O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA), Edilson Baldez das Neves, é engenheiro e empresário do setor de construção civil e hotelaria. Em experiências anteriores, o atual líder do empresariado industrial maranhense já ocupou outros cargos em presidências: do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Lanchonetes, Bares e Similares do Maranhão, assim como da secção estadual da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH). Nessa quinta-feira, 25 de maio, data em que se comemora o Dia da Indústria, Baldez falou com exclusividade sobre o cenário atual e as perspectivas.
Qual sua avaliação do desenvolvimento industrial do Maranhão?
EDILSON BALDEZ - A indústria do Maranhão, assim como a do Brasil, teve uma queda nos últimos anos, tendo em vista esse cenário de incerteza política e insegurança jurídica por qual passa o país. Geralmente, em momentos assim as empresas se ressentem de sua produção. Mas o Maranhão está tendo um crescimento razoável em relação ao que está sendo proposto.
O que seria necessário para melhorar esse cenário?
EDILSON BALDEZ - Temos uma série de projetos que estão saindo da fase de construção e vão acelerar a sua operação. Com isso, temos que fazer com que as reformas trabalhistas e da previdência sejam concluídas e a estabilidade política e econômica restabelecida.
A mão de obra qualificada, ainda, é o principal entrave?
EDILSON BALDEZ - Eu diria que esse não é problema só do Maranhão, mas do Brasil. Nós estamos caminhando no sentido de aumentar essa qualificação. O SESI, SENAI, SESC, SENAC, o IFMA, além das universidades, estão trabalhando na mesma direção de capacitação e qualificação profissional da mão de obra maranhense.
Que outras dificuldades existem no setor?
EDILSON BALDEZ - As nossas dificuldades são antigas. Problema de incentivo fiscal, que é uma discussão nacional, não temos a possibilidade de avançar muito porque, hoje, qualquer incentivo fiscal passa pelo Conselho Nacional Fazendário - CONFAZ e tem que ser aprovado por ele. Temos outros gargalos que são sérios, como a nossa legislação trabalhista, que depois de décadas passa por reformas e precisa ser mudada. Temos também a carga tributária que é grande, difícil de se administrar. E esses fatores contribuem para que as nossas empresas não sejam competitivas, principalmente, no mercado internacional. Nós temos dificuldades de exportar, pois acabamos exportando impostos. Temos que avançar nessas discussões, nessas legislações para que possamos tornar as empresas maranhenses mais competitivas.
O Maranhão já teve vários ciclos industriais, como têxtil, babaçu e cana-de-açúcar. Agora, estamos na era da energia renovável, do petróleo e gás, celulose, siderurgia, entre outras atividades. O senhor entende que será esse um ciclo sustentável e duradouro?
EDILSON BALDEZ - Acredito no gás e na energia renovável, é uma energia que veio para ficar. Não tenho nenhuma dúvida de que esse gás vai abastecer indústrias, mas o que menos irá fazer é ser transformado em energia, como já foi em um primeiro momento. É uma base energética que eu acredito. Em relação ao petróleo, eu creio que sobreviverá por algum tempo, mas estão sendo desenvolvidas outras tecnologias. Então, a médio prazo, ele não será mais essa base energética para o futuro.
As empresas locais estão preparadas do ponto de vista de gestão, competitividade e oferta de bens e serviços de qualidade para essa nova onda de crescimento do estado?
EDILSON BALDEZ - Nos preparamos de acordo com a demanda. As empresas estão se preparando e à proporção que a demanda vai aumentando elas vão se qualificando. Temos um programa de qualificação de empresas, o PDF-Programa de Desenvolvimento de Fornecedores. Em comparação aos anos anteriores, já evoluímos muito. E temos um papel fundamental nesse cenário, por meio, por exemplo, do IEL também preparamos gestores para torná-los competitivos com o MBA em Gestão Industrial.
O senhor citou alguns atores que trabalham com a qualificação de pessoas. Há um diálogo entre vocês? Conseguem de alguma maneira planejar, pensar a indústria, a economia, a educação do Maranhão?
EDILSON BALDEZ - Sim. Todos unidos em prol da educação. É governo federal, estadual, municipal, escolas particulares e esses atores que já citei. Hoje nós temos essa consciência de que precisamos trabalhar juntos. Para que pudéssemos dar um salto de qualidade já fizemos parceria com a UEMA e o IFMA. Então, nós temos intercâmbio, temos parceria e trabalhamos de maneira convergente com o objetivo final de desenvolver o Maranhão.
Qual é o maior desafio da FIEMA hoje?
EDILSON BALDEZ - Consolidar a relação institucional. Já há sinalização do poder público nesse sentido. Já começamos a experimentar alguma coisa e já avançamos porque eu penso que não é questão das pessoas, de ser um governo ou outro, é porque neste momento teremos o nosso parque industrial consolidado a um ponto que não terá volta. O próprio poder público reconhece que há a necessidade de discutir com a classe empresarial o futuro do nosso Estado para que venha atender aos anseios da nossa população e de todos os envolvidos, daí as reuniões do Conselho Empresarial. A FIEMA é um personagem coadjuvante e atuante de todas as ações que pregam o desenvolvimento do Maranhão.
Como a perda de competitividade do Brasil afeta a indústria?
EDILSON BALDEZ - Se existe uma palavra que pode resumir o insucesso do desempenho da indústria brasileira, ela se chama competitividade. Por trás dela, há uma série de motivos para a situação atual: desde a baixa produtividade; o Custo Brasil, o sistema educacional falho. É um tema mais do que apropriado, especialmente neste momento, quando é preciso buscar fazer mais com menos. É o grande desafio da indústria, já que o histórico não é favorável: em 10 anos, a perda foi de quase 1% ao ano na participação do PIB (Produto Interno Bruto).
Como a FIEMA pode colaborar para essa mudança?
EDILSON BALDEZ - Entendemos que a Federação das Indústrias deve colaborar para melhorar o desempenho econômico e social. Algo que temos que exercitar ao máximo é a convergência das entidades, dos atores que fazem parte de qualquer processo de desenvolvimento e crescimento das regiões.
O Brasil tem perdido competitividade. Se o senhor pudesse focar em um ponto para mudar esse quadro, qual seria?
EDILSON BALDEZ - Falta de foco, falta de gestão pragmática. Nas crises, surgem as oportunidades. Nesse momento, podemos gerar condições mais favoráveis para fazer as medidas duras e necessárias para o país crescer. Temos que encontrar uma solução para a crise política. Hoje, há crise econômica, com causas e efeitos identificáveis. Mas o que ajuda mais a alimentar uma crise econômica é a expectativa. O mercado financeiro costuma dizer: bolsa de valores sobe na expectativa e cai no fato. Isso vale para toda a economia. O que mais impede que possamos vislumbrar qual será o ciclo dessa crise econômica é uma situação política indefinida.
Essa crise política pode travar ainda mais o crescimento do país nos próximos anos?
EDILSON BALDEZ - Pode travar a possível saída desse ciclo de crise econômica. Ciclos que todas as economias mundiais enfrentam, o Brasil já passou por alguns, mas é um ciclo. Essa ambiência da crise política brasileira, no entanto, não permite saber quando esse ciclo começará a mudar. Isso não é bom para o Brasil.
A indústria não está vendo então essa luz no fim do túnel?
EDILSON BALDEZ - Nós ainda temos um certo receio da situação (política) se agravar antes de começar a vislumbrar uma melhora (na econômica). É difícil ter essa previsibilidade. E a indústria precisa trabalhar com planejamento. Hoje, é muito difícil fazer planejamento com risco aceitável. Por isso, é natural que os investimentos sejam postergados, alguns até cancelados.
Pior ainda: investimentos serem destinados a outras economias, onde não haverá possibilidade de retorno. Mas o cenário do mercado global se reverteu e nós estamos no ápice de uma crise, resultado de alguns equívocos da política econômica e que afetaram sobremaneira a indústria.
Que fatores são essenciais para uma nova política para a indústria?
EDILSON BALDEZ - Temos uma realidade tributária desatualizada, não condizente com a competitividade mundial. O alto custo da energia penaliza a produção. O Brasil tem uma das energias mais baratas do mundo, a hidrelétrica, mas cobra alto e se tornou uma das mais caras. O fator energia, especialmente no Nordeste, tem peso importante no custo do processo industrial. É um país só, mas nós somos desiguais e precisamos ser tratados também como desiguais para que a busca dessa unicidade seja mais possível.
Além disso, o sistema produtivo industrial não pode ter crescimento sustentável com as elevadas taxas de juros praticadas.
O setor conquistou mais representatividade a partir do Sistema FIEMA. Como isso aconteceu?
EDILSON BALDEZ - A primeira coisa que fizemos à frente do Sistema FIEMA foi dar um suporte maior para a organização dos sindicatos industriais e, nesse sentido, criamos agentes multiplicadores dos serviços do SESI, SENAI e IEL e da própria Federação. Defendemos sempre que os sindicatos industriais precisam ser fortes para que esta Federação também o seja. Por isso, é contínua a interação que fazemos com eles, buscando sua consolidação e modernização. Assim, crescemos juntos.
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