Após ser adiada, a primeira viagem comercial oficial pela Ferrovia Norte-Sul saiu de Anápolis, a 55 km de Goiânia, às 6 horas dessa quinta-feira (10), em direção ao Itaqui, em São Luís, no Maranhão. O trem é composto por três locomotivas, que tracionam 80 vagões carregados de farelo de soja.
A viagem é realizada mais de um ano e meio depois da inauguração do primeiro trecho goiano da ferrovia, em maio de 2014, e de mais de 26 anos do início da construção da ferrovia. Segundo a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, responsável pelas obras, a Norte-Sul está totalmente apta para operar. Uma operação teste havia sido feita anteriormente.
“A ferrovia está toda executada, 100% sinalizada, com todas as licenças de operações emitidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (Antt) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em dia. Então, a ferrovia está 100% apta para operar”, garante o gerente regional da Valec, Charles Beniz.
Inicialmente, o trem deveria partir na quinta-feira (9). No entanto, houve um problema no carregamento dos vagões e a Valec optou por adiar a viagem para a manhã desta sexta-feira.
“O carregamento funciona através de energia elétrica. Faltou energia por quatro horas e atrasou o carregamento. Como é a primeira viagem, preferimos iniciar hoje e fazer o transporte durante o dia para que, caso ocorra algum problema, possamos corrigir e prestar suporte da melhor maneira”, disse Beniz.
Ao todo, 6,4 mil toneladas de farelo de soja são levadas ao Maranhão. A viagem deve durar quatro dias. A composição férrea saiu de Anápolis pela Norte-Sul até Porto Nacional, onde deve entrar na Estrada de Ferro Carajás para chegar ao Porto de Itaqui. Deve passar por Imperatriz entre a tarde de domingo e a madrugada de segunda-feira.
Se a carga fosse transportada por rodovias, seria necessário usar 200 caminhões. Gerente da indústria responsável pelo carregamento, Osmar Albertine acredita que substituir o transporte rodoviário pelo ferroviário é uma grande vantagem.
“Com a Norte-Sul, a gente ganha em logística, os vagões são maiores. Numa composição, você consegue transportar mais produtos, com isso chega mais rápido no porto, embarca mais rápido nos navios e tem uma logística completa muito mais ágil”, explicou Albertine.
A previsão é que até o fim do ano 21 mil toneladas de cargas passem pelo trajeto. Outros três carregamentos devem ser feitos ainda neste ano.
Irregularidades
Denúncias de irregularidades marcam a construção da ferrovia. Devido à demora da obra, a Valec não sabe precisar quanto de dinheiro foi gasto, no entanto estima-se que foram cerca de US$ 8 milhões.
Em novembro, o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) ofereceu denúncia contra oito pessoas suspeitas de superfaturar obras da Ferrovia Norte-Sul no estado. Todos eles devem responder por peculato e, se condenados, podem pegar até 12 anos de prisão.
Entre elas, está o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha das Neves, que chegou a ser preso em julho de 2013 durante a Operação Trem Pagador da Polícia Federal, sob suspeita de superfaturamento e desvio de verbas. Um novo presidente assumiu a empresa e pediu mais R$ 400 milhões ao governo federal para andamento dos trabalhos.
O prejuízo com cargas que deixaram de ser transportadas, perdas e impostos não arrecadados pode chegar a US$ 12 bilhões por ano, segundo a Valec. Com o uso da ferrovia, empresários de Anápolis esperam reduzir o valor pago no frente em até 30%.
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