Illya Nathasje

Ah, destino... Quem diria que depois de perder por 5 a 0, o Peru, após derrotar nos penais o favorito Uruguai, derrotaria também o favoritíssimo Chile na prorrogação e enfrentaria de pescoço erguido seu algoz, o Brasil?

A Copa América, que parecia sem sal, em sua final proporciona aos amantes do futebol as entrelinhas que só o destino, o senhor do acaso, no melhor estilo Sobrenatural de Almeida, seria capaz. A começar pela oportunidade ímpar de 'resolver as diferenças' que uma segunda partida entre duas mesmas equipes, algo raro de acontecer, ocasiona. 

Além disso, mistério há de pintar por aí. Vejam só: o torneio que até aqui tem a pior quarta média de sua história, 53 gols em 24 jogos, média de 2,2 gols por jogo, tem 13 artilheiros, em tempos escassos não só no futebol, com 2 gols cada. Não bastassem 7 gols (outro número místico terem sido anulados depois de consultado o VAR, outros 13 (de novo?) arremates deixaram de ser transformados em gols, porque São Travessão entrou em cena. É pouco? Tem mais! Se nenhum dos artilheiros marcar nos jogos de hoje e de amanhã, do grupo de vice-artilheiros, 9 no total (são 11, mas dois estão machucados, não jogam), com um gol cada, pode sair o artilheiro da Copa.  Para isso, basta que marquem dois gols.

Claro que protagonista, o Brasil é. Nos 44 confrontos, o Brasil tem 31 vitórias, 9 empates e 4 derrotas. Desses, 2 em Copas do Mundo (1970, 4 a 2; e 1978, 3 a 0), na Copa América, 12 vitórias, 3 empates e 3 derrotas). Tem, portanto, obrigação de vencer. Nos detalhes, porém, é que se escreve a história do futebol.  

Na regra do futebol é sagrado que o 'jogo só termina quando acaba', e portanto, só aí está garantido o resultado. É comum por uma dessas armadilhas que o destino impõe que um jogador em campo  contra seu ex-clube, marcar o gol da vitória. Exemplo mais recente foi a derrota do Flamengo para o Internacional, com um gol de Guerreiro, por sinal um dos artilheiros da Copa. E se o Peru ganhar do Brasil? O destino daria as explicações para o reencontro das equipes na mesma competição, a chamada volta por cima. Logo no Maracanã, que depois de anos sem o Brasil protagonista em uma final, serve de palco aos deuses do futebol? Que Guerreiro não coloque um peru nas costas do Tite. Depois do Maracanazo (a derrota para o Uruguai na Copa de 50, naquele fatídico 16 de julho) não ganhem os brasileiros um 'peruaço". 

Se tal desgraça acontecer, Nelson Rodrigues, meu eterno cronista, haverá de se revolver tanto em sua tumba, que dela será capaz de sair para escrever mais uma de suas malditas/benditas crônicas.      
- Nem acabou o São João, estamos longe do Natal. O diabo que o carregue. Vai pra lá, Peru!