Uma série de propostas de mobilização social pelo desenvolvimento da cultura da paz nas escolas foi apresentada na manhã desta quarta-feira (13) no auditório do Liceu Maranhense pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc). O programa ‘Marapaz’ e os subprogramas ‘Mais Grêmios’, ‘Mais Mobilização’ e ‘Mais Paz’ nas escolas serão aplicados como pilotos em 20 escolas públicas da capital maranhense a partir do próximo mês. A iniciativa é fruto de um levantamento conduzido pelos estudantes de escolas públicas estaduais e municipais, que apontaram a situação da violência escolar em capitais brasileiras e esboçaram medidas para seu enfrentamento.
A iniciativa faz parte do programa ‘Pacto pela Paz’, macropolítica instituída pelo Governo do Maranhão em busca da redução da violência e estímulo à cultura da paz. O primeiro seminário do ‘Marapaz’, programa de Mobilização para Educação e Paz, está previsto para maio e deve envolver toda a comunidade escolar.
De acordo com a coordenadora do Programa de Prevenção à Violência nas Escolas, Socorro Castelo Branco, as propostas levam a tônica do engajamento dos estudantes na construção da política educacional e de combate à violência escolar. “Os jovens são os atores do trabalho. Queremos que eles se sintam pertencentes à escola. A ideia é que tenhamos a participação deles nos grêmios estudantis, que haja mobilização social no entorno da escola”, disse a coordenadora.
O supervisor de Políticas para a Juventude da Seduc, professor Márcio Silva, aponta que a diversidade de violências – bullying, violência patrimonial, violência psicológica – pode ser combatida a partir da própria conscientização dos estudantes. “A participação dos alunos dentro das escolas pode minimizar a violência. Se o próprio cidadão começa a ter uma atitude positiva, conseguimos construir uma sociedade menos violenta. Queremos incentivar uma ação positiva dentro da rede e externar isso, dotando o cidadão jovem da percepção de que é possível que ele construa uma nova realidade não só como mero ator, mas como agente da transformação social”, disse o supervisor.

Protagonismo juvenil

Com o ‘Mais Grêmios’, a intenção da gestão estadual é incentivar o protagonismo juvenil, com o resgate dos grêmios estudantis. “Essa é uma ação de estudante para estudante, que deve partir de meninos e meninas em idade escolar, que desejam lutar pelos seus direitos enquanto educandos e ter atuação e militância em prol da garantia do direito coletivo, com escolas livres de quaisquer violências”, detalhou a professora Elaine Azevedo, que coordena o subprograma. Segundo ela, a meta macro pretende gerar um ambiente mais seguro, saudável e humano.
Guilherme Soares, estudante do 2º ano do Liceu Maranhense, assumiu este mês a presidência do grêmio estudantil da escola. Para ele, a unidade e o estímulo à mudança de comportamento são elementos estratégicos para obter o ambiente escolar almejado. “Trabalhamos com a teoria de que podemos fazer a diferença dentro do contexto escolar, dentro da família ou em qualquer outro contexto em que esteja inserido. A gente acredita que o verdadeiro segredo para o sucesso do projeto, para que possamos combater essa situação de violência, é repensar as ações. Temos três cenários: o poder público, o contexto escolar e a sociedade em geral. Trabalhando isso em comunhão, temos uma chance de sucesso ainda maior”, afirmou Guilherme.
Além do ‘Mais Grêmios’, o ‘Mobiliza Maranhão’ e o ‘Mais Paz nas Escolas’ planejam integrar família, comunidade e professores. Segundo Socorro Castelo Branco, o ‘Mobiliza Maranhão’ atrai a família e a comunidade para o ambiente escolar, a partir de movimentos de sensibilização para participação em grupos de trabalho e acompanhamento destes grupos. Já o ‘Mais Paz nas Escolas’ agrega o eixo gestores e professores, de forma a reunir mecanismos que fortaleçam a relação deles com estudantes.

Integração

As ações serão desenvolvidas de maneira integrada, e, além de toda a sociedade, mobilizam outros órgãos do Governo, como as Secretarias Estaduais de Segurança Pública (SSP) e Juventude (Seejuv). Segundo o secretário adjunto de Educação, Fábio Rondon, as propostas levam em consideração o contexto do entorno das escolas, para construir alternativas sólidas de prevenção à violência.
“Na medida em que temos a compreensão de que a violência é um problema que envolve toda a sociedade, a integração nos conduz para que vários atores possam participar de modo efetivo para que avancemos de forma prática no combate à violência escolar. As drogas e os homicídios são uma realidade às portas das nossas escolas. A perspectiva é de que sejamos a ponte para que cada um assuma esse protagonismo importantíssimo para que construamos soluções para a problemática da violência”, comentou Fábio Rondon.
Para a coordenadora do programa Ronda Escolar da Secretaria de Estado de Segurança do Maranhão (SSPMA), capitã Edyhelem Santos Carneiro, a parceria entre as secretarias fomenta um ambiente de formação propício à reestruturação do cenário social onde há conflitos e a troca desse contexto por um espaço de diálogo e cultura de paz. Atualmente, a Ronda Escolar está distribuída em sete polos de atuação com cobertura em toda a região metropolitana.
“Estamos na ronda do lado de fora, mas também dentro das escolas, diuturnamente, não no sentido de repressão, mas de prevenção, para incutir no aluno que ele é um cidadão. Que pichar, quebrar uma cadeira ou desrespeitar o professor são violências que vão repercutir fora da escola. Trabalhamos muito a questão da conscientização, fazemos mediação de conflitos. O policial na escola demonstra que pode ser espelho para o aluno, para que ele não tenha como exemplo de sucesso o traficante. Precisamos resgatar o pensamento de que bom é fazer o correto”, opina Edyhelem.

Pesquisa

Cerca de 150 estudantes da rede estadual de ensino conduziram uma pesquisa para traçar um diagnóstico da violência nas escolas em São Luís, a partir de aplicação de questionários, entrevistas, observações em campo. Ao todo, sete capitais fizeram o levantamento com metodologia disponibilizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Facso). Nesta quarta-feira (13), os monitores e professores mediadores foram certificados pelas 200 horas de pesquisa e compartilharam propostas para o redimensionamento do protagonismo estudantil no ambiente escolar. Cerca de 700 alunos de 15 escolas estaduais e de quatro escolas municipais foram ouvidos durante os dez meses de duração da experiência.