SÃO LUÍS - Advertir mulheres sobre estabelecimentos com grande potencial de risco de assédio: essa é a principal função do aplicativo SafeGirl, um projeto desenvolvido em conjunto pelos estudantes Brenda de Abreu Sá, Mateus Bezerra e pelo já graduado Vítor Moraes. Brenda é estudante do curso de Direito da UFMA, enquanto Mateus cursa Ciências da Computação pela Universidade Federal do Amapá (Unifap), e Vítor já é formado em Direito pela UFMA.
O app foi planejado com o intuito de concorrer na competição "Campus Mobile", uma atividade realizada pelo Instituto NET Claro Embratel voltada a soluções por meio de inovações tecnológicas em quatro categorias: Smart Cities, Smart Farms, Educação, além de Diversidade, que foi a categoria escolhida pela equipe SafeGirl. Brenda conta que um dos fatores determinantes sobre o tema do projeto foi a atuação dos membros da equipe sobre a defesa dos Direitos Humanos na sociedade, por meio de movimentos sociais.
"Focamos o aplicativo no empoderamento feminino e na proteção das mulheres. Isso porque percebemos que, ao mesmo tempo que o movimento feminista está crescendo e tornando as mulheres mais independentes, os índices de violência e assédio no Brasil só aumentam. A partir desse problema, decidimos que a ferramenta deveria auxiliar as mulheres a se divertirem e usufruírem o seu direito ao lazer e à liberdade com mais segurança", disse.
Como funciona?
O SafeGirl utiliza georreferenciamento colaborativo entre os usuários da plataforma para identificar estabelecimentos que construam ou não uma relação saudável com clientes e consumidoras. Não é preciso estar presencialmente no local para avaliá-lo: basta procurá-lo em um mapa.
Brenda explica que o projeto tem como público-alvo mulheres que gostam de sair ou viajar sozinhas ou até mesmo ficar na companhia de amigas. "As mulheres desejam usufruir a sua independência sendo respeitadas, sem assédios ou importunações, mas nem sempre é possível identificar quais locais oferecem mais segurança e conforto para elas. É necessário que as políticas de proteção e empoderamento se apropriem dos meios tecnológicos para oferecerem maior capilaridade e eficácia ao público-alvo", ponderou.
Equipe
Brenda e Vítor já se conheciam devido à convivência na Cidade Universitária e na participação de movimentos sociais. Vítor convidou Mateus, seu amigo, para integrar a equipe, uma vez que Mateus também participa desses movimentos no Amapá, local em que reside. Devido a uma distância de mais de 800km entre São Luís e Macapá, a equipe se reúne por meio de videoconferências. "Nosso trabalho tem sido intenso e desafiador, mas também extremamente gratificante, especialmente quando vemos que o projeto está indo pra frente. Enxergamos essa distância como um desafio a mais, não como um entrave", afirma a estudante.
O resultado da seleção do projeto pela competição foi divulgado em dezembro. "Quando recebemos o e-mail da Campus Mobile informando que tínhamos sido classificados para concorrer na categoria Diversidade, quase não acreditamos. A alegria e empolgação foram inevitáveis. Imediatamente, organizamos um cronograma de tarefas compartilhadas e encontros semanais via videoconferência para o cumprimento das metas estabelecidas", contou Brenda.
Desenvolvimento
A equipe ainda está desenvolvendo o aplicativo, que passa, constantemente, por aprimoramento e inserção de novas funcionalidades, com previsão de lançamento para fevereiro deste ano. Desde dezembro de 2018, os estudantes realizam a programação do aplicativo e, embora o projeto esteja sendo liderado pelo trio, outras mulheres colaboram enviando ideias e sugestões. O SafeGirl será anunciado após a conclusão da etapa presencial da Campus Mobile, que ocorrerá no mês de fevereiro, na Universidade de São Paulo (USP). O programa estará disponível para dispositivos Android e iOS.
Atualmente, a competição avalia o aplicativo por meio de um ambiente virtual, onde são enviados feedbacks em relação aos protótipos iniciais e também esclarecimentos de possíveis dúvidas por meio de tutores. "Estamos trabalhando intensamente para aprimorar nosso projeto para a semana presencial. Contamos com importantes parcerias no nosso desenvolvimento, como o programa Inova Maranhão, a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular do Estado do Maranhão (Sedihpop), movimentos e coletivos feministas, alguns setores da imprensa e centenas de mulheres voluntárias que tomaram conhecimento do projeto e contribuíram na validação da proposta", explicou.
"O aplicativo SafeGirl tem a minha cara e a cara de várias outras mulheres que, assim como eu, querem exercer o seu direito ao lazer, ir e vir, com segurança, conforto e diversão. Vivemos em um país em que o feminicídio só aumenta, e a violência de gênero é uma constante. Usar a tecnologia como forma de resistência e combate à violação de direitos humanos, é legítimo e necessário. Nós, mulheres, queremos sair com a roupa que quisermos, pois ela não é um convite e não nos define. Queremos nos divertir com nossas amigas, sem sermos assediadas. Não queremos mais que o nível de bebida alcoólica consumida e a roupa curta que usamos seja justificativa para o alto índice de estupros em festas. Um georreferenciamento de locais avaliados pelas próprias usuárias é uma maneira eficaz de evitarmos determinados estabelecimentos que são coniventes com a violência exercida pelo seu público masculino. O aplicativo é de mulheres feito para mulheres exercitarem sua (r)existência com liberdade!", disse a estudante.
A equipe vencedora da Campus Mobile receberá uma premiação em dinheiro e uma visita ao Vale do Silício (Califórnia, Estados Unidos). O resultado será divulgado no dia 24 de abril pelo site oficial da competição.
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