A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras vai ouvir cinco pessoas nesta segunda-feira (31) em Curitiba, entre eles José Dirceu, ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil. Ao todo, a CPI pretende ouvir 13 pessoas e fazer pelo menos uma acareação até a quinta-feira (5) na capital paranaense. Todos os depoentes estão presos, acusados de envolvimento em irregularidades na Petrobras no contexto da Operação Lava Jato. 

Além de José Dirceu, serão ouvidos na segunda-feira Jorge Zelada, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, e três empresários. Dois são executivos da empreiteira Andrade Gutierrez: Otávio Marques de Azevedo e Elton Negrão de Azevedo. O terceiro é João Antonio Bernardi Filho, representante no Brasil da empresa italiana Saipem.
"Como a logística para que essas pessoas venham a Brasília requer policiamento e aviões, a CPI entendeu que é mais prático ir até o Paraná, como fez da outra vez", disse o relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
Os depoimentos serão tomados no Foro da Seção Judiciária do Paraná, a partir das 9 horas.

Quem são os depoentes:
JOSÉ DIRCEU
O ex-ministro foi preso na 17ª fase da Lava Jato. Condenado no processo do mensalão por corrupção ativa, Dirceu cumpria pena de 7 anos e 11 meses de prisão em regime domiciliar desde novembro do ano passado.
O Ministério Público Federal suspeita que a empresa de consultoria de Dirceu tenha recebido dinheiro das empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras por meio de contratos fictícios, formalizados apenas para justificar pagamento de propinas.
A empresa de consultoria dele, a JD Assessoria e Consultoria, recebeu R$ 29 milhões entre 2006 e 2013. A defesa do ex-ministro sustenta que os pagamentos foram feitos em troca de serviços de consultoria efetivamente realizados.
As informações que levaram Dirceu novamente à prisão foram fornecidas principalmente por Milton Pascowitch, acusado de ser intermediário de pagamento de propina de empresas contratadas pela Petrobras, como a Engevix, a diretores da empresa.
O empresário contou à Polícia Federal que José Dirceu, por meio da empresa JD Consultoria, intermediou a contratação da Engevix pela Petrobras para a construção da unidade de tratamento de gás de Cacimbas, em Linhares (ES), um projeto de R$ 1,4 bilhão.
JORGE ZELADA
Foi o sucessor de Nestor Cerveró, também preso pela Operação Lava Jato, na diretoria da área Internacional da Petrobras. Ele comandou o setor de 2008 a 2012.
Zelada foi acusado de envolvimento em recebimento de propina pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e pelo ex-gerente da área de Serviços Pedro Barusco. De acordo com Barusco, Zelada foi beneficiado na época em que era gerente de obras de Engenharia e Serviços. Barusco não soube informar se Zelada continuou a receber vantagens indevidas no cargo de diretor da área Internacional.
Jorge Zelada foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Segundo a denúncia, os lobistas Hsin Chi Su, também chamado de Nobu Su, e Hamylton Padilha repassaram 31 milhões de dólares em propinas para Zelada, para o ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa e para o PMDB. Conforme a denúncia, o partido era o responsável pela indicação de Zelada para o cargo e beneficiário do dinheiro ilegal do esquema.
OTÁVIO MARQUES
DE AZEVEDO

Presidente da Andrade Gutierrez, Azevedo foi preso na 14ª etapa da Lava Jato. Ele admitiu em depoimento, um mês antes, ter sido procurado por Fernando Antônio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, para que a empreiteira fizesse doações de campanha ao PMDB.
Soares, também preso em Curitiba, era na época representante da empresa italiana Acciona e propôs a ele parcerias em negócios, como ampliação do Canal do Panamá, mas nada foi adiante. Azevedo afirmou em depoimento não ter atendido a nenhum dos pedidos.
O principal executivo da empreiteira negou que a Andrade Gutierrez tenha participado do esquema de cartel em obras da Petrobras. Ele alegou que o fato de a empreiteira, apesar de ser a segunda maior do país, ocupar apenas a 12ª posição na participação de contratos com a estatal é uma prova de que não houve pagamento de propina.
ELTON NEGRÃO
DE AZEVEDO

Executivo da Andrade Gutierrez, foi preso junto com o presidente da empresa na 14ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, a empreiteira pagou propina relativa a seis contratos da Petrobras, com valor total de R$ 4 bilhões.
Paulo Roberto Costa também acusa a Andrade Gutierrez de pagar propina em troca de contratos da Petrobras. Ele disse que quem intermediava os pagamentos era Fernando Soares, o Fernando Baiano.
JOÃO ANTONIO
BERNARDI FILHO

Empresário, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro junto com o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque; com a advogada Christina Maria da Silva Jorge; e com os empresários Antônio Carlos Briganti Bernardi e Júlio Gerin de Almeida Camargo.
Segundo a denúncia, Bernardi, representante da empresa italiana Saipem, controlava a offshore Hayley, com sede no Uruguai e conta bancária na Suíça, usada para a lavagem de dinheiro e o pagamento de propina a Duque.
De acordo com o MPF, Bernardi ofereceu vantagem indevida a Duque em troca do contrato de instalação do gasoduto submarino de interligação dos campos de Lula e Cernambi, localizados na Bacia de Santos, com a Petrobras.
Segundo a denúncia, entre janeiro e agosto de 2011 João Bernardi ofereceu R$ 100 mil a Duque para que a Saipem vencesse a licitação do gasoduto. (Antonio Vital - Agência Câmara)