São Luís - Fala hipernasal, problemas depressivos e falhas na ingestão de alimentos são alguns dos problemas que afetam uma pessoa com fissura labiopalatal ou apenas labial. O problema, conhecido popularmente como lábio leporino, é uma má formação genética que atinge cerca de 300 mil brasileiros, sendo em média um caso para cada 650 nascidos. Para quantificar a incidência de casos de fissura labial no Estado do Maranhão, o professor do departamento de odontologia da UFMA, Benedito Viana, realizou de 2000 a 2002 uma pesquisa em três municípios do interior do Estado.
A pesquisa, realizada pelo departamento de Odontologia II da UFMA nos municípios de Santo Amaro do Maranhão, Humberto de Campos e Primeira Cruz, identificou um dado preocupante: nessas cidades maranhenses, a média foi maior que a brasileira, é um caso para 473 nascidos. O que preocupa é o fato de o Estado ainda não dispor de um centro especializado em cirurgia de fissura labial e de palato. No Maranhão, estima-se que haja mais de 14 mil casos de lábios fissurados. Parte dos diagnosticados é encaminhada para o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (Centrinho), em Bauru, que é o centro de referência de tratamento desse problema no Brasil e no exterior.
O que é fissura labiopalatal - A fissura labiopalatal é uma abertura do lábio ou palato ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas no período inicial da gestação. Esse problema é popularmente adjetivado de leporino devido à semelhança com o focinho fendido de uma lebre. Essa deformação ainda tem causas desconhecidas e atinge pessoas de qualquer classe social e etnia.
O que muitos fissurados não sabem, principalmente de lugares mais carentes, é que há cirurgia e todo um tratamento para solucionar o problema, e que o governo federal paga tudo, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
A maioria das pessoas com fissura labiopalatal sofre de baixa autoestima, problemas na fala, na ingestão de alimentos, entre outros. Nos municípios estudados pela pesquisa do professor Benedito Viana, foram encontrados casos de pessoas adultas que tinham o problema e passaram a vida toda reclusas em casa por causa da vergonha.
“A pessoa com esse tipo de fissura tem uma série de problemas, desde físicos até psicológicos. Existe uma política nacional para pagamento desse tratamento. O pagamento é feito pelo governo, ele é simples, basta ter uma equipe e lugar. Nós montamos um grupo com um ortodontista, um cirurgião plástico e fonoaudiólogo, aqui do Maranhão, e enviamos para Bauru para fazer treinamento, mas falta um local físico para ser montado o centro de tratamento”, enfatiza o professor Benedito.
Tratamento  - A cirurgia da fissura no lábio deve ser feita, segundo o protocolo estabelecido, aos 3 meses de idade. E depois faz tratamento com o fonoaudiólogo. Já a de fissura de palato pode ser realizada com 1 ano e meio de nascido. Segundo o professor Benedito, quanto mais cedo for feita a cirurgia, é possível reverter a situação. Se for feita quando adulto, a possibilidade de reverter o quadro é bem menor. Daí a importância de políticas públicas na área da saúde, para levar às comunidades carentes do Maranhão o conhecimento dos tratamentos e a possibilidade de identificar, ainda na gestação, pessoas com tal anomalia.
Segundo o professor, após a cirurgia, em muitos casos, é necessário fazer o enxerto da gengiva, a oclusão dos dentes e colocar aparelho. Tem, em alguns casos, que fazer cirurgia de maxila. O tratamento completo dura cerca de 20 anos.
O processo cirúrgico da fenda labial e palatina é muito importante, não apenas por questões estéticas, mas devido à qualidade de vida, pois há muito preconceito na sociedade, além dos problemas relacionados à alimentação, alterações na fala e voz hipernasal. Há casos de fenda que se estendem ao palato, podendo haver aspiração alimentar por crianças, ocasionando infecções como otite e pneumonia e até perda auditiva.