das 30 moedas para Judas. Depois, a procissão seguiu pela Rua Afonso Pena até a centenária Igreja de São Benedito, seguindo para a Igreja do Rosário, onde aconteceu o drama da prisão de Jesus. De lá, seguiu por alguns trechos onde existiam cinco estandartes com temas da atualidade que estão afligindo o mundo, como Brumadinho, Feminicídio, Prostitutas da Babilônia, Violência Doméstica e os Anjos.
Depois a procissão passou em frente à Igreja da Matriz e voltou para a Catedral onde o bispo Dom Sebastião Lima Duarte realizou um sermão sobre a prisão de Jesus Cristo, trazendo para o tema da Campanha da Fraternidade 2019, que é Políticas Públicas. Em seguida, deu a benção final, encerrando assim a Procissão do Fogaréu 2019.
Patrimônio Imaterial
Dada a importância da Procissão do Fogaréu para a comunidade católica de Caxias, está tramitando na Assembleia Legislativa do Maranhão um projeto de lei do deputado Adelmo Soares (Solidariedade), que propõe o reconhecimento do espetáculo caxiense como Patrimônio Cultural e Imaterial do Maranhão
"A Procissão do Fogaréu é mais do que as excelentes encenações nas ruas de Caxias, é um grande espetáculo. São 16 anos de história, e de pequeno, se tornou grandioso, é um espetáculo com atores da terra, valorizando suas raízes e isso precisa ser reconhecido", afirmou Adelmo Soares.
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