Brasília – O vice-presidente Michel Temer enviou uma mensagem de voz a parlamentares do PMDB em que fala como se estivesse prestes a assumir o governo após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff. O áudio, de cerca de 14 minutos, dá a impressão de ser um comunicado dele ao “povo brasileiro” sobre como pretende conduzir o país, de forma transitória ou não.
Depois das primeiras repercussões da mensagem nas redes sociais, a assessoria de imprensa do vice-presidente informou que o áudio foi enviado por engano a um grupo de deputados do partido. Segundo a assessoria, tratava-se de um treinamento de Temer, que deveria ter sido enviado apenas para uma pessoa, e não para diversos membros do PMDB, partido do qual é presidente nacional licenciado.
No áudio, classificado por Temer como mensagem de “palavra preliminar à Nação brasileira”, o vice-presidente diz que precisa estar preparado para, caso os senadores decidam a favor do impeachment, enfrentar os “graves problemas que afligem” o Brasil, mas lembra que a decisão do Senado deve ser aguardada e respeitada. No comunicado, ele pede a pacificação do país, diz que é preciso um governo de “salvação nacional”, com colaboração de todos os partidos para sair da crise, e defende apoio à iniciativa privada como forma de gerar investimentos e confiança no Brasil.
O comunicado, supostamente, estava preparado para divulgação logo após a aceitação do processo de impeachment da presidenta pelo plenário da Câmara. A votação dos deputados está prevista para o fim desta semana, e após isso os senadores devem apreciar a matéria, inicialmente acatando ou não a denúncia, depois julgando o mérito. Caso a primeira votação no Senado dê seguimento ao processo de impeachment, Dilma será afastada para que seja julgada em até 180 dias.
Diz Temer na gravação: “Agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração do processo de impedimento da senhora presidente, muitos me procuraram para que eu desse uma palavra preliminar à nação brasileira. O que eu faço com muita modéstia e muita cautela. Com muita moderação, mas também em face da minha posição de vice-presidente e também de substituto constitucional da senhora presidente da República. E desde logo eu quero afirmar que temos um longo processo pela frente, passando ainda pelo Senado Federal. Então, todas as minhas palavras levarão em conta apenas a decisão da Câmara dos Deputados, portanto minhas palavras são provisórias”.
O vice-presidente diz ainda que vai incentivar as parcerias público-privadas com o objetivo de gerar emprego, pois, segundo ele, o Estado “não pode tudo fazer”. Deve, portanto, concentrar esforços na segurança, saúde e educação, e “o mais tem que ser entregue à iniciativa privada”. Ele diz também que é “falso e mentiroso” o rumor de que vai acabar com programas sociais, e afirma que, enquanto persistir a necessidade de um eventual governo Temer, vai manter o Bolsa Família, Pronatec, Fies e Prouni.
“Iniciativa privada no sentido da conjugação da ação entre trabalhadores e empregadores. E neste particular pretendemos fazer várias reformas que incentivem esta harmonia entre esses dois setores da produção brasileira. Tudo isso que estou a dizer significará, devo registrar, sacrifícios iniciais para o povo brasileiro, em primeiro lugar. Em segundo lugar, não quero gerar nenhuma expectativa falsa. Não pensemos que se houver uma mudança no governo, em três, quatro meses estará tudo resolvido. Em três, quatro meses, poderá começar a ser encaminhado. Para resolvermos a matéria ao longo do tempo”, afirmou.
“Agora, toda e qualquer reforma não alterará os direitos formatados, adquiridos pelos cidadãos. Mas nós temos que preparar o país do futuro. Muitas matérias até estão em tramitação no Congresso, e nós queremos ter uma base parlamentar muito sólida que nos permita conversar com a classe política, mas conversar também com a sociedade”, diz, segundo o áudio.
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