Em discurso de cerca de 35 minutos para milhares de pessoas na noite de anteontem (10), na Avenida Paulista, em São Paulo, o ex-presidente Lula criticou por diversas vezes o governo de Michel Temer e apelou ao presidente da República interino que “Por favor, permita que o povo retome o governo com a Dilma e participe das eleições em 2018 para ver se você vai ser presidente”.
“Não vou falar fora Temer porque, da minha parte, não fica bem. Temer, você é um advogado constitucionalista e você sabe que não agiu correto assumindo a presidência interinamente”, disse Lula ao fazer o apelo a Temer, que acusou de estar “fazendo um desmonte no país. Eles não querem governar, querem vender o país. Eles não sabem governar, só sabem privatizar”, disse Lula, falando em possíveis privatizações pelo atual governo.
Em outro trecho do discurso, Lula disse que Temer, em vez de cortar ministérios como o de Cultura e Direitos Humanos [que depois foi recriado], corte o da Fazenda. E justificou esta crítica: “Não é possível não reconhecer a violência na periferia, a violência contra as mulheres, a violência contra os pobres, a violência espalhada por esse país e acabar com o Ministério dos Direitos Humanos. Se a solução desse país fosse diminuir ministérios, era melhor tirar o Ministério da Fazenda, do Planejamento e tantos outros e deixar os ministérios dos pobres e que cuidam da sociedade”.
Lula também criticou o ministro das Relações Exteriores, José Serra, dizendo ter visto sua entrevista essa semana na televisão: “Voltou o complexo de vira-lata. O ministro Serra reconheceu que o Brasil não pode se meter com coisas de países grandes, que temos que reconhecer nosso lugar, que somos países de Terceiro Mundo e que somos pequenos e pobres. Que quem tem que mandar são os americanos e europeus e que temos que ficar de cabeça baixa. Pois eu quero dizer ao Serra e aos que têm complexo de vira-lata neste país: quero dizer para vocês que eu aprendi na vida que não somos respeitados por sermos ricos ou grandes ou por termos bomba atômica. Aprendi que temos que ser iguais. Brasileiro não é inferior a americano”.
Como o caminhão em que discursava estava atravessado na rua, cortando a Avenida Paulista, havia pessoas de ambos os lados do caminhão. Lula, então, decidiu iniciar o discurso falando às pessoas que estavam no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em direção à Consolação. Mas, depois, ele se voltou para o restante do público, que estava aglomerado em direção ao bairro Paraíso, situado entre a Avenida Paulista e o Parque do Ibirapuera.
Lula disse que “anda chateado” com as notícias de que tem estado doente: “Tem gente que escreve que eu estou doente. Mas eu não estou. Estou melhor hoje do que aos 50 anos”.
Em dois momentos, em seu discurso, Lula se emocionou e ficou com a voz embargada. O primeiro foi ao falar sobre a possibilidade de que seja preso. “Todo dia leio que querem me prender, que eles querem prender o Lula, que eles querem encontrar alguma coisa do Lula, ou que delatem o Lula. Mas eu sou uma pessoa muito paciente. A paciência que eu tenho veio da minha mãe quando, muitas vezes, ela não tinha comida para colocar na mesa e ela não reclamava. Todo dia eu leio uma coisa. É o meu filho que é dono da Friboi, é o meu filho que tem avião, é o PT que é uma organização criminosa. E acho que todo petista desse país deveria abrir um processo contra quem fala que o PT é uma organização criminosa”. Lula se disse “com o saco cheio de todo dia” ler que o dinheiro que financia o PT é sujo: “Só faltam dizer que o dinheiro dos tucanos é da sacristia ou de uma igreja qualquer”.
No segundo momento em que a voz ficou embargada, Lula comentava sobre os vazamentos de suas conversas na investigação da Operação Lava Jato: “Não perdoo atitude de vazamento ilícito de minhas conversas ao telefone como foi feito algum tempo atrás. Não admito aquilo, que tem um objetivo, que é tentar execrar a minha imagem para eu não ser candidato a presidente. Mas eu digo a vocês, quanto mais eles me provocarem, mais eu corro risco de ser candidato a presidente em 2018”.
Emocionado, o ex-presidente encerrou o discurso pedindo respeito por ele e por sua família: “Se eles acham que vão me amedrontar com ameaças, eu quero dizer que quem não morreu de fome até os cinco anos de idade, não tem medo de ameaça”. No fim do discurso, as pessoas aplaudiram e gritaram a Lula “Olê, olê, olá Lula” e “Lula guerreiro do povo brasileiro”.
Na saída do caminhão, já por volta das 21h, Lula foi bastante ovacionado. Muitas pessoas se aglomeraram próximas à grade que as separava do caminhão para tentar fazer uma selfie com Lula. Ele posou para muitas fotos e saiu sem falar com a imprensa. (Agência Brasil)
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