São Paulo-SP – Um ex-ministro, um senador, dois prefeitos e dois desembargadores, um delegado de Polícia Civil, uma filial de emissora de TV e um banco estão entre as vítimas das organizações criminosas investigadas pela Polícia Federal (PF) na Operação Durkheim. Os nomes das vítimas e dos investigados não foram divulgados pela PF porque o inquérito está sob segredo de Justiça. Todas as vítimas deverão prestar depoimento à polícia nas próximas semanas.
A operação investiga duas organizações criminosas. Uma delas, composta por vendedores de informações sigilosas e pessoas que tinham acesso a dados sigilosos, tais como funcionários de empresas de telefonia, bancos e servidores públicos. A outra tinha como finalidade remeter dinheiro ao exterior por meio de atividades de câmbio sem autorização do Banco Central.
Segundo Roberto Troncon, superintendente da PF em São Paulo, foram cumpridos ontem 33 mandados de prisão temporária e 87 mandados de busca e apreensão em seis estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Pernambuco e Pará.
“Um grupo era especializado na espionagem ilegal da vida privada e usava reiteradamente a violação de sigilos fiscal, telefônico, bancário e até mesmo consulta de banco de dados criminais protegidos. O segundo grupo era especializado em remessas ilegais de valores ao exterior, os chamados doleiros, que atuavam por meio de [operações] de dólar cabo ou euro cabo”, explicou Troncon.
Na operação, dez policiais foram investigados: três deles eram federais, sendo um aposentado. Também foi identificado o envolvimento de cinco policiais civis e dois policiais militares. “Há a suspeita de que esses grupos devassaram, ilegalmente, o sigilo bancário, fiscal e telefônico de milhares de vítimas. Comprovadamente, 180 vítimas foram alvo desses grupos”, disse Troncon.
Segundo o delegado Julio Cesar Baida Filho, foram pedidos os bloqueios de 20 contas no Brasil em nome de pessoas jurídicas de fachada, além da solicitação da quebra do sigilo dessas contas.
Somente ontem, continuou o delegado, R$ 600 mil e 27 carros de luxo foram apreendidos. “Essas transações causavam estranheza porque não eram pequenas quantias que eram remetidas para o exterior. Eram quantias muito altas, de mais de R$ 1 milhão por semana”, disse Baida Filho.
De acordo com ele, 73 pessoas foram indiciadas até o momento. O delegado informou que a organização pode ter movimentado entre R$ 4 milhões a R$ 5 milhões por mês. Não há recursos públicos. “Esse número ainda está sendo buscado, mas é um número milionário que passa de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões em 2012”, disse Baida Filho.
O vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero, prestou depoimento na manhã de ontem na sede da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo.
Os delegados não confirmaram o envolvimento de Del Nero na operação, limitando-se a dizer que “não diz respeito a futebol”. Também não foi confirmada a informação que o advogado criminalista tenha sido indiciado. “Se ele foi indiciado ou não, essa informação está sob sigilo”, disse o delegado Valdemar Latance Neto.
Por meio de nota publicada no site da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo De Nero disse ter sido surpreendido pela operação policial em casa, na madrugada, em busca de documentos “não relacionados à sua atividade na entidade e de seu escritório de advocacia”. Segundo a nota, Del Nero confirma ter prestado depoimento e diz ter sido liberado logo em seguida. “O teor do depoimento segue em sigilo de justiça”, diz.
Os investigados serão indiciados por divulgação de segredo, corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, violação de sigilo bancário, interceptação telefônica clandestina e formação de quadrilha. (Agência Brasil)
Publicado em Política na Edição Nº 14564
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