Hemerson Pinto
Um ano e dois meses após a morte de Tiago Costa da Silva, oito anos de idade, os pais do menino mantêm na Justiça ação que tramita na 4ª Vara Cível da Comarca de Imperatriz. O processo de número 109092012 trata sobre ação de indenização por danos morais e materiais.
A criança morreu no dia 28 de maio de 2012, em Teresina-PI, para onde foi transferida de Imperatriz. Segundo os pais, a operadora do plano de saúde dificultou o atendimento.
Desde os dois anos e seis meses a criança era tratada de uma doença neurológica que resultou em quadros de epilepsia. Em 2011 Tiago foi atendido pela Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. A partir do acompanhamento, as frequências de crises epiléticas foram reduzidas, porém, segundo a família, os médicos passaram a diagnosticar “involução do desenvolvimento neuropsicomotor”, ou seja, o quadro de saúde havia se agravado.
No dia 28 de abril de 2012, o paciente deu entrada no Hospital da Unimed em Imperatriz após crise convulsiva. A internação durou cinco dias. Nesse período, Tiago foi atendido pelo neuropediatra que já o acompanhava há cinco anos. O médico solicitou à operadora do plano transferência em caráter de urgência. O caso era grave e o menino necessitava de tratamento que não era oferecido na cidade. A transferência deveria ser via aérea para Goiânia-GO, São Paulo-SP ou Porto Alegre-RS, centros especializados em tratamento cirúrgico para epilepsia.
A família começou a batalha pelo remanejamento do garoto. Em declaração feita à Defensoria Pública do Estado do Maranhão, Núcleo Regional de Imperatriz, o policial militar Arnaldo Pereira da Silva e Sônia Maria Costa da Silva, pais de Tiago, contam que a empresa Unimed atrasou o processo. Entre os argumentos, diz a declaração, “(...) não havia vagas em outras unidades pelo país, que era difícil neuropediatras na rede credenciada, que o pedido de transferência feito pelo médico não era preciso o suficiente, que o menor apenas iria ser consultado em outra localidade, mas que não seria internado”.
Enquanto isso, a criança deu entrada em uma das Unidades de Tratamento Intensivo no Hospital São Rafael, também em Imperatriz. Após ser submetida a uma série de exames, foi transferida para o Hospital Santa Mônica, por onde havia passado dias antes para outros exames. Mais uma vez, ficou na UTI. Dois dias depois, o neuropediatra voltou a solicitar a transferência do paciente para tratamento médico fora do domicílio. Tiago já não falava, nem caminhava.
Transferência - Arnaldo e Sônia recorreram à Defensoria Pública do Estado do Maranhão e ao Poder Judiciário. No dia 18 de maio os pais receberam o comunicado de que a Unimed havia encontrado uma vaga para o menino na capital piauiense, diferente do que foi solicitado pelo neuropediatra. Na declaração à defensoria, a família “resolveu ir, pois ficou receosa de, em não indo, ver a Unimed alegar que conseguira tratamento fora do Estado e que a família é que havia se recusado, escusando-se de toda e qualquer responsabilidade quanto à saúde de Tiago”, diz o documento assinado pelo defensor que atendeu os declarantes.
Outra demora relatada pelos pais da criança foi no preparo da ambulância que retiraria o paciente do hospital e levaria para o aeroporto Renato Cortez Moreira. O avião-UTI decolou de Imperatriz por volta de 21h30, chegando a Teresina às 23h. A família também alegou que no Piauí não receberam assistência prometida pela operadora do plano de saúde. Foram 13 dias no estado vizinho, onde os acompanhantes gastaram em média R$ 500 com hospedagem e alimentação.
Para surpresa da família, um médico “informou que a Unimed Imperatriz havia requisitado pessoalmente apenas um leito de UTI, não tendo esclarecido acerca do quadro da criança ou de que ele precisasse de uma avaliação cirúrgica mais detalhada. Que disse que a Unimed Imperatriz não informou que a criança estava entubada, que não informou acerca da crise convulsiva, que, em verdade, disse que haviam sido “enganados” (...)’.
Justiça - A declaração feita por Arnaldo e Sônia à Defensoria Pública do Estado do Maranhão tem quatro páginas e ainda registra relatos do atendimento dispensado ao garoto no hospital de Teresina. Um dia antes de morrer, Tiago apresentou tosse forte, falta de ar e escurecimento dos lábios, pontas dos dedos e mãos. A própria mãe fez massagens cardíacas em Tiago. Quando acreditou que o filho havia restabelecido, saiu novamente da enfermaria em busca de socorro junto às enfermeiras. Quando retornou com a enfermeira chefe, era tarde. Arnaldo e Sônia contam que não receberam ajuda da operadora do plano de saúde no translado do corpo a Imperatriz nem receberam assistência psicológica no hospital.
Plano – O PROGRESSO ouviu a Unimed. Segundo a advogada Pollyana do Nascimento, o caso de Tiago foi assistido pelo plano de saúde e que assim que a empresa atendeu à solicitação médica para transferência “a Unimed começou a fazer buscas por outras UTIs. Consta no relatório que a gente tem do paciente busca em vários hospitais da rede credenciada e não credenciada de Goiânia, Teresina e Belém-PA. Tão logo a gente achou vaga na UTI pediátrica de Teresina-PI, foi transferido pra lá de UTI móvel aérea”, afirma.
A representante do setor jurídico afirma que a empresa fez o possível para prestar devido atendimento ao paciente, inclusive “autorizando atendimento de utensivista na UTI, e atendimento de vários especialistas, conforme determinam as normas e o plano de saúde dele”. Pollyana explicou que o plano de Tiago não tinha abrangência nacional, “mesmo assim, a gente prestou atendimento e continuamos prestando atendimento. Infelizmente, o quadro dele era um quadro crônico de epilepsia e veio a falecer”, diz a advogada.
Pollyana informou que as buscas por atendimento em UTIs pediátricas fora da cobertura do plano do menino começou logo após a primeira solicitação do médico neuropediatra em Imperatriz. Quanto ao custeio com translado do corpo de Tiago de Teresina a Imperatriz, a advogada esclareceu que o plano não previa esse tipo de atendimento. A empresa também aguarda o desenrolar da discussão que corre judicialmente.
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