Delegado Maurício Moscard Grillo foi um dos depoentes dessa quinta-feira na CPI, mas ficou em silêncio

O risco de os grampos ilegais encontrados nas dependências da Polícia Federal em Curitiba (PR) comprometerem as provas obtidas pela Operação Lava Jato foi o principal tema, nessa quinta-feira, da audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que ouviu os depoimentos de três delegados da Polícia Federal envolvidos na apuração do caso.

Os delegados Maurício Moscard Grillo, Rosalvo Ferreira Franco e José Washington Luiz Santos compareceram à audiência amparados por um habeas corpus que lhes garantia o direito de não responder às perguntas - que provocaram discussão e troca de ofensas entre deputados.
Grillo presidiu a investigação interna sobre o grampo achado na cela de Youssef e concluiu que o aparelho era antigo, estava fora de uso e havia sido instalado na época em que a cela era ocupada pelo traficante Fernandinho Beira-mar. Franco é o superintendente da PF no Paraná e Santos é o seu substituto imediato. Grilo e Franco se mantiveram em silêncio durante a audiência e Santos acabou dispensado pela CPI.
Deputados apontaram o risco de o caso dos grampos comprometer toda a Operação Lava Jato durante o depoimento de Grillo, que se recusou a responder às perguntas: "A sindicância que presidi foi anexada a um inquérito que corre em segredo de Justiça e posso esclarecer tudo assim que o sigilo for aberto", disse.

Contestações 

A conclusão do inquérito foi contestada por dois policiais ouvidos pela CPI: o agente Dalmey Fernando Werlang e o delegado Mário Fanton.
Werlang admitiu ter instalado o grampo na cela de Youssef, a pedido de delegados que conduzem a Operação Lava Jato, e alegou que o aparelho de escuta não era o mesmo instalado para gravar conversas de Fernandinho Beira-Mar.
O delegado Fanton fez uma investigação própria sobre o caso e apontou ilegalidades na Operação Lava Jato. Werlang e Fanton chegaram a ser denunciados por calúnia pelo Ministério Público no Paraná, mas a denúncia foi rejeitada pela Justiça.
Grillo foi questionado pelo deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA), autor dos requerimentos de convocação de todos os policiais envolvidos no caso. "O agente Werlang afirmou que o número de série do equipamento encontrado na cela era diferente do que foi instalado no caso do Beira-Mar. Queremos apurar o que acontece na superintendência do Paraná, onde dois grupos estão se digladiando. A quem interessa comprometer a Operação Lava Jato? Essas pessoas serão responsabilizadas, inclusive o senhor", disse o deputado.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também questionou a investigação feita por Grillo: "A sindicância que o senhor presidiu tem um resultado inverossímil. Seu colega disse aqui que aquele equipamento não existia na época do Beira-Mar. Alguém lhe pediu para chegar a essa conclusão? O senhor foi orientado por quem?".

Discussão

O interrogatório provocou troca de insultos e discussão entre parlamentares do PT e o deputado Fernando Francischini (SD-PR) durante a reunião. Francischini, que não é integrante da CPI, questionou a presença do delegado na audiência e as perguntas dirigidas a ele pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
"O Pedro Barusco [ex-gerente da área de Serviços da Petrobras] veio à CPI e disse que começou a roubar na década de 80. A Polícia Federal tomou alguma iniciativa em relação a essa denúncia?", perguntou o relator.
Antes de Grillo responder, Francischini questionou a pergunta e foi interrompido por Luiz Sérgio. "Desse jeito, vou pedir para o deputado Francischini se sentar ao lado do depoente, no lugar do advogado", disse. "Posso me sentar sim", respondeu Francischini, que passou a apontar interesses do PT em comprometer os delegados responsáveis pela Operação Lava Jato.
Foi o suficiente para os deputados Leo de Brito (PT-AC), Valmir Prascidelli (PT-SP) e Maria do Rosário (PT-RS) começarem a discutir com Francischini, acusando-o de "massacrar professores" quando ocupou o cargo de secretário de Segurança do Paraná. Francischini rebateu acusando-os de tentarem prejudicar a imagem da Polícia Federal.
Parlamentares protestaram contra o rumo das investigações da CPI. O deputado João Gualberto (PSDB-BA) criticou o andamento da audiência: "É repugnante ouvir deputados que falam em defesa da PF e que na verdade só querem melar a Lava Jato".
"É lamentável o que estamos vendo aqui. Em vez de ouvir investigados, a CPI está trazendo delegados da PF", acrescentou o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Cinco policiais, entre agentes e delegados da PF, já foram interrogados pela CPI a respeito do caso dos grampos, todos em reuniões secretas. (Antonio Vital - Agência Câmara)