Estudantes do povoado Olho d'Agua do Coco, zona rural de Sítio Novo do Tocantins, lançam nesta sexta-feira, 29, seu primeiro livro. Evento que marca o encerramento de um projeto de pesquisa sobre memória das quebradeiras de coco babaçu no Bico do Papagaio, será realizado no ginásio municipal da comunidade a partir das 19h.
A obra, publicada pela Editora Ethos, da Academia Imperatrizense de Letras - AIL, reúne 40 poemas entre jograis, sonetos e cordéis, e ilustrações, todos produzidos pelo grupo de estudantes da Escola Estadual Raimundo Nonato Leite, sobre a história de Raimunda do Coco e de suas companheiras de lida. Milton Teixeira, professor da unidade e coordenador do projeto, ressalta que a luta de Padre Josimo Tavares também é retratada nos escritos.
"É uma proposta político-educativa que visa ampliar a visibilidade e a valorização da luta popular camponesa no Tocantins, mais especificamente das quebradeiras de coco babaçu no povoado de Olho D´água do Coco - Sítio Novo do Tocantins, na região do Bico do Papagaio, bem como garantir a permanência dos jovens camponeses (filhos, filhas, netos e netas das quebradeiras de coco) em seus territórios; dar visibilidade aos impactos socioambientais e culturais nos territórios tradicionais dos biomas Cerrado e Amazônico e contribuir para desconstruir a criminalização dos defensores e defensoras de direitos humanos, a partir do estudo científico, com ênfase na história de vida e luta de Dona Raimunda quebradeira de Coco e padre Josimo", detalha.
O projeto de elaborar e publicar um livro sobre o tema faz parte da proposta pedagógica da escola, uma das unidades piloto do Programa Novo Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino, que também trabalha com o modelo de educação no campo. "Pra nós é um sonho se concretizando. Ver nossos alunos serem protagonistas de ações tão relevantes para a comunidade local e para o ensino público de toda a nossa região, muito mais por tratarem de suas próprias histórias ao escreverem poemas autorais sobre a história de lutas e conquistas de Dona Raimunda. Queremos convidar a toda a comunidade para testemunhas o nascimento de jovens escritores", destaca Auristela Barros, gestora da Escola Nonato Leite ao ressaltar que o evento contará com peça teatral, dança do coco, grito pela vida, momento autográfico e degustação de comidas típicas. (Kayla Pachêco)
HISTÓRIA - Um pindoba que brotou
Raimunda Gomes da Silva, mais conhecida como "Dona Raimunda do Coco", nasceu no ano de 1940, em Curralinho, interior do Estado do Maranhão. Depois de sofrer o preconceito machista e a discriminação por ser mulher e pobre mudou-se em 1979 para o povoado Sete Barracas, município de São Miguel do Tocantins no Estado do Tocantins.
Organismos em que lutou
Desde cedo teve forte atuação na igreja Católica, ajudou a construir muitas igrejas. Em 1979 uniu-se a Comissão Pastoral da Terra - CPT e a outras lideranças, como o padre Josimo Morais Tavares, com eles fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Sebastião do Tocantins e lutou incansavelmente pelo direito à terra e a defesa do povo mais pobre e oprimido.
Foi uma das fundadoras do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu - MIQCB, integrou a Associação Regional de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio - ASMUBIP e coordenou em Brasília a Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista que atua em oito Estados da Amazônia e atende cerca de oito mil mulheres.
Conquistas
Sua luta junto a outras quebradeiras de coco babaçu tornou possível a 'Lei do Babaçu Livre', que proíbe a derrubada de palmeiras de babaçu, e permite que as quebradeiras possam extrair o fruto das palmeiras mesmo em propriedades privadas. Centenas de casas populares, poços artesianos, escolas e postos de saúde foram construídas nos povoados e assentamentos rurais, bem como conseguiu aprovar projetos que beneficiam o coco babaçu, gerando trabalho e renda para jovens e adultos, beneficiando milhares de famílias do campo.
Prêmios
Em 2009, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Tocantins - UFT, além de prêmios como o Diploma Mulher-Cidadã Guilhermina Ribeira da Silva (Assembleia Legislativa do Tocantins) e o Diploma Bertha Lutz (Senado Federal), além de ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz.
Viagens
Em sua busca irrefreável pela efetivação de direitos das mulheres camponesas correu o Brasil de norte a sul e viajou a China, Estados Unidos, França e Canadá.
Ao refletirmos sobre o apelido de Dona Raimunda é facilmente compreensivo percebermos o seu amor à luta popular na defesa de direitos das quebradeiras de coco babaçu, pois pessoas humildes a batizaram popularmente - Dona Raimunda do Coco. Essa incorporação do Coco como seu sobrenome nos remete a ideia tradicional de quando a criança nasce e se encaminha seu registro civil, colocando o sobrenome do pai e da mãe como forma de estender ao recém-nascido os valores culturais de seus pais.
Dessa forma, fica evidente que a palmeira do coco babaçu é pai e mãe de Dona Raimunda não apenas do ponto de vista do sentido figurado, mas genuinamente oficial, dado que em qualquer lugar que ela tenha passado para exigir direitos para os mais pobres e oprimidos, principalmente aqueles e aquelas que vivem no campo, respeitosamente a chamavam - "Dona Raimunda do Coco".
Como palmeira ela abrigou debaixo de si todos/as que se viam sem direitos, principalmente aqueles/as que nasceram e se criaram na roça, na vida árdua, porém prazerosa, pois daquele lugar é de onde se brota o alimento que se põe à mesa, tanto no campo quanto na cidade.
Foi Embaixadora das Quebradeira de Coco Babaçu ao se encarregar da missão de defesa de direitos, principalmente o direito à terra, tanto no Brasil quanto em outros países.
Enfim, como pindoba resistiu, cresceu e deu bons frutos, tornando-se uma referência nacional e internacional por sua luta em defesa dos direitos dos camponeses e camponesas, além de exemplo de liderança feminina.
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