Deputado Hugo Motta, o relator da CPI, deputado Luiz Sergio, e o presidente da Mitsui, Shinji Tsuchiya, durante tomada de depoimento do empresário

A reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, a primeira após o recesso parlamentar, foi marcada por bate-boca entre o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-RJ), e o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Delgado criticou a convocação dos empresários da Samsung e Mitsui, justificando que a medida retira o foco das investigações da Operação Lava Jato. “Critiquei aqui essas convocações, assim como a convocação da advogada [Beatriz] Cata Pretta, isso é desviar o real objetivo das investigações”, disse.

Motta respondeu que todas as convocações foram feitas em conjunto e que ele não tinha poder de interferir nas decisões do colegiado. “Essa presidência age com total transparência e não vai permitir ilações a esse respeito”, rebateu.
Delgado também criticou o sigilo em torno dos resultados das investigações da empresa Kroll, contratada pela CPI para identificar e apurar movimentações financeiras, no exterior, de pessoas investigadas pela Lava Jato. “Fica parecendo que a comissão está usando isso como cortina de fumaça para outros fins”, disse.
No início de julho, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), classificou os arquivos da Kroll como reservados, colocando-os sob sigilo pelo prazo de cinco anos, até 2020, conforme prevê a Lei de Acesso à Informação. “Ele passou por cima da CPI, essas informações são da CPI, não da Presidência da Câmara”, criticou Delgado. “Não vou admitir esse tipo de insinuação”, retrucou Motta.
Em seguida, Motta anunciou que será feita uma reunião do colegiado para debater o caso da Kroll, inclusive a prorrogação do contrato. “Fico feliz em ouvir que vamos abrir a caixa-preta da Kroll”, afirmou o deputado Ivan Valente (Psol-SP), que cobra a divulgação do plano de trabalho da empresa. “Não sabemos nem quem eles estão investigando, e isso é feito com dinheiro público”, acrescentou.
Depoimentos - A reunião de ontem foi convocada para colher o depoimento do presidente da Mitsui, Shinji Tsuchiya. Na mesma reunião, estava previsto o depoimento do presidente da Samsung Heavy Industry no Brasil, J.W.Kim, mas o presidente da CPI disse ter recebido uma comunicação da empresa informando que Kim se aposentou em 2010 e não vive mais no país. O comunicado diz ainda que o atual representante da empresa está na Coreia do Sul e se dispõe a comparecer no colegiado para prestar esclarecimentos.
Os dois empresários não são investigados na Lava Jato, mas as duas empresas foram citadas em depoimento do doleiro Alberto Youssef. As companhias são acusadas de ter pago propina para conseguirem favorecimento em contratos da Petrobras. Youssef disse que o presidente da Câmara e o PMDB eram destinatários de propina paga pelas empresas Samsung e Mitsui, em um contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. O deputado e o partido negam as denúncias.
Em razão dessas denúncias e da acusação do empresário Júlio Camargo, também investigado, de que Cunha recebeu US$ 5 milhões de propina no esquema de desvios da Petrobras, o deputado Ivan Valente protocolou na terça-feira (4) um requerimento solicitando a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e de e-mail de Cunha.
Além do executivo da Mitsui, também vão depor na comissão quatro policiais federais: o agente Sérgio Ramalho Rezende e os delegados José Navas Júnior, Ricardo Hiroshi Ishida e Sérgio de Arruda Costa Macedo.
Acareação - Prevista para amanhã, a acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi cancelada. A defesa de Costa apresentou um atestado médico, acatado pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Ao deferir o pedido, o juiz determinou que Costa só poderá se apresentar à CPI em 15 dias, a partir de 30 de julho.
Após o cancelamento da acareação, Motta informou que marcou para esta quinta-feira o depoimento do delator Milton Pascowitch. Segundo a Polícia Federal, os depoimentos do delator foram essenciais para a prisão do ex-ministro José Dirceu, na 17ª fase da Operação Lava Jato, denominada Pixuleco.
Em acordo de delação premiada, o lobista Milton Pascowitch disse que intermediou o pagamento de propina a Dirceu e ao PT, usados em campanhas eleitorais. Em nota, o PT disse que as doações para campanha eleitoral ocorreram dentro da lei. Publicada no site oficial e assinada pelo presidente nacional do partido, Rui Falcão, a nota afirma que as doações foram feitas por meio de transferência bancária e declaradas à Justiça Eleitoral. O ex-ministro nega a acusação. (Agência Brasil)