Yara Aquino
Agência Brasil
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou ontem (2) que criou uma frente de trabalho para visitar o Povoado de Bahias, em Viana (MA), onde indígenas Gamela foram atacados no domingo (30). O grupo será formado por servidores da Funai de Brasília e do Maranhão e, segundo o presidente da fundação, Antônio Costa, deverá produzir um relatório sobre a situação no local para embasar as ações do órgão indigenista.
Os indígenas foram atacados por homens armados com facões e armas de fogo. A região é palco de conflitos agrários. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo menos 13 índios foram feridos.
Costa disse que a Funai irá acompanhar também o inquérito policial que apura o caso. "A partir desta tarde, as providências estão sendo tomadas para que servidores se desloquem para o local para providência de um relatório. Além disso, tem também as providências jurídicas que estão sendo tomadas pela nossa procuradoria-geral para o acompanhamento legal do inquérito junto à delegacia de Viana", disse Costa após comandar reunião na sede da Funai em que o tema foi discutido.
O presidente do órgão indigenista disse que o pedido de solicitação de demarcação de terra dos Gamela só chegou efetivamente à Funai em 2016 e que a instituição não tem pessoal suficiente para analisar os vários processos. "Ele faz parte de um rol de vários processos de solicitação de demarcação de terra e que, devido à quantidade de processos que a Funai tem hoje e a mão de obra escassa que a instituição vem passando nos últimos anos, impossibilita a instituição de poder acompanhar todas essas solicitações", justificou.
Demarcação
Os índios da etnia Gamela reivindicam uma área no Norte do Maranhão que teria sido doada pela Coroa Portuguesa no século 18 e que eles reclamam ter sido ocupada por fazendeiros ao longo dos anos. Os indígenas querem a demarcação das terras.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudiou os ataques e disse que os Gamela já vinham denunciando os planos de fazendeiros para matar lideranças de seu povo.
"Não admitimos mais a morte de nosso povo e iremos até as instâncias internacionais cobrar a responsabilização daqueles que de forma descarada violam e incitam violências contra nossas comunidades confiando na impunidade de seus atos", disse a entidade em nota.
Ataque a aldeia deixa
13 índios feridos
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo menos 13 índios foram feridos, dois deles tiveram as mãos decepadas e cinco foram baleados. Na região, está localizado o Povoado das Bahias, área da etnia Gamela.
Segundo informações do Cimi, os índios feridos foram socorridos no Hospital Socorrão 2, em São Luís. Dois índios foram alvo de tiros de raspão no rosto e já receberam alta. Os demais seguem internados. No caso mais grave, um deles teve uma mão decepada, o joelho cortado e está com uma bala alojada na coluna e outra na costela.
Ainda não há confirmação sobre a autoria do ataque, mas a área é disputada por fazendeiros da região. Após o registro do ataque, a Polícia Militar do estado foi deslocada para a região para intervir no conflito.
Tribunal de Justiça
A Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão informou que destacou uma equipe para investigar o caso e ouvir os indígenas transferidos para São Luís. De acordo com a secretaria, o governo do estado está agindo para garantir a segurança na área.
Esta não é a primeira vez em que os gamelas são alvo de ataque. Nos dois últimos anos, foram registradas duas tentativas de ataques a tiros, mas os suspeitos foram expulsos pelos indígenas.
Em 2016, o Tribunal de Justiça do Maranhão suspendeu a integração de posse da área. O pedido foi solicitado por um empresário da região e aceito pelo juiz local. (Com Colaboradores)
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