Já estão recolhidos em presídios do sistema penitenciário, na Região Metropolitana de Belém, os acusados de comandar um esquema de tráfico de pessoas para exploração sexual na região do Xingu, sudoeste do Pará. Os empresários Adão Rodrigues, 51 anos, e Solide Fátima Triques, 38, foram transferidos nessa sexta-feira (22) de Altamira para Belém, sob escolta policial.
Adão Rodrigues está recolhido no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), enquanto a mulher foi levada ao Centro de Reeducação Feminino (CRF). O avião trazendo os presos pousou no Hangar do Estado, no Aeroporto Internacional Val-de-Cans, às 14h15. Com os rostos cobertos por toalhas, os acusados evitaram, de início, responder às perguntas de jornalistas, mas, aos poucos, falaram sobre as acusações.
Aos repórteres, Adão Rodrigues disse que não sabia que havia uma adolescente na boate Xingu, que ele mantinha em Vitória do Xingu. Segundo ele, a garota havia se apresentado com a idade de 25 anos. Já Solide negou que explorava pessoas para a prostituição.
Segundo a delegada geral adjunta da Polícia Civil, Christiane Lobato, ainda há mais pessoas envolvidos no crime. “Geralmente, por trás do tráfico de pessoas, há desde aliciadores até os exploradores sexuais”, explica. Segundo ela, os acusados já foram presos, há dois anos, em Rondônia, onde eram donos de uma casa de prostituição localizada às proximidades de canteiros de obras de uma hidrelétrica naquele Estado.
Em Vitória do Xingu, a boate Xingu ficava a cerca de dez quilômetros de dois canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte. Para a delegada adjunta, fica evidente que os dois aproveitavam a grande movimentação de pessoas atraídas por esses projetos para fazer a exploração de pessoas para programas sexuais.
Resgate – No início desta semana, dois homens presos semana passada na boate Xingu também foram transferidos para presídios na Região Metropolitana de Belém. Eles atuavam como gerente e garçom no estabelecimento. No total, 18 mulheres e um travesti foram resgatados do local.
A maioria das pessoas era procedente de Estados do Sul do Brasil, principalmente, Santa Catarina. Na manhã desta sexta, Adão Rodrigues foi ouvido em depoimento pelos delegados Thalita Feitoza, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Altamira, e Fernando Rocha, do Núcleo de Apoio à Investigação de Castanhal.
O preso admitiu que havia programas sexuais dentro da boate, mas negou que as jovens eram submetidas a cárcere privado e maus-tratos, conforme denunciado por uma adolescente de 16 anos, que fugiu do local e reportou os crimes ao Conselho Tutelar de Altamira e à Polícia Civil. Segundo o acusado, havia uma pessoa específica, no Sul do país, responsável em aliciar as mulheres para a prostituição.
Ele afirmou ainda que desconhecia a existência de uma adolescente na boate. O acusado alegou que a garota havia se identificado como maior de idade. Depois de prestar o depoimento, Adão Rodrigues foi levado para perícia de corpo de delito, em Altamira, e depois, junto com Solide Triques, transferido para a capital. A condução dos presos para os presídios foi feita por policiais civis do Grupo de Pronto-Emprego (GPE), equipe tática da Polícia Civil.
Inquérito – O delegado Lindoval Borges, titular da Delegacia de Vitória do Xingu, disse que a investigação que desarticulou o esquema de tráfico de pessoas para exploração sexual na região foi trabalhosa, mas satisfatória. Responsável pelo inquérito policial, ele entregou os relatórios finais do processo, por volta de 13h30, no Fórum Criminal de Altamira, que responde pela comarca de Vitória do Xingu.
O inquérito foi concluído com mais de 160 laudas, com depoimentos, documentos e perícias, entre outros elementos de comprovação do crime. Ao todo, seis pessoas foram indiciadas. Quatro delas estão presas: os donos da boate Xingu, Adão Rodrigues e Solide Fátima Triques; o gerente da boate, Carlos Fabrício Pinheiro, e o garçom do local, Adriano Cansan. Outras duas pessoas estão foragidas, com as identidades e paradeiros preservados.
Os indiciados vão responder por tráfico de pessoas para exploração sexual; por submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual pessoa menor de 18 anos; por induzir ou atrair alguém à prostituição; por manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, visando lucro, ou por mediação direta do proprietário ou gerente; e por tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente dos lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem exerça a prática ilegal.
Segundo o delegado Cristiano Nascimento, titular da Polícia Civil na região do Xingu, do total de pessoas resgatadas da boate, onze já retornaram aos Estados de origem, inclusive a adolescente, com apoio do governo do Estado. As demais preferiram permanecer em Altamira. (Agência Pará)
Publicado em Regional na Edição Nº 14636
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