O ex-prefeito de Porto Franco (por três mandatos), ex-deputado estadual, ex-presidente da FAMEM e atualmente vice-presidente estadual do PDT e pré-candidato a deputado federal, Deoclides Macedo, discorre sobre a situação de seu partido, o PDT, na atual conjuntura pré-eleitoral para formação da chapa majoritária e proporcional das oposições e a possibilidade do lançamento de candidatura própria.
Como o senhor avalia o momento político em nosso estado?
É um momento rico que exige de todos nós, do campo da oposição, uma enorme responsabilidade na construção político-eleitoral da eleição e no planejamento das ações do futuro governo para retomarmos as transformações que o povo maranhense clama há muitos anos e que foi interrompida com a cassação do ex-governador Jackson Lago.
E essa responsabilidade, a seu ver, está sendo conduzida da melhor maneira?
O aqui e o agora que vivemos resulta de uma longa história de aprendizados, de erros e acertos e, principalmente, de luta que precisamos atentar. Não se chegou até aqui inaugurando um discurso novo. O nome do nosso companheiro Flávio Dino de fato amadureceu e conquistou com todos os méritos as condições para liderar esse processo. Mas o enfrentamento que ora fazemos vem de uma longa trajetória política e deve ser considerado dentro desse contexto, especialmente no que diz respeito ao protagonismo do PDT.
E onde está se perdendo
essa contextualização?
Preocupa-me a preponderância da lógica do marketing político em detrimento da lógica política, que deve nortear nossos passos. Não posso concordar, por exemplo, que a longa história do PDT maranhense, os seus quadros e as suas lideranças, a sua trajetória de luta, o seu legado, a sua militância, o seu expressivo quadro de pré-candidatos a deputado estadual e federal, seus prefeitos e ex-prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, tudo isso seja quantificado apenas em tempo de televisão. O PDT, como a principal força motriz da oposição durante anos, sustenta a bandeira das mudanças e do enfrentamento político e administrativo no estado. A história de luta pedetista pode ser exemplificada no fato de o saudoso governador Jackson Lago ter sido candidato por quatro vezes, ou seja, em 1994, 2002, 2006 e 2010 e de ter sido o governador do Maranhão, ainda que por pouco mais de dois anos. Não resta dúvida de que as alianças políticas e partidárias são importantes para se ganhar uma eleição, mas a eleição de Jackson Lago em 2006 deve servir de exemplo para nos indicar que tão fundamental como ganhar uma eleição é ter clareza de como se ganha e com quem se ganha, pois todos estes elementos se refletirão no futuro governo.
O PDT vem sendo
preterido nos cargos?
Não é esse o ponto. Os cargos devem ser consequência do peso político e eleitoral das legendas. Reafirmo que o PDT não é uma fração de tempo de televisão, como vem sendo considerado. Ele é a maior força organizada de militância no Estado e agrega o maior capital de experiência de organização de campanha, de desenvolvimento de programas eleitorais, de mobilização de ruas. É um partido que tem muitos pré-candidatos em condições de eleição para se formar boas bancadas de deputados estadual e federal.
Isso não está sendo considerado?
Não com o peso que merece. E olhe que eu nem estou falando da força moral do partido que está marcada no calvário que passou o Dr. Jackson Lago. E nunca é demais lembrar o exemplo que ele nos deu de não se entregar jamais ao desânimo. Sem forças, sem articulação política, caiu de pé e num último gesto de grandeza ofereceu seu apoio para o segundo turno que se desenhava. Sem pedir nada em troca. Então não estamos falando de um partido qualquer, mas de uma história sem a qual não teríamos chegado até aqui, reunindo condições excepcionais para o embate nas urnas.
Mas o PDT não cometeu também erros contribuindo para essa situação?
Houve e há divergências, como é natural em todo partido político, as quais determinaram a saída de companheiros valorosos, mas permaneceu um núcleo de filiados, com longa história no partido, que honram a trajetória de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e Jackson Lago. Nenhum partido político pode ser uma folha de papel em branco, muito menos um partido com a densidade e o conteúdo do PDT maranhense. É indispensável ter a clareza de levar em consideração os seus chamados fatores reais de poder político, ou seja, seus próprios quadros de significação política e eleitoral.
A sua queixa não decorre da postulação à vaga de vice-governador?
De modo algum, e quero deixar isso bem claro. O nome indicado, do companheiro Marcio Honaisier, tem méritos e qualidades para representar o partido. Mas deixei claro na reunião do diretório estadual que o momento não era oportuno para a escolha, e que o certo seria ofertar para a chapa majoritária pelo menos uma lista tríplice de nomes, e temos vários à disposição caracterizando uma decisão partidária e permitindo que o próprio pré-candidato a governador e os demais partidos participassem democraticamente dessa composição de chapa. Nunca neguei que meu nome poderia estar nesse rol de indicações, mas apenas como mais um que poderia agregar valor à composição da chapa.
Que tipo de valor?
Não são valores exclusivamente pessoais, mas da ética dos resultados da política. Veja, por exemplo, se você perguntar a qualquer pessoa da região tocantina qual foi o governo que deixou uma marca forte e ergueu a estima da região, esse governo foi simplesmente o do PDT, de Jackson Lago. Então a presença da região com o PDT na chapa numa campanha de transformação e mudanças deve prestar essa homenagem também à memória desse tempo, que foi de afirmação e resgate. Me preocupam os sinais de inconformismos que percebo na região tocantina com a hipótese de não ter um nome na chapa majoritária, o poderá ser interpretado como um desprestígio de um eleitorado fortemente vinculado ao sentimento de mudança e à oposição, uma vez que nas quatro eleições do ex-governador Jackson a região esteve representada na chapa majoritária.
Veja-se outro valor do PDT: Jackson como médico e administrador público sabia que o melhor encaminhamento para a saúde era a proeminência do setor público e, por isso mesmo, tinha como programa de governo a construção, com equipamentos e recursos de sustentação de cinco socorrões em regiões estratégicas do estado, com o fortalecimento da atenção básica nos municípios e a média complexidade em alguns polos de saúde. Essa ferida continua aberta, basta que se escute o clamor da população que padece com a privatização da precarização do setor da saúde no estado.
Outro valor fundamental do PDT é a questão da Educação pública de qualidade, com experiência bem sucedida com a Escolas de Tempo Integral em Porto Franco.
O valor da trajetória, da coerência, da persistência e da luta política, pois muita gente pagou (e paga) um preço muito alto para manter a coerência e sustentar o projeto de mudança. O meio político sabe da minha trajetória, da seriedade com que conduzi meus mandatos de prefeito e deputado estadual, quando abdiquei de uma reeleição praticamente garantida de deputado estadual para compor em 2002 a chapa com o saudoso Governador Jackson Lago.
Então não é fácil ver o partido sendo tratado como mero coadjuvante quando todos sabem que sempre esteve ligado ao protagonismo que sustentou o projeto de mudanças à custa de sacrifícios pessoais imensos de vários de seus membros, inclusive eu. Os prefeitos pedetistas defensores dos preceitos de nosso partido sabemos o alto custo que se paga no Maranhão, para se manter firme em propósitos políticos na oposição. Tem que ter muita convicção, muita coerência política, muita força para lutar e um "couro grosso" para suportar todo tipo de perseguição. Talvez por isso, muitos pulam do barco na hora das primeiras turbulências.
O partido poderá chegar ao ponto
de lançar candidatura própria?
O que é combinado não é caro, de tal modo que o que me parece correto para o PDT é exigir o cumprimento do acordo político, no sentido do partido compor a chapa majoritária, a exemplo do que vem sendo reafirmado com a participação do PSB através da pré-candidatura de Roberto Rocha ao Senado federal.
Por isso, defendo que o partido tenha muita maturidade neste momento, e que deve esgotar todas as possibilidades de diálogo visando à união das oposições.
O PDT tem toda a legitimidade para discutir candidatura própria ao governo, inclusive com base na tese de duas candidaturas da oposição praticada nas eleições de 2006 e 2010, mas na conjuntura atual do processo político vejo dificuldades para aplicação desta tese; todavia, temos que ouvir os pré-candidatos a deputado federal e estadual, a militância e lideranças do partido.
Precisamos também aprofundar internamente e com os outros partidos da aliança a questão das eleições proporcionais. O PDT, como disse antes, tem um expressivo quadro de pré-candidatos a deputado federal e estadual, talvez individualmente o maior da oposição e, por isso mesmo, precisa definir a questão das eleições proporcionais, isto é, se vamos coligar, com quem ou mesmo se o PDT sai sozinho na proporcional.
Temos uma história a zelar. Queremos ser tratados na dimensão de nossas potencialidades, dos nossos erros e acertos ou não estaremos honrando a memória daqueles que nos precederam.
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