Raimundo Rodrigues foi morto com sete tiros

O superintendente da Polícia Federal (PF) no Maranhão, Alexandre Saraiva, disse, nessa sexta-feira (28), que a morte do conselheiro consultivo da Reserva Biológica (Rebio) Gurupi, Raimundo Santos Rodrigues, de 54 anos, foi planejada por uma organização criminosa que atua em Buriticupu.
“O que nós apuramos até agora e podemos dizer com certeza é que esse crime foi perpetrado por uma organização criminosa extremamente letal e organizada que atua na cidade de Buriticupu”, adiantou o superintendente.
Raimundo foi morto com sete tiros e golpes de facão, na quarta-feira (26), no trajeto entre Buriticupu e a casa onde morava na reserva, em Bom Jardim. A esposa dele, Maria da Conceição Chaves Lima, que também faz parte do Conselho Consultivo da Rebio Gurupi, foi alvejada e está internada no Hospital Municipal de Açailândia, onde se recupera do atentado. Dois homens já foram presos suspeitos pelo crime. Em um vídeo, Raimundo havia relatado que vinha sofrendo ameaças.

Apoio do ICMBio - O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Claudio Moretti, disse, durante visita a Açailândia, que o órgão segue firme no combate aos crimes ambientais. Ele se reuniu com representantes do Conselho Consultivo e Gestores da Rebio Gurupi e vistou a esposa do ambientalista morto.
“O que está definido é que todos os órgãos públicos, sobretudo federais, nós também temos a palavra dos órgãos estaduais. Vamos continuar firmes na coibição ao crime. Não podemos permitir que esse tipo de atividade, seja o roubo de madeira, ocupação ilegal de terras, plantação de maconha e assassinato, possam prosseguir”, garante.

Investigação – O Ministério Público Federal (MPF) está apurando a possível relação entre as prisões em flagrante de dois homens por extração ilegal de madeira e porte de arma de fogo na Rebio Gurupi, na segunda-feira (24), e o assassinato do conselheiro.
No pedido, o MPF afirma que Lourival Barbosa Silva e Vitorino Pereira da Silva Neto foram flagrados serrando toras de jatobá e meridiba por representantes da Unidade Avançada da Rebio Gurupi, que estavam na companhia de um policial militar, que deu apoio à missão.
Questionados pelo policial, os dois confessaram que derrubaram as árvores para depois pranchá-las e comercializá-las. Eles foram presos e tiveram apreendidas as motosserras, espingardas de caça calibre 20 e munições. Um dia após as prisões, houve o atentado.

Possível represália – No dia seguinte, a Chefia da Unidade Avançada da Rebio Gurupi encaminhou ofício à PF, que repassou o documento ao MPF. O documento relata que o casal teria sido apontado como informante das autoridades que prenderam Lourival e Vitorino e teria sofrido o atentado a mando de madeireiros da região, que tiveram a exploração criminosa “desembaraçada” parcialmente após as prisões dos dois.
O MPF então pediu a decretação da prisão preventiva dos homens, na quarta-feira (26). No processo, o procurador José Raimundo Leite Filho afirma que a prisão preventiva foi pedida para “garantir a ordem pública” e para “a conveniência da instrução criminal”.
“Vê-se, pois, que a atuação dos flagranteados não parece isolada, mas decorrente de organizada facção criminosa, tanto que preferiram não declinar nomes dos madeireiros, sob alegação de ameaças”, diz o procurador.

Justiça não vê relação – Na decisão sobre o pedido de prisão preventiva, a Justiça Federal afirma que apesar de comprovada a existência e indícios de autoria dos crimes ambientais, não há provas que justifiquem a decretação da prisão preventiva.
Para o juiz Jaime Sarinho, Lourival e Vitorino não representam periculosidade, uma vez que não resistiram à prisão e praticaram os delitos sem violência ou grave ameaça, tendo confessado os atos. Ele também não vê relação entre os dois fatos.
“Não reputo demonstrado, ao menos nesse momento processual, como a prisão em flagrante dos requeridos repercutiu diretamente no evento narrado pelo Chefe da Reserva Biológica”, observa o magistrado.
O juiz então autorizou a expedição de alvarás de soltura e determinou que Lourival e Vitorino fossem liberados mediante às seguintes medidas: pagamento de fiança de dez salários mínimos, comparecimento mensal a Juízo, compromisso de comparecimento a todos os atos do processo e proibição à área da Rebio Gurupi.