Brasília-DF - A modelo paulista Monique Menezes, de 22 anos, denunciou nessa terça-feira (4), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, que foi vítima de maus-tratos e assédio sexual em Nova Déli (Índia), onde trabalhou em janeiro deste ano.
Monique disse que foi contratada para fazer fotos e desfiles, mas era obrigada a trabalhar como garçonete até de madrugada em festas, nas quais sofria assédio sexual. Segundo ela, a agência de modelos Be One Talent, que a contratou, ofereceu salário de 2,1 mil dólares por mês (o equivalente a R$ 4,2 mil), mas pagou somente 160 dólares no primeiro mês (R$ 320). Esse dinheiro era insuficiente até para comprar comida.
A modelo disse ainda que adoeceu em razão da falta de higiene na casa onde ficou hospedada, junto a outra modelo brasileira. “A casa tinha 15 cachorros e três gatos, que ficavam soltos. Os empregados da casa davam comida para os cachorros nas nossas panelas e os gatos urinavam nas nossas camas”, disse.
Após um mês e meio na Índia, ela procurou o consulado brasileiro em busca de ajuda e foi trazida para o Brasil em fevereiro. A modelo afirmou que foi contratada por um scouter (olheiro) de São Paulo chamado Júnior Pelicano, que conheceu por intermédio de outra modelo. Ele a indicou para a agência.
Casa própria
Monique disse que começou a trabalhar como modelo aos 13 anos e fez a primeira viagem internacional aos 14 anos, para a Itália, onde foi muito bem tratada. Depois disso, ficou trabalhando no Brasil. Ela disse que decidiu ir para o exterior com a esperança de ganhar dinheiro para comprar uma casa, pois tem um filho, separou-se do marido e voltou a morar com os pais. Tinha 21 anos quando viajou.
Ela disse ter sido contratada para trabalhar em Mumbai, mas soube na última hora que estava indo para Nova Déli, onde chegou em 20 de dezembro do ano passado. Lá encontrou a modelo brasileira Thelma Kaminski, de 18 anos, que havia chegado pouco antes, e uma venezuelana.
Monique afirmou que saiu do Brasil com a promessa de receber um salário mensal de 2.100 dólares, para suas despesas, mais o pagamento pelos trabalhos que realizasse, que seria entregue após o fim do contrato de seis meses. Seriam descontados o dinheiro do aluguel, o salário do motorista que as levava para os trabalhos e as passagens.
Segundo seus cálculos, depois de um mês, ela já tinha pago as dívidas e ainda tinha 5 mil dólares para receber, mas voltou sem nada. Sua passagem de volta foi cancelada quando pediu socorro ao Consulado Brasileiro, e ela não teria como voltar ao Brasil se não tivesse ganhado a passagem do governo brasileiro.
Monique disse que não houve nada de errado na primeira semana. A partir da segunda semana, além do trabalho de modelo, durante o dia, tinha que trabalhar em festas quase todas as noites, até por volta de 1h da madrugada, onde recebia propostas de programas sexuais e sofria assédio.
Maus-tratos
A modelo disse ainda que sofria maus-tratos da dona da casa, a francesa Sabrina Savouyaud. Segundo ela, Sabrina media as modelos todos os dias e as proibia de comer, sob ameaça de mandá-las de volta para o Brasil.
Monique afirmou também que, após as primeiras semanas, as três modelos ficaram doentes, com infecção intestinal e feridas em outras partes do corpo, mas eram obrigadas a trabalhar assim mesmo.
Depois que relatou sua situação a Júnior Pelicano, Monique disse que ele desapareceu. Primeiro, alegava que estava em outro estado e não podia fazer nada. Em seguida, parou de atender os telefonemas. Após as denúncias, ela disse que nada aconteceu com a francesa e com o agenciador brasileiro.
Tráfico
O presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), lembrou que o caso de Monique é o segundo investigado pela CPI envolvendo modelos enviadas para a Índia. Antes, a comissão ouviu a modelo Ludmila Verri, que foi enviada para o país pela scouter Raquel Felipe.
Segundo Jordy, o agenciamento de modelos se revela tráfico de pessoas no momento em que elas são forçadas a trabalhar em condições sub-humanas para pagar dívidas. O deputado Luiz Couto (PT-PB) disse que vai propor a convocação de Júnior Pelicano para depor. (Wilson Silveira – Agência Câmara)
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