A partir de 2015, apenas 38,6% dos representantes eleitos para a Câmara dos Deputados vão exercer o mandato pela primeira vez (198 dos 513 deputados federais). Esse número é 1,8% maior do que em 2010. Em 2006, os novatos representavam 37,6% do total de eleitos; e, em 2002, eram 35,9%.
O baixo índice de renovação contrasta com os quase 2 milhões de pessoas que, espalhadas em cerca de 130 cidades do País, saíram às ruas em 2013 para cobrar uma lista de reivindicações do Congresso Nacional. Entre gritos e cartazes, a frase "você não me representa" aparecia diversas vezes, sinalizando desilusão com o sistema político e com os políticos.
"Esperava-se que essa insatisfação das ruas tivesse maior repercussão no processo eleitoral, com os partidos tentando dialogar com a população insatisfeita que foi às ruas", avaliou o historiador José Antonio Moroni, um dos coordenadores do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Ele sustenta que candidaturas mais ligadas ao movimento das ruas não foram vitoriosas nas urnas. "Uma das hipóteses é que o sistema político esteja tão cristalizado, com normas tão rígidas, que esteja impedindo qualquer tipo de manifestação popular", completou.
Mudanças
Por outro lado, o cientista político Leonardo Barreto discorda que o poder político não tenha assimilado o clamor das ruas. Segundo ele, mesmo que o índice de renovação na Câmara não tenha sido expressivo, as mudanças já vêm ocorrendo. "Tivemos a Ficha Limpa, o fim do 14º e 15º salários e o fim do voto secreto, que integram um conjunto de medidas", disse.
O cientista político considera que a baixa representatividade dos manifestantes entre os eleitos se deve à própria maturação dentro do processo político. "Os manifestantes, em sua maioria jovens, se recusavam no início a conversar com o sistema político formal, o que pode ter dificultado o recrutamento, pelos partidos, de novos nomes para seus quadros", completou.
Barreto comentou ainda as discrepâncias do sistema proporcional que levam um campeão de votos a eleger junto com ele candidatos da mesma coligação que tiveram votações menos expressivas. "As pessoas votam em candidatos, mas se esquecem de que, ao fazerem isso, elas estão, antes, votando nos partidos e nas coligações", destacou.
Segundo o cientista político, o sistema proporcional funciona para esconder do eleitor quem ele está elegendo, o que exigiria um esforço do próprio Congresso para tornar esse processo mais adequado e compreensível ao cidadão.
Reforma política
Na opinião do deputado Izalci (PSDB-DF), muita gente ainda vota sem a devida consciência sobre a importância do voto. "Muitos ainda votam em troca de cesta básica ou porque recebem para ser cabo eleitoral. Vota por votar", disse o deputado, ao ressalta a urgência de se aprovar a reforma politica.
"Temos que acabar com o financiamento privado das campanhas. Os cidadãos não têm voz, quem manda são as empresas, que têm o poder econômico", disse Izalci.
Também favorável a uma reforma política imediata, o deputado Afonso Florence (PT-BA) considera que a democracia brasileira, apesar dos avanços, ainda apresenta problemas ligados à representatividade.
"Nós estamos falando de uma sociedade altamente complexa, com classes sociais, segmentos de classe. Isso tudo ficou evidente durante as manifestações, dado o volume e a diversidade de demandas. Prova disso é que, durante as manifestações, uma senhora reclamava do preço da ração do cachorro", disse Florence.
De acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), além do baixo índice de renovação, houve uma guinada em direção ao conservadorismo no Parlamento brasileiro, com o aumento das bancadas de militares, religiosos e de ruralistas, além de uma redução do número de deputados ligados a causas sociais. Segundo o Diap, a bancada de sindicalistas também foi reduzida quase à metade. (Murilo Souza - Agência Câmara)
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