Illya Nathasje

Nascido em Acaraú, litoral norte do Estado do Ceará, em 11 de dezembro de 1945, e morador de Araguaína desde 1981, Jauro José Studart Gurgel, professor, fundador da Academia de Letras de Araguaína e Norte do Tocantins (ACALANTO) e ex-editor de O PROGRESSO em Araguaína-TO, faleceu na manhã de ontem vítima de câncer, em Fortaleza-CE. Deixa viúva, Elineusa, e um filho, Tiago.
Jauro Gurgel era, antes de tudo, com seu estilo de crítica debochada, um otimista. Política e literatura, além da família e dos amigos, construíam seu círculo entre vício e virtuose. Sua escrita e viés poético, ao delimitar as fronteiras, destacando as diferenças como busca, forma de contribuição e construção de identidade, eram fundamentados no regionalismo.
Em 1958 foi morar na capital, onde ingressou na Escola de Aprendizes de Marinheiros do Ceará. Em seu dizer, “jurou a bandeira” e foi (1963) transferido para o Rio de Janeiro, onde serviu no Contratorpedeiro Araguaia, o Delta 14. Foi partícipe da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, de cuja reunião, em 25 de março do ano seguinte, saiu o estopim para o “Golpe de 64”. De acordo com o ponto de vista (de outros, naturalmente), pode ser Revolução, costumava dizer.
Depois de ter sido expulso da Marinha e condenado a 5 anos e 1 mês de prisão, viveu na clandestinidade, se esvaindo entre as cidades de Jaguaribara (CE), Teresina e Parnaíba (PI) e no próprio Rio, de agosto de 1964 a junho de 1971, quando se tornou “morador” da Ilha das Cabras, preso que foi. No presídio, cumpriu 2/3 da pena.
Em Araguaína, Jauro foi professor de Literatura Brasileira, de OSPB e História do Brasil, no Colégio Integrado de Araguaína, no Colégio Pré-Universitário, no Colégio Santa Cruz e Colégio Educandário Objetivo, além de outras unidades de ensino da rede pública. Fundou junto com amigos, entre eles o cantor Odilon Santos, o Clube dos Trinta, um recanto bucólico para jogar pelada e conversa fora, onde entre árvores, ao leito das águas de um riacho e da rede, sob as estrelas do Tocantins, não faltava uma gelada, muito menos a cachacinha.
Em 1987, Jauro Gurgel assumiu como editor regional de O PROGRESSO. Ousado, língua afiada a transportar para a caneta a inspiração oriunda da mente como atento observador político, foi respeitado em todos os governos: Moisés Avelino (1991-1994), de quem foi diretor de jornalismo da extinta TV Aratins, Canal 13, atual TV Palmas. Com Siqueira Campos, de uma relação flutuante em seus humores, viria a se tornar desafeto, criando para o atual governador um personagem memorável em seu “Imguinorapulis”, editado em 2003. De Marcelo Miranda, tornou-se amigo incondicional, transportado da amizade existente com o pai, Brito Miranda, a quem admirava dos tempos de Goiás, como deputado estadual pelo velho e hoje inexistente MDB.
Como membro fundador da Academia Araguainense de Letras, ocupava a cadeira nº 2, cujo patrono é o conterrâneo e poeta Padre Antônio Tomás, conhecido lá pras bandas de Acaraú como o “Príncipe dos Poetas Cearenses”.
Em 2006 foi anistiado pelo Governo Federal e nas promoções que lhe eram devidas, graduou como sub-oficial, no posto de Segundo Tenente da Marinha do Brasil. Como bom cearense, no Dia de São José, um 18 de março de 2007, só deixou Araguaína “porque vou voltar para minha terrinha”. Fixou residência a 300 metros das águas, na praia de Icaraí, em Caucaia. Realizou o sonho de voltar e permanecer em casa. Botafoguense, subiu com a estrela solitária para um degrau maior. Deixa para os amigos o valor da convivência, para a esposa e filho, o da dedicação e para a posteridade: Cosmorama-Poesia e Crônica, 1986; Araguaína - 40 anos, 1998; O Brasil nas XVI Copas do Mundo, 2002; Imguinorapulis, 2003; A história dos poderes Legislativo e Executivo araguainense, 2005; e O Brasil nas XVII Copas do Mundo, 2006. No Tocantins, sua última participação literária foi em Achados Poéticos – Uma antologia dos Poetas da Acalanto.