Professor e doutor em química Jorge Diniz

De todos os riachos que cortam a cidade de Imperatriz e que desaguam no rio Tocantins, os que estão em pior situação são o Santa Teresa e o Riacho do Meio, informou o professor e doutor em química Jorge Diniz (UEMASUL) durante palestra realizada ontem, 14, numa sessão de audiência pública na Câmara Municipal provocada pelo Grupo Força Tarefa Rio Tocantins.

O Grupo Força Tarefa decidiu começar pela Câmara Municipal uma sequência de seminários sobre a “qualidade das nossas águas” por entender ser aquela casa uma das principais caixas de ressonância dos problemas da cidade, e a qualidade das nossas águas é um problema que se agrava a cada dia, conforme atestou em sua palestra o professor Diniz. O trabalho apresentado ontem pelo cientista é o resultado de dois anos e meio de pesquisas.
O professor discorreu sobre o tema Qualidade das águas: efluentes urbanos tóxicos, medidas preventivas e/ou (re) equilibradoras, ribeiras, usos e vegetação, filtros, fossas, entre outros assuntos que o tempo permitir. Um pouco antes, na abertura das atividades, o veterano ambientalista José Geraldo falou sobre a origem e a formação das águas, tema que também chamou bastante a atenção.
Procurando ser o mais didático possível até pelo fato de a pesquisa guardar termos considerados não usuais pela população como PH, turbidez, entre outros, Jorge Diniz revelou que não é difícil de entender o porquê de o Santa Teresa e o Riacho do Meio serem hoje os mais impactados com a recepção da maior quantidade de cargas poluidoras. Esses dois veios de água passam pelos grandes maiores conglomerados habitacionais da cidade e grande parte da população os utiliza como depositários de seus resíduos. Além do mais, foram os que mais sofreram com o desmatamento de suas margens.
Numa outra situação, ao contrário do que se imaginava, pelas coletas e análises realizadas, o Cacau, o Bacuri e Capivara são os que ainda estão em melhor situação. Não é que suas águas sejam próprias para o consumo ou banho, mas em outras palavras, são menos poluídas e possuem as margens mais preservadas em relação aos demais. “Isso ocorre porque eles ainda conseguem resistir e metabolizar, principalmente o Cacau e o Capivara, grande quantidade de rejeitos que recebem. Agora, até quando vão suportar, eu não sei”, alertou o professor.
Na sua fala, Jorge Diniz deixou claro que não se pode pensar na preservação do Rio Tocantins sem antes se cuidar da preservação dos seus afluentes e um primeiro passo, disse ele, seria deixar de utilizá-los como depositários de seus efluentes domésticos. “Hoje, como se sabe, tudo isso desce sem qualquer tipo de tratamento para os riachos depois para o rio. Se a cidade apenas evitasse que seus efluentes caíssem nos riachos, já teríamos um grande ganho”, comentou.
Os efluentes ou esgoto sanitário são os dejetos provenientes das diversas modalidades de uso da água em qualquer edificação que tenha banheiro, cozinha ou lavanderia.
Ao conversar com alguns jornalistas, logo após a palestra, Jorge Diniz destacou que nem tudo está perdido. Suas pesquisas apontam que ainda há tempo de se reverter essa situação. Para isso é necessário que haja, a princípio, a conscientização e preocupação de tratar esses efluentes que caem nos afluentes do Tocantins, que se reflorestem suas margens e que se combata o processo de erosão, enfim, “precisamos tratar o rio como deve ser tratado pela sua importância, não só para o Maranhão, mas para a humanidade”.
O cientista encerrou observando que na atual conjuntura não basta a identificação do problema. É necessário que, principalmente a sociedade civil, se mobilize para conscientizar, fiscalizar, denunciar e cobrar de quem for de direito soluções para essa problemática. “O encontro de hoje pode ser o primeiro passo. Precisamos entender que não fomos criados para viver essa relação predatória com o meio ambiente”, concluiu.
O seminário - Os trabalhos do Primeiro Seminário das Águas foram presididos pela Comissão de Planejamento, uso, ocupação, parcelamento do solo e meio ambiente, que tem como presidente o vereador Alberto Souza, como vice-presidente Ditola Castro e membros os vereadores Carlos Hermes, Aurélio e Rildo Amaral, Ademar Jr e Zesiel Ribeiro, que tiveram ativa participação. Prestigiaram ainda o evento o presidente da Câmara, José Carlos Soares, e os vereadores Bebé Taxista, Pimentel, Irmã Telma, Maura Barroso, Paulinho Lobão, Chiquim da Diferro, Fábio Hernandes, Pedro Gomes e Hamilton Miranda.
A audiência contou com representantes da Marinha (capitão-tenente Alves), Exército (tenente-coronel Furtado) e Corpo de Bombeiros (Jair Ferreira), Ibama (Marcos Miranda), Prefeitura de Imperatriz (Rosa Arruda), Caema (Rafael Heringer) e líderes de associações e estudantis. O Estado do Tocantins também se fez representar por meio de Irene Vasconcelos, secretária do Meio Ambiente do município de São Miguel.
Na semana que vem, o Grupo Força Tarefa Rio Tocantins reúne-se para avaliar o primeiro seminário e preparar o segundo dos três painéis previstos pelo colegiado do grupo. A ideia é levar a discussão para ambientes como faculdades, associações, clubes de serviço, empresas “enfim, queremos envolver toda a sociedade ao redor de um tema que é de interesse de todos”, ressalta a professora Ivetilde Delgado, da organização do evento. (Elson Araújo)