São Luís – Na sessão realizada nessa terça-feira (26), na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD) usou a tribuna e falou sobre as suspeitas de envolvimento com a quadrilha que executou o jornalista e blogueiro Décio Sá.
Durante o pronunciamento, o deputado criticou o secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluísio Mendes, e chegou a chamá-lo de moleque. “Não aceito o que esse moleque travestido de secretário quer fazer comigo, isso é uma falta de respeito”, argumentou Raimundo Cutrim.
“Eu não estou me defendendo porque se defende quem tem alguma coisa a dever. Estou dizendo é que foi uma armação. Eu não aceito que queiram me desmoralizar. Sempre busquei a verdade, a coisa correta”, afirmou.
“Não aceito essa brincadeira. Como é que depois de quase 60 anos vou virar bandido, me respeitem! Eu tenho um nome a zelar. Se esse rapaz tem problema, o Júnior Bolinha, é problema dele. Minhas amizades eu faço com quem eu quiser. Eu não posso é ser conivente com quem quer que seja”, assinalou.
Raimundo Cutrim argumentou que é um homem público que acumula mais de 200 comendas pelos serviços prestados em todo o Brasil, que é um dos delegados que mais trabalhou e dos melhores do País, e exige respeito da imprensa e da população. “Isso é uma falta de respeito comigo, com minha história de vida. Eu sou um homem que não devo nada a ninguém. Eu não posso estar escondido e gente me olhando por detrás como se eu fosse bandido”, desabafou.
Pontos controversos - Na avaliação do deputado, o indiciado Jhonatan de Souza (acusado de executar o jornalista Décio Sá) agiu como um “papagaio ensaiado” ao citar o nome “Cutrim” como um dos mandantes do crime. Ele disse que a maior prova de que tudo não passa de uma armação é o fato de citarem apenas o nome Cutrim, quando ele é conhecido como “Doutor Cutrim”. “Aí o papagaio já foi desensaiado”, criticou o deputado.
Ele explicou que o nome Raimundo Cutrim só foi adotado em razão das eleições, quando ele decidiu seguir o conselho do ex-deputado João Evangelista, que opinou que o nome Raimundo Cutrim soava mais popular. “Eu não conheço uma pessoa no Maranhão que me chame de Raimundo Cutrim. Sou conhecido como Doutor Cutrim, por causa de 11 anos de Secretária [de Segurança Pública]”.
Outro ponto que, segundo o deputado, evidencia a farsa é quando ligam o seu nome ao de Júnior Bolinha e, em seguida, dizem que o capitão Fábio seria quem intermediava as conversas para receber dinheiro e repassar a Júnior Bolinha. “Se eu olhar o capitão Fábio à paisana eu não o conheço. Fui secretário por mais de 10 anos e conheço toda a corporação da Polícia Militar e da Polícia Civil, mas esse capitão eu nunca tive - e se tive eu não me lembro - algum contato nem telefônico e nem pessoal. É um dos poucos que eu não conheço”.
Na tribuna, Cutrim leu o seguinte trecho do relatório: “que perguntado se Júnior Bolinha falou quem seria os mandantes, assim respondeu: comentar diretamente ele não comentou, ele falou por alto que seria o Cutrim e o outro que tinha sido o mesmo que tinha mandado matar o Fábio Brasil, o Gláucio, esse seria um dos mandantes e que teria contratado o serviço pelo capitão, e o capitão tinha repassado ao Júnior Bolinha”.
“Vejam que as coisas foram tão mal feitas, tão nojento e tão vergonhoso que a pessoa joga na parede e fica um negócio sem pé e nem cabeça”, avaliou Raimundo Cutrim.
Sobre a sua ligação com Júnior Bolinha, Cutrim disse que ele lhe prestou um serviço no final do ano passado, porém a relação foi apenas profissional e não de amizade, como está sendo insinuado. “Ele me tratava com postura: era Doutor Cutrim ou Secretário. Ele jamais ousaria me chamar de Raimundo Cutrim ou Cutrim, porque ele não tinha liberdade e nem minha amizade pra isso”.
Sobre as informações veiculadas na mídia de que o secretário de Segurança teria gravações telefônicas incriminando o deputado, Cutrim disse não temer por essas gravações, caso elas existam. “Eu falo o que eu quero no telefone, não tenho nada a temer. Meu telefone eu tenho há muitos anos e falo o que acho que devo falar. Se eu disser que eu não gosto de ti, eu digo é pra ti, não vou mandar recado”.
“Agora porque tu conheces uma pessoa, se ele pratica um crime eu vou ser obrigado a estar conivente com o crime? Espera aí minha gente, aí é uma falta de respeito não só com Cutrim, mas com o Estado do Maranhão”, completou.
Estarrecido - Cutrim disse que assim que soube que o seu nome foi envolvido na morte de Décio Sá entrou em estado de choque. “Isso aqui é um negócio sério, é um negócio estarrecedor”, desabafou. Em seguida, reforçou: “Será que isso está ocorrendo comigo mesmo?”.
Diante dos fatos, ele disse que tomou a iniciativa de encaminhar um ofício ao secretário e à comissão que investiga o caso, para se colocar à inteira disposição da comissão para quaisquer esclarecimentos necessários. Ele disse que abriu mão das prerrogativas constitucionais em função do cargo de deputado para ser ouvido nos autos do inquérito.“Então, vamos fazer uma acareação, vamos fazer o negócio correto, não vai é querer enlamear o nome de uma pessoa de bem. Quem primeiro aqui denunciou contra a agiotagem foi eu, de uma matéria do Décio Sá, chamei aqui para a gente apurar e ninguém assinou. Vamos apurar minha gente”, conclamou.
Raimundo Cutrim pediu que o Ministério Público tem que intervir e fazer acareações com os envolvidos nas denúncias contra ele para esclarecer os fatos. “Estou aberto a tudo. Vamos investigar e vamos esclarecer, porque não tenho nada com isso”.