Hemerson Pinto
Não bastassem os problemas antigos e conhecidos, vividos há décadas pelos moradores das comunidades existentes ao longo da Estrada do Arroz, a rodovia estadual que há pouco menos de um ano começou a receber serviços de infraestrutura, ainda em passos lentos, registrou na última sexta-feira uma cena que fez a população refletir e lembrar de tempos atrás.
“Teve épocas em que na hora que se ouvia falar na Estrada do Arroz ou era necessário fazer alguma viagem por ela, se pensava duas vezes e se apegava mais forte com Deus. A gente lembrava logo dos casos de corpos que eram desovados às margens da estrada e de pessoas que sofriam nas mãos dos bandidos”, comentou o produtor rural Raimundo Alves, que mora em Imperatriz e na década de 1980 enfrentou idas e vindas em meio à poeira, aos buracos e às histórias sobre a estrada.
“Tinha até uma conversa da mulher que foi vista várias vezes com uma trouxa de roupa na cabeça. Uma mulher bonita, de corpo atraente, usando um longo vestido florido. Ela sempre aparecia na ladeira do ‘Lixão’, mas nunca ninguém viu ela de frente. Dois colegas meus voltavam de Petrolina a pé. Saíram de madrugada de lá e no final da tarde, depois de caminhar muito, isso em 1987, notaram que na frente a bela dama caminhava carregando a trouxa de roupas na cabeça. Não viram de onde ela saiu, mas eles já sabiam da história, então só acompanharam na subida da ladeira em silêncio. Depois que chegou no alto da ladeira, virou para a esquerda, era ali que desaparecia. Foi dito e feito: quando eles chegaram na posição, nada, só uma cancela balançando, sem vento, sem nada”, lembra.
Mas vamos voltar ao assunto dos ladrões, que, aliás, supera a conversa da moça da trouxa de roupas e até dos acidentes inexplicáveis com caçambas e paus de arara, segundo o que o povo conta, provocados por ‘coisas’ do além na Estrada do Arroz. Os bandidos sempre roubaram a cena, principalmente nas proximidades da ponte sobre o riacho Barra Grande.
“Eles atacavam muito ali, porque era fácil fugir. Naquele tempo, ‘os ladrão’ agiam mesmo era a pé. Tomavam algumas coisinhas e fugiam pela mata ao lado do riacho. Acontecia, mas não assim com muita frequência não, mas sempre acontecia”, comenta o aposentado José Rodrigues, entrando na conversa iniciada entre Raimundo e nossa reportagem depois do que aconteceu com o jovem estudante.
O garoto tem 17 anos de idade e saiu da escola em Imperatriz por volta de 11h40. Ficou no centro resolvendo alguns assuntos e só mais tarde embarcou em um dos ônibus que fazem linha para Petrolina, passando no povoado Olho D’Água, destino final do adolescente. Em certo ponto da viagem, mais precisamente no trecho onde o asfalto ainda não chegou, o assalto foi anunciado.
A confusão foi grande que o estudante não soube narrar exatamente quantos assaltantes e se realmente estavam armados. O certo é que levaram dinheiro, pertences dos passageiros e para o garoto sobrou uma pedrada no ‘pé da orelha’.
Voltamos aos mistérios. Ninguém soube explicar se a pedra que atingiu o adolescente, provocando um corte perto do ouvido, foi atirada por algum passageiro, indignado com a audácia dos bandidos, ou pelos ladrões. Mas que passageiro levaria uma pedra na bagagem? Será se os ladrões teriam a coragem de usar pedras para assaltar um ônibus cheio de passageiros? A pedrada veio de fora do ônibus? Seria mais uma ação de algo do além?
Certeza: Assaltos acontecem na Estrada do Arroz e são cada vez mais frequentes. O estudante vítima da ação da última sexta-feira precisou voltar à sede do município à procura de atendimento por causa do corte no rosto.
Apesar da existência de um posto da Polícia Militar e de uma guarnição geralmente composta por dois militares da Patrulha Rural, a ação dos elementos são concretizadas com facilidade. Fácil também é anunciar um assalto a motoristas de caminhões que transportam bebidas, a cobradores, e levar para a Estrada do Arroz, onde liberam as vítimas e fogem levando o apurado da ação criminosa.
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