Em um de seus discursos mais longos desde que assumiu a Presidência da República, Michel Temer disse ontem (21), durante a abertura das reuniões do novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que as dificuldades que o país enfrenta vão além da questão do déficit fiscal e passam também por um “déficit da verdade”, que acabou por isolar o governo anterior. Se o país continuasse no ritmo em que estava, disse o presidente, teria de ser “fechado para balanço em 2024”.
Segundo ele, os trabalhos a serem desenvolvidos pelo Conselhão nesta e nas futuras reuniões serão relevantes para reverter esse quadro. “No Brasil que encontramos não havia apenas o déficit fiscal. Havia também, lamento dizê-lo, um certo déficit da verdade. Devo dizer que a gigantesca crise que herdamos é, em parte, produto de tentativas de disfarçar a realidade”, disse o presidente durante a abertura dos trabalhos do Conselhão.
Criado em 2003, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social tem o objetivo de assessorar o presidente da República e os demais órgãos do Poder Executivo na elaboração de políticas públicas, articulando as relações do governo com os setores da sociedade civil representados. A versão atual do grupo teve 67% de seus membros renovados e terá como tema da primeira reunião a retomada do crescimento econômico.
Durante sua fala, Temer apresentou parte da estratégia do seu governo para amenizar os problemas econômicos do país. Segundo ele, neste primeiro momento, o governo está atuando no sentido de combater a recessão para, em um segundo momento, fazer com que o país cresça e, em um terceiro momento, gerar empregos. “Só faremos o Brasil crescer substituindo ilusionismo pela lucidez”, disse.
“Nossa crise é de natureza fiscal. Por muito tempo, o governo gastou mais do que podia. Agora, a realidade bate à porta e cobra seu preço. O déficit era de R$ 170 bilhões, e o da Previdência Social poderá chegar a R$ 140 bilhões. São déficits assustadores que ruíram a confiança dos investidores e dos consumidores. O preço desse descuido das contas públicas não é pago pelo governante que gasta demais. É pago pelo trabalhador que sente os efeitos da irresponsabilidade no emprego e no bolso”, disse o presidente.
Fechar para balanço
Segundo ele, os números encontrados por sua equipe após assumir o governo “simplesmente não fecham”. “Se prosseguíssemos naquele ritmo [adotado durante o governo Dilma Rousseff], em 2024 teríamos de fechar o Brasil para balanço. Evidentemente, a Previdência faz parte desse conserto”, disse ao justificar as movimentações que o governo vem fazendo com o intuito de fazer uma reforma da Previdência.
Temer voltou a afirmar que encontrou o país “imerso em uma das piores crises da história”, e que é necessário “abandonar o isolamento do poder, construir pontes de entendimento e articular consensos”. É com esse cuidado, acrescentou, que o governo tem buscado restabelecer a relação harmônica entre os poderes.
“Estamos implementando uma agenda de produtividade, tratando o setor privado como parceiro. E vamos restituir ao Estado o seu papel regulador”, disse Temer.
Segundo ele, esse papel regulador do Estado terá reflexos positivos no setor privado. “A empresa terá agora escolhas, e não amarras”, disse ao ressaltar que já há índices mostrando que o consumo está começando a aumentar graças à confiança tanto do setor empresarial como dos trabalhadores.
Medidas amargas
Na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão) do governo do presidente Michel Temer, ontem (21), os conselheiros defenderam medidas para a retomada da economia e do crescimento do país.
O empresário do setor de comunicação Nizan Guanaes sugeriu ao presidente Temer que o governo tome as medidas necessárias, mesmo que “impopulares” e “amargas”, e use a publicidade para fazer com que a população entenda a necessidade das mudanças.
“Aproveite já que o governo ainda não tem índices de popularidade alta e faça coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar esse governo para os próximos anos. Tome medidas amargas, esse é o grande desafio das democracias”, disse Guanaes.
Ele defendeu ainda uma reforma trabalhista com leis mais competitivas. “Precisamos de reformas para o país e nós, empresários, precisamos de leis competitivas para nossas empresas. Não temos como competir [no mercado] com essa carga fiscal e essas leis [trabalhistas] defasadas.”
O ex-governador do Rio Grande do Sul e membro do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo, Germano Rigotto, falou em “desafios imensos” para o governo de Temer e defendeu que esse seja o governo das reformas. Ele citou a reforma da Previdência e a tributária. “Sabemos que os desafios serão imensos nos próximos meses. A tarefa será ser, sim, o governo das reformas, e reforma que passa não apenas pela Previdência, pela reforma fiscal e processo de desburocratização.”
A presidente da rede de lojas Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, pediu ao presidente e aos ministros medidas que reduzam a burocracia para simplificar a atividade empresarial e reduzir custos. “Queria colocar um foco muito grande em simplificar o Brasil. Tem empresas que têm 10% de custo. Só através da sociedade é que vamos conseguir fazer essas mudanças.” (Agência Brasil)
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