A presidenta afastada Dilma Roussef participou, em São Paulo, do ato Mulheres com Dilma em defesa da democracia, organizado pela Frente Brasil Popular SP. Em discurso, Dilma disse que o governo interino é “fruto de um golpe”, porque só revela parte da verdade.

“Eles dizem que o golpe não existe, porque o impeachment está previsto na Constituição. Como sempre, eles só revelam parte da verdade. Sim, o impeachment está previsto na Constituição, mas eles não falam que, para ter impeachment, precisa ter crime de responsabilidade. E não há crime de responsabilidade”, avaliou.“Por isso, [essa é] a primeira constatação que faço sobre esse governo golpista, usurpador, integrado por pessoas que tem muito pouca credencial para ocupar com idoneidade o Palácio do Planalto. Quero me referir ao fato de que é um governo de homens brancos e ricos. É um governo que não tem mulher nem negros em um país como o nosso.”
O evento Mulheres com Dilma em defesa da democracia ocorreu nas instalações da Casa de Portugal, no centro da capital paulista. Desde as 16h, o público já chegava ao local para participar do ato. Por causa da lotação limitada, um telão foi colocado em frente ao prédio, na Avenida Liberdade, para que mais pessoas pudessem acompanhar. Segundo a organização, cerca de 500 pessoas estavam do lado de fora acompanhando.
A presidenta afastada disse ter certeza de que há um “conteúdo machista nesse golpe”. “Temos um estereótipo da mulher que faz com que tenha gente ultraconservadora que defende [por exemplo] o estupro culpando a mulher, como se um ato de violência fosse culpa da vítima”, disse.
“Mulher pode ser presidenta! Não podemos esquecer que mulher pode e deve ser presidenta, mulher pode e deve ser ministra em um país que tem maioria de mulheres. O fato de eu ser a primeira mulher presidenta da República teve um significado no país, que, sabemos, tradicionalmente tem valores paternalistas e conservadores.”
Renúncia - “Vou lutar todos os dias de minha vida. Eu não entrego o jogo. Tenho clareza de quem devo honrar. Quero honrar o povo que me elegeu, homens e mulheres. É minha obrigação por ter tido os votos majoritários: 54 milhões”, acrescentou a presidenta afastada, negando que irá renunciar.
“Quando você está de bem com sua consciência, quando você tem o apoio caloroso do povo, daqueles que você respeita e considera, é uma luta mais fácil. Tenho certeza absoluta de que, como estou sempre com vocês, vocês estarão comigo.”
Educação - A presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, defendeu Dilma e disse que ela é exemplo de luta e resistência. “Estamos diante da maior ofensiva que esse país já teve em termos de democracia. Veja o que fizeram com o Conselho Nacional de Educação (CNE).”
No fim de junho, o presidente interino Michel Temer revogou a nomeação de 12 conselheiros do CNE. Eles foram nomeados por Dilma em maio, para um mandato de quatro anos. Na época da revogação, o presidente do conselho, Gilberto Garcia, informou que essa é a primeira vez que uma nomeação é revogada no conselho.
“[No estado de] São Paulo, temos know-how com governo golpista. Sabemos o que nós enfrentamos. Por essa razão, esta sexta-feira demarca uma resistência com força e luta para que consigamos a volta da presidenta Dilma, eleita democraticamente. Queremos políticas populares. Queremos que continuem programas sociais”, acrescentou Maria Izabel.
Participaram do ato lideranças e representantes de mulheres, entre elas a deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), as deputada estaduais Leci Brandão (PCdoB-RJ) e Ana Furtado (PR-PA), Maria Júlia, da Marcha Mundial de Mulheres, Nádia Campeão, vice-prefeita e secretária municipal da Educação, a cineasta Tata Amaral, Maria Aparecida Costa, Amelinha Teles, da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, a vereadora Juliana Cardoso, Luciana Maria, do Movimento dos Atingidos por Barragens, a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, e Ana Estella Haddad, do projeto São Paulo Carinhosa. (Agência Brasil)