Em entrevista à TV Folha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou sobre os desafios que o governo Temer terá que enfrentar em seu governo de transição. Para o tucano, fragmentação partidária e falta de apoio popular são as principais dificuldades no caminho da gestão do PMDB. “Este governo nasceu por decisão do Congresso, de acordo com a Constituição. Temer foi eleito como vice, tem legalidade. Mas não tem apoio [popular]. Não pode descuidar desse ponto de partida, porque o processo de impeachment ainda não acabou. Tem que ser cuidadoso, inclusive nas nomeações. Ele é mais amarrado a essas circunstâncias do que eu era, ou do que [o ex-presidente] Lula”, avalia FHC, “a população não saiu às ruas gritando ‘viva Temer’, ela saiu gritando ‘fora Dilma’”, completa.
Para o tucano, a impressão de que o governo Temer seja mais conservador advém justamente das circunstâncias em que foi estabelecido: por meio do Congresso, que hoje é mais conservador, afirma. “Ele nasceu no Congresso, e o Congresso hoje é mais conservador, porque a sociedade ficou mais conservadora. É importante para o PSDB não entrar nessa. Temos que ser sociais-democratas nas relações entre sociedade, mercado e Estado, e liberais no comportamento, aceitando a diversidade. Mas a sociedade não pensa assim, e tem que dar a batalha nesse sentido”.
FHC argumenta que Temer comanda um governo de transição, que não terá tempo para resolver problemas estruturais como segurança, educação ou saúde. O máximo que a gestão peemedebista poderá fazer, a seu ver, é acenar para a economia, mas ainda assim vai “demorar para colher o fruto”. “Você não pode cobrar deste governo o que ele não pode dar. É um governo de transição. Se ele chegar a 2018 começando a botar em ordem esses pontos, é o que historicamente precisa fazer”.
Apesar de considerar a atual situação do país difícil, para o ex-presidente o time escalado por Temer para comandar os ministérios é formado por “bons operadores políticos”, e destaca que a equipe econômica é “consistente”. “O importante é que o PMDB apresente saídas”, afirma.
Dilma - Para o ex-presidente, a possibilidade de absolvição de Dilma no julgamento do impeachment pelo Senado e seu consequente retorno ao comando do Palácio do Planalto é remota. “A volta de Dilma é remota, mas em política sempre é possível alguma coisa inesperada. Mas é pouco provável. Imagina que aconteça isso, a confusão que não vai ser no Brasil? É maior ainda”, diz FHC. “A sociedade, mesmo que fique um pouco de nariz torcido para o novo governo, não vai aplaudir o antigo. Eu não queria estar na pele da presidente nesse momento”, conclui. (Congresso em Foco)
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