Hoje, venho agradecer os 3.241 votos cívicos, que o povo de Imperatriz e região me deu. Para mim, eles tiveram um significado extraordinário, porque foram dados por pessoas que acreditam que política pode ser lugar de gente decente. Pessoas que acreditaram no nosso projeto, reconhecendo e confiando na minha integridade de caráter e no meu compromisso com as pessoas, na busca de soluções para as questões de interesse público.
Agradecer a você que me recebeu em sua casa, que me incentivou a prosseguir na caminhada, pelo estranho mundo da política eleitoral, em busca de um mandato para defender o povo do Maranhão.
Nas minhas caminhadas, me comovi ao ver o sofrimento do povo com a falta de trabalho e emprego, pais de famílias sem ter como alimentar os filhos. Na Baixada, vi gente andando por ruas e praças sem ter o que fazer, jogando dama, dominó e conversa fora. Quando dizia que fui a primeira juíza de determinada cidade, alguns responderam: “não queremos saber o que a senhora foi aqui, dona, queremos é dinheiro para comprar comida”.
Vi pessoas doentes sem acesso a tratamento médico, porque o SUS não oferece. Percebi que ainda existe um elevado índice de hanseníase e tuberculose, doenças já erradicadas no resto do mundo civilizado. Constatei que o SUS está aparelhado para atender preferencialmente usuários que são indicados por políticos, os quais mantêm essa prática como cabresto no eleitor, para se reelegerem indefinidamente.
A coisa funciona mais ou menos assim: a pessoa que se encontra doente procura o Posto de Saúde ou o Hospital do SUS, mas o servidor que a atende diz que, no momento, não há aquele produto ou serviço: consultas, vacinas, exames, tratamento ambulatorial ou com internação. Ou marca a prestação daquele serviço para um prazo muito longo, geralmente de três meses.
Daí a pessoa procura um vereador, ou deputado, ou ex-prefeito, e o serviço aparece, basta o político mandar um recado para o funcionário que o serve lá dentro. O resultado é que aquela pessoa (contribuinte), que recebe o tratamento, passa a se sentir devedora de favor àquele político (intermediador do tratamento), obrigando-se a votar nele. Quase todos os políticos profissionais mantêm um servidor público dentro das unidades de saúde, como cabo eleitoral, pagando-lhes um salário extra.
É a razão de muitos políticos desqualificados e maus-caracteres continuarem a ser eleitos por vários mandatos.
Infelizmente, aquelas pessoas que não conhecem essa malandragem terminam voltando para casa e morrendo por falta de tratamento. Isso acontece diariamente nas unidades de saúde do SUS, ceifando vidas e mantendo o status quo da política.
Nas educação, eu vi ainda mãe chegando na escola do filho para saber se ele estava comparecendo às aulas, e descobrir que aquela criança ou adolescente há meses não aparecia ali. Nesse caso, a escola tentou ligar para a mãe uma ou duas vezes mas, como esta não atendeu ao telefone, ficou por isso mesmo, e o menino perdeu o ano e, talvez, perca a vida nas drogas.
Pensei se não seria o caso de a escola buscar outros meios de entrar em contato com a família, ou até com o Conselho Tutelar, para informar o problema e juntos acharem uma solução para salvar a criança. Pois é, mas a falta de compromisso e de solidariedade não deixa. E o país vai perdendo produtividade, competitividade e ganhando violência e mais crimes.
Vi bairros inteiros cobertos pela poeira ou lama, esgotos a céu aberto, causando doenças e encurtando a vida das pessoas, enquanto o Prefeito pinta meio-fio e faz reforma de araque, só para botar nos prédios públicos a sua logomarca.
Presenciei acidentes com mortes nas estradas esburacadas e sem sinalização do nosso estado, deixando famílias sem seus entes queridos e sem alguém para sustentá-las.
Todos sabemos: a causa de tudo isso é a corrupção, porque também vi que políticos profissionais ficaram muito ricos, alguns fizeram campanha eleitoral de jatinho ou helicóptero, enquanto o povo ficou mais pobre e sem qualidade de vida.
A hora era de mudar essa realidade, de apostar em novas candidaturas de pessoas sérias e comprometidas com a comunidade. Todavia, a mudança foi pequena. Somente alguns dos caciques locais que se achavam os donos do pedaço, ficaram de fora. Oligarquias inteiras foram aposentadas.
Mas a compra de votos ainda venceu as eleições.
Eu estive dentro da arena e fiquei sabendo de muita coisa. De notas de 100, junto com santinhos, saindo pelos vidros escuros dos carros, um pouco abaixados, bem próximo das seções eleitorais. Na noite anterior, lideranças comunitárias andaram pelas ruas distribuindo dinheiro para eleitores. Durante a campanha, muito patrocínio para eventos de todas as áreas, da religião ao esporte.
Fiquei sabendo que candidatos contratam cabos eleitorais e exigem que deem xerox dos títulos como garantia do voto. Cheguei a ser procurada por lideranças que me pediram dinheiro e ofereceram, em garantia de votos, sacos de xerox de títulos, mencionando políticos locais que costumam fazer isso e nunca perdem eleições. Tudo me fazia lembrar dos milhões em Emendas Parlamentares que Michel Temer liberou para não ser processado. Sempre imaginei que aquela dinheirama iria aparecer nas eleições. E apareceu.
Foi lamentável ver que o Sistema de Justiça Eleitoral não se preparou adequadamente para atuar nas eleições e coibir esses abusos.
Pior ainda foi ver Raquel Dodge, a procuradora Geral da República, afirmar que as urnas eletrônicas são invioláveis. Fui juíza eleitoral, ouvi essa cantilena dos técnicos do TSE muitas vezes e nunca acreditei. Como se pode dizer isso de um mecanismo que não pode ser auditado, conferido? Nas eleições de 2004, em que presidi uma Zona Eleitoral em Imperatriz, recebi dezenas de reclamações dos eleitores, de que apertaram o número de um candidato e apareceu a foto de outro, e não pude atendê-las.
Mas valeu a experiência. Até a próxima!
Maria das Graças Carvalho de Souza Magalhães
Advogada, militante social e política
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