Curionópolis-PA - O interventor Marcos Alexandre Mendes, nomeado pela Justiça de Curionópolis na sexta-feira da semana passada (11/10) para reorganizar a Coomigasp em um prazo de seis meses, visitou na quinta-feira (17) a vila de Serra Pelada para conversar com os garimpeiros que moram na área. A maioria dos garimpeiros o recebeu de forma carinhosa e prestou bastante atenção em suas explicações durante reunião na sede antiga da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada.
A rejeição de uma minoria ocorreu apenas no momento em que o interventor visitou o acampamento instalado nas proximidades da área onde a empresa Colossus trabalha na escavação da mina, visando à produção de ouro, platina e paládio nos próximos meses. Algumas pessoas mais exaltadas não quiseram nem ouvir as explicações de Alexandre Mendes, alegando que “não vão aguentar esperar por mais seis meses para ver a situação resolvida”.
Bem calmo e demonstrando tranquilidade, o interventor disse que sua intenção era apenas conversar, trocar informações e declarou que está ao lado dos garimpeiros. “A intervenção não é para assumir a presidência da Coomigasp. Eu vim para organizar a cooperativa, já que ninguém sabia quem era o presidente de fato devido à disputa entre dois grupos de garimpeiros”, explicou. Ele deixou claro que não tem vínculo com a Colossus. “Nunca entrei na Colossus. Não tenho nada a ver com esta empresa. Fui nomeado para resolver a questão ao lado dos garimpeiros”, frisou.
Apesar da insistência de Alexandre Mendes, o grupo de pessoas acampadas não quis ouvir detalhes das explicações do interventor. “Não aceitamos esta intervenção. Não vamos ficar aqui sofrendo debaixo de lona por mais seis meses”, afirmaram alguns garimpeiros fiéis ao líder garimpeiro Vitor Alborado, que chegou a ser eleito em uma assembleia, que posteriormente foi anulada pela justiça do Pará, dando reintegração de posse ao presidente anterior, Valder Falcão.
Já de volta à sede antiga da Coomigasp, em Serra Pelada, Alexandre Mendes foi bem recepcionado por um grupo e teve a oportunidade de explicar os motivos da intervenção na cooperativa e como será o seu trabalho para organizar a entidade garimpeira. “Viemos para resolver o problema ao lado de vocês. Sou da região e conheço bem a realidade do garimpo de Serra Pelada”, destacou.
Depois, em entrevista à imprensa, o interventor fez uma avaliação positiva da reunião com os garimpeiros e funcionários da Coomigasp. “Foi bastante positiva sim. Os garimpeiros estão acreditando na Justiça. Vamos realizar um trabalho sério e transparente com a colaboração de profissionais capacitados e qualificados. Estamos aqui para lutar em favor dos garimpeiros”.
Abertura de contas
Sobre a reação contrária à intervenção, manifestada por um pequeno grupo no assentamento localizado próximo à área da mina, Alexandre Mendes considerou o fato normal. “Já estava preparado para aquela reação. Os garimpeiros estão cansados de ser enganados e a resposta nem sempre vem como eles querem. Vamos fazer o possível para que em seis meses a Coomigasp possa estar saneada. Vamos mostrar resultado”, declarou.
Ele disse que, além de sanar as dívidas da cooperativa, uma das medidas principais “é providenciar a abertura de contas bancárias dos cooperados para que, em breve, quando a Colossus começar a pagar os dividendos da produção mineral, os garimpeiros recebam seus valores diretamente nas contas, sem interferência da cooperativa”. E mandou uma mensagem aos garimpeiros. “Confie no trabalho do interventor e de sua equipe de profissionais tecnicamente capacitados. Este sonho nós vamos realizá-lo. Haverá uma fiscalização constante sobre nosso trabalho e vamos fazer o melhor por vocês. Acreditem!”.
Repercussão
O garimpeiro Gonçalo Ferreira da Silva, que há mais de 25 anos sonha em receber algum valor oriundo da exploração do ouro de Serra Pelada, estava confiante no trabalho do interventor. “Vamos aguardar acontecer. Esperamos dias melhores. Chega de sofrimento e só gastando dinheiro com viagens sem receber nada. Agora mesmo meus filhos estão precisando de dinheiro no Maranhão e eu não tenho como enviar nada para eles. Espero que ele resolva esta situação”.
O experiente garimpeiro João Francisco Gaia, de 73 anos, que chegou ao garimpo em 23 de abril de 1982, disse que estava cansado de promessas, mas também demonstrou confiança no interventor. “É um entra e sai de presidente e agora o interventor, muita promessa, mas nada se resolve. Mas esperamos que a partir de agora a coisa se reverta em prol dos garimpeiros”.
Outro garimpeiro, “seu” Lourival Chutz, de 76 anos, destacou que a esperança é boa. “Esperamos resultados positivos há 32 anos, mas até agora não sabemos o que vai acontecer. Nesse tempo todo comemos o pão que o diabo amassou, mas acredito que com o trabalho do interventor a coisa ficará boa para todos nós”.
Antônio Alves da Silva Neto, de Arapoema (TO), que também luta por seus direitos de garimpeiro desde a década de 1980, disse que “gostaria que o Arquiteto do Universo colocasse nas mãos das autoridades competentes a solução para o problema dos garimpeiros. Teve presidente que passou pela Coomigasp e até vendeu o que não era dele e sim o que pertence a esta classe sofrida”, destacou Antônio, alertando que “o interventor também deve tratar da regularização fundiária dos mais de mil hectares pertencentes à Coomigasp em Serra Pelada”.
O garimpeiro pediu justiça para esta classe tão sofrida. “Falta justiça para o povo garimpeiro. Se não tivermos uma força séria não vamos resolver nossa situação”, destacou. (Ascom-Coomigasp)
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