Por Vâner Marinho
Localizado na cidade velha de Porto Franco, o tradicionalíssimo Bar do Polibio comemorou, no último dia 19, os seus 58 anos de vida, cercado de muita expectativa por parte dos seus frequentadores locais e outros, de diferentes regiões brasileiras, que mal chegam de férias ou de passagem, se dirigem ao Bar para beber a melhor cerveja da cidade e matar a saudade das estórias ali contadas pelo seu proprietário Polibio Gomes Cavalcante, grajauense, que por aqui aportou no ano de 1945 com muita disposição para o trabalho e que, em julho de 1957, já ali se estabeleceu, criando um grande círculo de amizades de todos os portofranquinos e pessoas da vizinha cidade de Tocantinópolis (TO).
No início era apenas o Bar, com suas prateleiras abarrotadas de bebidas de todas as marcas, como Martini, Vodka, Campari, Vermouth Gancia, Cinzano Seco e Doce; cachaças de todos os tipos, cervejas e os famosos enlatados como: kitute de boi, palmitos, azeitonas, feijoada e tantos outros produtos apreciados pelos cachaceiros contumazes. Também, localizada em uma sala ao lado, a insuperável radiola GE de madeira amarelada, alta fidelidade (HIFI) para a execução dos discos Longs Plays, os Compactos simples e duplos, além dos pesados 78 rotações dos famosos artistas da época, Luiz Americano (sax alto e clarineta), Zé Calixto (sanfona 8 baixos de botão), Bievenido Granda (famoso cantor argentino de boleros), Valdik Soriano, Núbia Lafaiete e os concorridos mambos de Peres Prado. Por lá, passaram muitos músicos famosos da região como Chico Baliloia, Valdir Boré, Sinesio Galvão, Benedito Caxiense, o famoso regional Chão de Estrelas de São Luís do Maranhão, e o rabequeiro Hermógenes de Caxias. Dominando o ambiente, o balcão construído de tijolos aparentes e bancada larga de madeira, local preferido dos clientes e confessionário histórico de muitas desilusões.
Era parada obrigatória de muitos instrumentistas e pobre daquele que por descuido, tocasse uma nota errada. Polibio tinha e ainda tem um “ouvido” apuradíssimo tanto para perceber uma falha por poucos notada na parte melódica, como para o andamento rítmico da música executada. Muitos foram os que saíram chateados de lá, após levar uma bronca do proprietário do Bar por cometerem deslizes na execução de uma música, principalmente os choros. O mestre Polibio, além de músico nato, foi um grande dançarino, daqueles que não perdia uma parte nos bailes da cidade. Tinha um ritmo impressionante sem nunca perder o compasso da orquestra.
Logo após ter se estabelecido com o Bar, Polibio preparou uma sala para receber as pessoas que gostavam de dançar. Ali, os casais de Porto Franco adotaram como espaço para as danças, namoros ao som da grande radiola GE. Um grande acontecimento, no entanto, emudeceu os frequentadores mais assíduos: a derrubada do velho balcão de madeira que circundava toda a área do Bar. Balcão que foi testemunha de todos os comentários confidenciais e bebedeiras com começo e sem fim, conversa fiada, lançamento de candidaturas, lamentos, etc.
É que a esposa do Polibio, Dona Dinorá, fez, durante muitos anos, uma cerrada campanha para que, anexo ao bar, fossem colocados para venda, alguns produtos de mercearia no intuito de diminuir a frequência dos eternos bebedores de pinga e cerveja. Os apreciadores de cerveja costumam dizer que: “A melhor marca de cerveja é a gelada”. Eu afirmo que não existe cerveja mais gostosa do que aquela aberta pelo Polibio - Ele carrega a garrafa de um jeito especial e, após colocá-la sobre a mesa, executa a abertura com um gesto muito próprio: segurando a chave com a mão direita, ele procede a abertura, contraindo os lábios como se estivesse experimentando o seu conteúdo. Não tem nada igual. A sua experiência de meio século de bar lhe permite conhecer de longe se o cliente vai pedir fiado.
Para aqueles cachaceiros mais abusados, ele tem a receita perfeita para fazê-los procurar outra freguesia, como por exemplo: servir a cerveja em estado natural, ou preparar o famoso “coquetel” - mistura de cachaça, resto de cerveja, um pouco de vodka, outro tanto de cinzano que, misturados, viram um verdadeiro “olho de machado”, fatal para clientes dessa espécie. Depois disso, é só dar uma “ficha” pro carregador levar o infeliz até a sua morada.
Mas se você pensa que o Bar do Polibio só é frequentado por gente comum, anote aí: no seu famoso balcão de outrora, já beberam da sua cerveja artistas como Roberto Muller, Noca do Acordeon e Valdik Soriano. Na época da construção da Belém-Brasília, por la passaram Valdir Buide (superintendente da Rodobrás), Mario Braga (chefe) e Bernardo Sayão (o comandante geral da construção). Posteriormente, já nos anos 60, foram seus clientes Ildefonso Limirio Gonçalves, hoje presidente do Grupo Neoquimica (o 2º Laboratório Farmacêutico do Brasil), e seu filho Marco Aurélio, o poeta Moreira Neto e Waldemar Pereira, além de muitos representantes de empresas de renome nacional. Ainda hoje, seu bar é frequentado por pessoas de destaque da mídia nacional como o repórter Julio Mosquera, da Rede Globo, frequentador assíduo durante todo o mês de julho.
O nosso bom Polibio, além de tudo, passou esses 50 anos ouvindo detrás do seu balcão muitos lamentos, crises conjugais, problemas financeiros, intrigas e todo tipo de conversa que flui da boca do bebedor de cerveja. Ainda hoje, o freguês pode ser servido pelo próprio Polibio, que nunca perdeu o jeito especial na abertura da garrafa. Há dois anos, a velha casa localizada em frente ao bar que nos anos 60 funcionou o Hotel Brasília, da saudosa Veronilia Barros, desabou e surgiu o concorrido Poleiro do Galo, ponto de chegada do Bloco Carnavalesco “O Galo da Manhã”.
Este é o Bar do Polibio, com meio século de vida. Parabéns pelos seus 50 anos de atividades, parabéns pela sua tradição, parabéns por ter trazido alegria e descontração aos fiéis apreciadores do autêntico bar interiorano, simples e aconchegante que proporciona um ambiente saudável e familiar a todos que o frequentam.
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