Brasília-DF - O empresário goiano Walter Paulo Santiago afirmou, nessa terça-feira (5), aos parlamentares da CPI do Cachoeira que pagou R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo por uma casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Foi neste imóvel, situado em um condomínio de luxo em Goiânia, que a Polícia Federal prendeu o bicheiro Carlos de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, no dia 29 de fevereiro, na operação Monte Carlo.
A informação de Walter Paulo contraria a versão de Perillo, que declarou ter recebido o pagamento em três cheques, os quais, segundo a PF, foram assinados pelo sobrinho de Cachoeira, Leonardo Ramos.
O empresário informou que fez o pagamento em notas de R$ 50 e R$ 100 em “pacotinhos”, mas não esclareceu a origem do dinheiro. Inicialmente, disse lembrar-se apenas que as notas foram trazidas por seu contador, de nome Paulo e que ele poderia explicar. Posteriormente, informou que foi fazendo “retiradas” aos poucos da faculdade da qual é dono, a Padrão, o que provocou suspeita nos parlamentares. Eles estranharam também o fato de o pagamento ter sido feito em dinheiro vivo, e não por meio de qualquer outra transação bancária.
- Até poderia ter feito pelo banco, mas nem pensei nisso na hora – afirmou.
Os deputados e senadores consideraram igualmente intrigante o fato de a compra do imóvel ter sido feita para a Mestra Administração, empresa da qual Walter Paulo se disse administrador, sem, no entanto, nada receber pela função.
– Nunca recebi um centavo pelo trabalho na Mestra. Minha intenção era só ajudar os seus proprietários, como o senhor Écio Antônio Ribeiro, um competente engenheiro que prestou serviços e muito contribuiu para a Padrão. O imóvel era para a empresa negociar e ganhar dinheiro futuramente – afirmou.
Segundo Walter Paulo, o pagamento foi feito na residência dele a Wladimir Garcez, intermediário do negócio, e a Lúcio Fiúza, que se apresentou como assessor de Perillo.
– Nunca estive com o governador para negociar este imóvel. Entreguei o dinheiro a Garcez e a Fiúza. Garcez me apresentou o imóvel em janeiro de 2011 e negociou em nome do governador. O negócio só foi concretizado somente em julho – explicou.
Walter Paulo disse que apesar de efetivada a compra, a casa não lhe foi entregue porque Garcez pediu o imóvel por 45 dias, prazo que se estendeu por mais de seis meses.
– Garcez me pediu a casa para uma amiga dele. Nem procurei saber quem era essa pessoa, que sequer me deu um telefonema de agradecimento. Foi tudo combinado antes, mas ela acabou ficando bem mais. Cheguei a cobrá-lo por isso e ele me pediu mais prazo, até fevereiro deste ano. Garcez não me pediu o imóvel para Cachoeira, mas para uma amiga dele – disse.
Ainda em relação ao imóvel, Walter Paulo disse desconhecer quem pagou o IPTU, só garantiu que o ITBI foi pago pela Mestra Administração. A escritura, segundo ele, foi assinada pelo dono da Mestra, Écio Antônio Ribeiro, o que também causou novos questionamentos de deputados e senadores, que quiseram saber por que Walter Paulo, depois de pagar a casa em dinheiro vivo, não a registrou no próprio nome. – Só queria ajudar a empresa – disse.
Walter Paulo respondeu ainda não saber por que o imóvel foi registrado no município de Trindade e não em Goiânia, onde está a casa. – Nunca fui neste cartório, nem sei onde é. Só queria que a documentação chegasse assinada e direitinho para mim, o que aconteceu – continuou.

Doações

Walter Paulo Santiago negou que tenha feito doações de campanha para o governador Marconi Perillo ou para o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Mas admitiu que certa vez doou R$ 20 mil para um candidato em Goiás, do qual não se lembra o nome. O empresário negou manter qualquer tipo sociedade com Cachoeira e disse apenas ter almoçado com ele por cinco vezes.
Com Perillo, disse que mantinha apenas contatos sociais, tendo sido vizinhos. Eles se encontraram em formaturas na Faculdade Padrão, e o governador esteve presente nos casamentos de dois filhos de Walter Paulo.

Risos

Em alguns momentos, Walter arrancou risadas dos parlamentares, como quando não ter conta bancária, apesar de ser um rico empresário.
- Aliás, tenho conta sim, no Bradesco – corrigiu.
E, apesar de ter se declarado administrador da Mestra Administração e Participações, ele disse não lembrar em qual banco a empresa tem conta bancária e também não sabe quanto era o faturamento da empresa.
No fim de seu depoimento, que durou mais de quatro horas, Walter Paulo autorizou a quebra de seus sigilos bancário, telefônico e fiscal; e, com conselheiro administrativo, também autorizou a quebra dos sigilos da Mestra.