BELÉM - Eles são quase um terço da população brasileira, mas estão sendo mortos, recebem uma educação de baixa qualidade, sofrem discriminação e impactos negativos de grandes obras e projetos e são ignorados na formulação de políticas públicas que podem melhorar sua vida.
Esses e outros desafios de crescer na Amazônia estão nas pautas do Encontro Amazônico de Adolescentes e do Colóquio Amazônico de Adolescentes, que será realizado em Belém no período de 8 a 11 de abril de 2013. O encontro vai reunir quase 200 adolescentes dos nove Estados da Amazônia Legal, que, ao final do encontro, vão entregar a Carta de Princípios dos Adolescentes da Amazônia Legal aos representantes dos governos dos Estados envolvidos.
O evento é organizado pelo Centro de Defesa de Crianças e Adolescentes – CEDECA Emaús, em articulação com o UNICEF e o Governo do Estado do Pará, com o apoio da Celpa.
Os adolescentes vão pedir que sejam tomadas providências para reduzir os alarmantes índices de morte de adolescentes e para incluir o direito à participação nas agendas dos governos estaduais e municipais. “A vida dos adolescentes na Amazônia está em risco por causa da discriminação, da violência urbana e da falta de oportunidades de educação e emprego. Apesar disso, ninguém nos ouve”, disse Mairã Soares (17 anos), uma das organizadoras do evento.
As violações a que Mairã se refere podem ser confirmadas por índices oficiais como o Mapa da Violência, que mostra que, somente em 2010, 3.471 adolescentes e jovens com idades entre 12 e 21 anos de idade foram assassinados no Pará. Outro indicador, o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), aponta uma projeção de mais de 3 mil adolescentes mortos de forma violenta na Região Norte até 2015 se nada for mudado.
Uma prova concreta de que os assassinatos são resultados da discriminação é que, entre os 3.471 adolescentes mortos em 2010, 259 eram brancos e 3.212 eram negros.
Educação, Participação e acesso à informação.
Os índices de educação dos jovens na Região Norte só se igualam no Brasil aos do Nordeste. O índice de crianças e adolescentes que estão atrasados na escola é de 89% na Região Norte, contra 76% do índice nacional.
Participar da vida política, opinar sobre políticas públicas e ser ouvidos em suas reivindicações são direitos já consagrados de crianças, adolescentes e jovens, porém essa é outra área em que os jovens estão invisíveis. Entre os nove Estados da Amazônia Legal, nem todos possuem conselhos da juventude, e os que possuem enfrentam problemas como falta de interesse, recursos escassos e falta de estrutura para funcionamento.
O acesso à informação é outro déficit que compromete a participação, segundo dados do IBGE. Enquanto nas demais regiões brasileiras cerca de 50% da população acessa a internet, na Região Norte esse número é de 34%.
Com educação precária, falta de acesso à informação e participação nula, sobram problemas típicos da ausência de desenvolvimento. Isso pode ser visto nos índices de gravidez na adolescência: na Região Norte quase 10% das adolescentes entre 15 e 17 anos já têm pelo menos um filho. A taxa nacional é de 6% e algumas regiões registram 5%.