Após o julgamento que confirmou, em 2ª instância, a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, a senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vociferou: “Três desembargadores não podem falar por milhões de pessoas, três desembargadores não podem decidir a vida deste país. Nós não temos medo. Não temos medo da sentença e das ameaças deles. Se eles levantaram o tom, nós vamos levantar, se eles trucaram, nós vamos aceitar. E nós vamos pra cima.”
O discurso de Gleisi com tom radical era esperado. Uma semana antes do julgamento do ex-presidente, a senadora paranaense chegou a dizer em entrevista ao site Poder360, que “para prender Lula, teriam que matar gente”.
Outros petistas importantes seguiram a mesma linha, como o líder do partido no Senado, Lindbergh Farias. Após o resultado do julgamento, o senador afirmou que existe uma “ditadura de toga” no Brasil. Segundo ele, a população, agora, só teria um caminho a seguir: “a rebelião cidadã e a desobediência civil”.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, a postura intransigente adotada pelo PT após a condenação de Lula tem como propósito tentar enfraquecer a imagem do Judiciário, tal como do Ministério Público Federal. Assim, o partido procura preservar a imagem de Lula, coagindo a Justiça a não decretar sua prisão. No entanto, para o cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer, o tiro deve sair pela culatra.
“Esse discurso radical contra o judiciário pregando desobediência civil, eu acho que é muito contraproducente para o partido e pode alienar eleitores que eventualmente poderiam votar no PT. Porque o PT está enfrentando eleições gerais, não é só presidente. É governador, senador, deputado. A questão mais importante para o PT é a sobrevivência do PT como partido”.
De acordo com Fleischer, com Lula condenado, imagem do partido ligada à corrupção e discurso radical, o PT tende a sofrer, neste ano, a maior derrota eleitoral de sua história.
“Usualmente quando o partido elege muito menos prefeitos, dois anos depois vai eleger menos deputados. Em 2016, o PT elegeu menos de metade dos prefeitos que elegeu em 2012. Isso quer dizer que se essa regra continuar valendo, este ano o PT vai eleger uma bancada pequena de deputados federais, talvez uns 30. E vai ter muita dificuldade em eleger e reeleger governadores e senadores”.
Nas eleições de 2012, o PT saiu das urnas com 11 por cento das prefeituras brasileiras, governando 630 cidades. O partido viu, em 2016, esse número cair para 256 municípios, o que representa menos de cinco por cento das cidades brasileiras.
Para Leonardo Barreto, cientista político e especialista em comportamento eleitoral, o PT precisa escolher se opta pela moderação ou pelo radicalismo. Se a decisão for pela segunda possibilidade, o partido caminhará para a informalidade.
“O PT tem uma decisão para tomar, porque se ele continuar com essa radicalização, em algum momento ele vai ter que mostrar quais são as cartas que ele tem. E o final desse processo é uma saída do PT do processo político eleitoral, uma ida para a informalidade. Ou, então, o PT vai moderar o seu discurso e, apesar de protestos contra a condenação do ex-presidente Lula, vai voltar para o tabuleiro do jogo político eleitoral democrático”.
Ainda de acordo com Barreto, caso o radicalismo prevaleça, o PT deve perder muitas lideranças que poderão seguir para outras legendas, afim de não serem atingidas pelo desgaste eleitoral do partido. (João Paulo Machado)
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