Da CNV
A Comissão Nacional da Verdade continua a realizar uma série de depoimentos e diligências visando obter mais informações sobre as circunstâncias da prisão e morte do líder camponês Epaminondas Gomes de Oliveira, morto aos 68 anos, em Brasília, sob custódia do Exército, em agosto de 1971.
Em depoimentos prestados ainda na segunda-feira, familiares revelaram que desejam que Epaminondas, caso identificado, seja enterrado ao lado de sua mulher, Avelina Rocha, em Porto Franco, onde a família luta para que sua memória seja preservada e mais conhecida pelos cidadãos locais.
Com o apoio da Polícia Federal, a Comissão Nacional da Verdade colheu à tarde material biológico de dois filhos de Epaminondas para exame de DNA e apurou informações com o auxiliar do dentista que atendia ao líder camponês. A comissão colheu depoimentos de seis familiares da vítima que vivem no Maranhão e no Pará.
Policiais federais do DPF em Imperatriz vieram a Porto Franco colher material biológico para exame de DNA de Epaminondas Rocha de Oliveira e Beatriz de Oliveira Rocha, filhos de Epaminondas. Até então, a CNV contava apenas com amostras de DNA de netos do camponês.
Em seguida, a Comissão e o antropólogo forense da Polícia Civil do Distrito Federal, Aluísio Trindade Filho, que colabora com a CNV, entrevistaram o ex-vereador Colemar Rodrigues do Egito, que exerceu a função de auxiliar do dentista Rui Rodrigues do Egito, que tratava Epaminondas.
Colemar reconheceu que o material utilizado na restauração de um molar encontrado na sepultura que pode ser de Epaminondas era de um material comumente utilizado na época no consultório de seu irmão Rui.
A CNV colheu os depoimentos de Epaminondas (filho), Beatriz e da esposa de Epaminondas, Inês da Costa Oliveira. Os três reforçaram que Epaminondas era um militante pacífico. O filho contou, pela primeira vez, como foi forçado, por agentes do Exército, a identificar o garimpo onde o pai estava trabalhando, no Pará.
Os três relataram que foram monitorados por agentes da repressão antes e depois da Operação Mesopotâmia e Epaminondas Rocha de Oliveira, traumatizado, sofreu preconceito de colegas de trabalho na empresa pública da qual era funcionário, os quais diziam que seu pai era terrorista, o que o levou a pedir demissão.
Em seguida, os filhos de Epaminondas e Inês, Nora Ney e Manoel Benício, prestaram depoimento emocionados sobre as dificuldades vividas na família em virtude do desemprego do pai e o trauma causado na família pela perda de Epaminondas.
Uma das noras do líder camponês, Joana Pereira Rocha, viúva de Cromwell, filho de Epaminondas Gomes de Oliveira, falou da atuação política do líder camponês, que também era sapateiro e artesão em couro, e lutava por melhorias na área de saúde, educação e pela divisão igual da terra no sul do Maranhão.
"Ele não era politiqueiro, era político, mas fazia uma política decente, honrada. Ele fazia parte de um partido, mas tinha vontade de ajudar os que tinham necessidade", disse Joana. "Ele morreu porque não andava com a classe alta, não bajulava ninguém. É por isso que não há sinal nenhum de Epaminondas aqui na cidade, não tem nem um pedaço de meio-fio com o nome dele, porque ele era altamente independente", afirmou.
Ao final do depoimento, o gerente de projeto do grupo de trabalho Graves Violações de Direitos Humanos (Mortos e Desaparecidos), da CNV, Daniel Lerner, entregou a Joana e Beatriz todos os documentos sobre Epaminondas Gomes de Oliveira e sobre a Operação Mesopotâmia localizados pela CNV. "A grandeza de Epaminondas é muito maior que o nosso trabalho", afirmou Lerner. Para ele, sem a cooperação da família, as dificuldades no caso seriam muito maiores.
Pela manhã, a CNV manteve encontros com líderes políticos de Porto Franco e região: o prefeito Aderson Marinho, o presidente da Câmara de Vereadores, Josivan Nogueira, e a deputada estadual Valéria Macedo, que permaneceu na cidade a pedido do deputado estadual Bira do Pindaré, presidente da Comissão da Verdade do Maranhão, que funciona na Assembleia Legislativa. Ela designou, a pedido da CNV, uma psicóloga para acompanhar e atender os familiares de Epaminondas durante e após os depoimentos.
A CNV também esteve com o juiz da 2ª Vara de Porto Franco, Armindo Reis Nascimento Neto, e a promotora Ana Cláudia Cruz dos Anjos, que se colocaram à disposição da Comissão.
Após a visita à prefeitura, a CNV conheceu o Ponto de Cultura João Carlos Haas Sobrinho, que recebe o nome do médico desaparecido na Guerrilha do Araguaia. Haas viveu por 20 meses em Porto Franco antes de se engajar na guerrilha e foi o primeiro cirurgião a atuar na cidade.
Epaminondas Gomes de Oliveira usou seus contatos no Partido Comunista para que o médico fosse enviado para Porto Franco. Apesar de sua liderança nata e sua atuação nas áreas de saúde e educação, Epamimondas não dá nome a nenhum equipamento ou logradouro da cidade. "Queremos que a memória de meu avô seja preservada", disse Manoel, neto de Epaminondas.
Ontem, terça-feira (22), a CNV colheu depoimentos de ex-agentes da repressão e de familiares e sobreviventes da Operação Mesopotâmia, que prendeu não só Epaminondas, mas várias lideranças políticas da região que se opunham ao regime militar.
Pela manhã, a CNV entregou um exemplar da publicação "Direito à Memória e à Verdade", que traz a biografia de todos os mortos e desaparecidos políticos à Secretaria Municipal de Cultura, para que o livro fique à disposição dos moradores de Porto Franco na Biblioteca Municipal. O trabalho da CNV em Porto Franco e Tocantinópolis tem o apoio logístico dos netos de Epaminondas: Epaminondas de Oliveira Neto e Cromwell de Oliveira Filho. (Assessoria)
Publicado em Regional na Edição Nº 14836
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