Em audiência pública, o editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, disse aos deputados da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara que é “assustador” que, após a divulgação de tantas mensagens pela chamada “Vazajato”, nenhuma autoridade tenha iniciado alguma ação em relação aos procedimentos de membros da força tarefa da Lava Jato.
Demori participou de audiência pública da comissão nesta terça-feira (10) para a qual o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, também havia sido convidado, mas não compareceu.
Vazajato foi o nome dado pelo Intercept e por outros oito veículos de comunicação a série de reportagens sobre a interceptação de mensagens de celulares trocadas entre procuradores da operação e também com o ex-juiz e hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro. Nas mensagens, são narradas atitudes controversas dos membros da Lava Jato no sentido, por exemplo, de obter as provas necessárias para as suas acusações.
Uma das mais recentes mostra que o vazamento do grampo da conversa do ex-presidente Lula com a ex-presidente Dilma em 2016 fazia parte de um conjunto de outras 21 gravações. A conversa vazada mostrava que Dilma estaria disposta a nomear Lula como ministro assim que ele precisasse.
A conversa foi interpretada como uma tentativa de Lula de escapar da Lava Jato por meio do foro privilegiado. Mas as outras gravações, segundo as mensagens vazadas, fariam referência à relutância de Lula em aceitar o cargo e à sua preocupação com a recuperação da base governista.
Origem criminosa - O ministro Sérgio Moro e os procuradores afirmam não reconhecer a autenticidade das mensagens vazadas e esse foi um dos argumentos usados por Dallagnol para não comparecer à audiência da comissão como convidado. Em ofício, ele disse que respeita o Congresso Nacional, mas que os vazamentos têm origem criminosa e que o seu trabalho tem caráter técnico.
Deputado Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM), vice-líder do Republicanos, criticou a audiência, da qual também não participou. “Nós não podemos discutir aqui, na casa do povo, provas criminosas, hackers que invadiram celulares que não foram ainda periciados”, destacou. Para ele, muitas frases foram tiradas do contexto, o que impediria o debate adequado. “O procurador vem aqui se ater a provas obtidas de maneira irregular, de maneira criminosa? Não tem que discutir isso. Isso é uma vergonha”, completou.
Jornalismo - Leandro Demori lembrou, entretanto, que alguns participantes das conversas já confirmaram trechos das reportagens. O jornalista criticou a ausência na audiência de deputados críticos à Vazajato e disse que cabe ao jornalismo publicar fatos.
Entre as revelações mais importantes da série de reportagens, ele cita o vazamento às vésperas da eleição pelo ex-juiz Sérgio Moro da delação do ex-ministro Antonio Palocci. “O próprio Moro dizia que aquela delação era fraca. O Ministério Público Federal não aceitou a delação do Palocci. E, no entanto, essa delação foi publicizada para a população brasileira às barbas da eleição. Uma eleição a qual o ex-juiz depois se beneficiaria com o cargo público de ministro da Justiça”.
O deputado Bohn Gass (PT-RS) criticou também a atitude da imprensa na cobertura da Lava Jato e citou entrevista feita pelo Intercept com uma ex-assessora de Moro, na qual ela diz que ‘achava estranho que os veículos de comunicação compravam absolutamente tudo o que nós dizíamos’. “Essa expressão: ‘compravam absolutamente tudo’, sem verificar fonte, sem olhar a verdade, sem ver se faz sentido ou não... Isso me preocupa”.
O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão defendeu que não seria crime vazar conversas feitas por celulares cedidos a servidores públicos para o trabalho. Ele explicou que as mensagens podem sim ser usadas para a defesa de pessoas que possam ter sido acusadas de forma irregular pela operação Lava Jato. Alguns deputados afirmaram na audiência que é necessária a criação de uma CPI sobre o conteúdo publicado pelo Intercept. (Sílvia Mugnatto – Agência Câmara)
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