Por Carlos Gaby
Bom Jesus das Selvas - Braço direito levantado, punho cerrado com energia, socando o ar com leveza e determinação, sorriso aberto, os olhos cintilando de alegria, ela levou o povo ao delírio na modesta quadra de esportes coberta, do outro lado da rua onde fica o prédio da Prefeitura que vai comandar pelos próximos quatro anos.
Cristiane Campos Damião Daher tem 38 anos, é casada e se tornou um furação de popularidade e a esperança do povo da jovem Bom Jesus das Selvas, no Oeste do Maranhão, ao romper uma sequência de vitórias de antigos líderes locais.
Na noite da última terça-feira, 18, ela, o vice Abdala Filho e os onze vereadores eleitos e reeleitos foram diplomados pela Justiça Eleitoral.
Bom Jesus das Selvas tem 18 anos de emancipação, cerca de 30 mil habitantes e 16 mil eleitores. O município, às margens da BR-222, sofre com a ausência de infraestrutura das ruas, a maioria sem asfalto e esgoto, enfrenta problemas com a falta constante de água, tem desafios enormes nas áreas de educação e saúde e luta para melhorar a arrecadação. Vive basicamente do comércio, da prestação de serviços e do dinheiro deixado por operários de empreiteiras que trabalham na melhoria da rodovia e na estrada de ferro Carajás.
Filiada ao PTdoB, eleita em outubro passado liderando uma coligação de 11 partidos com pouco mais de 53% dos votos válidos, derrotando o atual prefeito Luiz Sabry, Cristiane Damião (seu nome político) é um fenômeno de popularidade. Bonita, carismática, voz firme, discurso coerente de veterano, é sucesso entre a gente simples e chama a atenção por onde passa. Nela estão depositadas esperanças de mudança e transformação. E ela sabe dessa responsabilidade.
Em seu discurso, pregou a trégua entre os grupos que duelam na cena política do município. “Sejamos movidos pelo espírito público. O cargo que ocupamos é muito maior que nós mesmos e não há espaço para espetacularizações midiáticas”.
Cristiane sabe dos traumas deixados pela eleição e disse que atuará de maneira para garantir a ordem e o Estado de Direito. “Quando direitos forem violados, quando rompantes ultrapassarem a razão, procurarei por dever de ofício e consciência, seja na capital do estado ou na capital da República, as formas de cessar as arbitrariedades e restabelecer a ordem jurídica”.
Foi direta ao se dirigir “aos detentores de monopólios de serviços públicos”: “A Prefeitura estará vigilante na preservação dos direitos dos mais frágeis, evitando abusos e levando ao conhecimento das autoridades competentes eventuais ilícitos ou irregularidades cometidas”.
Criticou a posição da atual administração em dificultar o acesso às informações contábeis, financeiras e administrativas do Município. “Solicito às autoridades competentes que levem meu apelo ao atual administrador para que franqueie as informações públicas pertinentes à Prefeitura e não mais oponha limitações a esse necessário e legítimo processo de transição”.
“Tenho, diante de mim, o dever da humildade, a consciência da própria pequenez, diante das imensas expectativas que cercam minha missão”, afirmou a prefeita eleita.
“Venceremos os tempos perdidos”, prometeu, acrescentando que vai “tomar uma atitude revolucionária”, porque o atual modelo de administração não funciona no município. “E se não funciona, devemos mudá-lo radicalmente”.
Se Cristiane Damião fizer o mínimo da “revolução” em terra tão carente, pode-se anotar: o carisma e a determinação que deixa transmitir a levarão rapidamente a um destaque que nem ela mesma, no calor da disputa, imaginava ser tão rápido.
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